A polícia da Finlândia acredita ter encontrado o ladrão de um carro graças a uma amostra de DNA coletada de um mosquito que estava dentro do veículo.
Segundo a agência de notícias France Presse, o carro foi roubado em junho passado em Lapua, a cerca de 380 km ao norte de Helsinki, e encontrado pouco depois a 25 km de distância, perto de uma estação ferroviária na cidade de Seinaejoki.
Ao examinar o carro, os policias acharam o mosquito e concluíram que ele havia picado alguém pouco antes. O DNA encontrado correspondia a uma amostra registrada nos arquivos da polícia.
Fonte: BBC Brasil
Essas coisas só acontecem comigo, lastimava-se, enquanto se escorava num canto da cela entulhada de gente. O cheiro azedo de vômito dormido do ambiente impregnava até o tutano, sem contar as olhadas sinistras que lhe davam os companheiros indesejados. A história porque Adrovaldo foi parar na cadeia começa longe, do outro lado mundo, na fria Escandinávia. Um incidente de um roubo de carro levou a polícia de lá à descoberta do autor pela análise do sangue no estômago de um pernilongo que se alojara discretamente entre o estofado e que, faminto, resolveu refestelar-se no azarado ladrão. Yes, na Finlândia tem ladrões e mosquitos, embora a polícia passe mais tempo coçando as partes íntimas, pois o país é figurinha carimbada no campeonato mundial de honestidade no ranking da organização Transparency International.
Nosso belo país, como é sabido, naquele campeonato internacional de honestidade, é o equivalente a um time boliviano de terceira de divisão ou um Vasco, se você preferir. Mas as forças públicas de repressão, aos trancos e barrancos, ensaiam combater esta característica, digamos, filogenética do brasileiro médio. Taí a escapulida de alguns voluntários em Santa Catarina que não me deixa mentir.
Um dirigente policial verde-e-amarelo, mais abnegado que o costume, descobriu que a Finlândia desenvolvera uma técnica de extrair DNA do sangue deglutido por muriçocas como forma de identificar criminosos. Imagine se isso não é o sumo da tecnologia, de ter tempo para pensar em coisas inusitadas de uma polícia dessas? Pois bem, nosso policial entrou em contato com este país de características co-irmãs dos brasileiros pensando lá consigo que isso seria a descoberta da roda. Vejam se não tinha razão. O que será que tem em qualquer lugar deste país, provoca verdadeiras orgias de cama, abala regiões inteiras e no verão está sempre protagonizando o noticiário? Sua eminência, o mosquito, ou carapanã, ou muriçoca, inseto díptero da majestosa família dos culicídeos.
Os filandeses prontamente repassaram a técnica à polícia brasileira que em entrevista espetacular, dizia que esta seria mais uma arma no arsenal de combate à bandidagem. Mas nestas coisas tem sempre um advogado do diabo ou um repórter espertinho, um estraga prazeres que gosta de fazer perguntas cabulosas. O brioso policial, perguntado como é que saberia que um mosquito específico teria sugado o sangue de um acusado, se saiu com esta. Antes mesmo do contato com os agentes nórdicos, brasileiros já haviam descoberto, inclusive foram premiados pelo Ignobel, linhagens de mosquitos que tinham preferência por bandidos, no que os transformavam em policiais em miniatura, embora a maioria das espécies, destaque para os Culex, Aedes, Anopheles, sejam iguais a mafiosos da Cosa Nostra, tal o mau caráter deles. Alguns chegavam, descobriram, a vomitar para não entregar seu mal feito e o malfeitor. Enfim, bastava escolher o mosquito com aquelas características e pronto, uma rápida punção e o meliante iria para a cadeia. Inclusive esta técnica, aceleraria processos engaiolando os malandros rapidamente. É tipo DNA paterno, finalizou o empertigado policial, descobriu, acabou-se, é sustentar o bruguelo, acrescentou para diversão dos presentes.
E o acusado preso, delegado? Não há dúvida, o resultado é cem por cento, ele estava no local do crime. Nossa testemunha, o mosquito, não mente, quero dizer, o estômago dele não pode mentir. Obrigado. Saiu.Mas voltemos a Adrovaldo. Ali, preso, teve tempo para especular. E se eu dissesse que apenas peguei carona no carro? A idéia cresceu e ele pediu para falar com o delegado. Doutor, é muito simples, sou inocente. Eu apenas peguei carona no carro, que não sabia ser roubado. Pois bem, quem lhe deu carona. O Cruzanildo. Sim, mas não há sangue dele no mosquito, só o seu. Como é que o senhor explica isso? Ah, seu delegado, desde pequenininho eu tenho o sangue doce.
Texto publicado na Coluna Eudes Alencar - Jornal Pequeno - 28/12/2008