segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

Criação e evolução



Por volta dos 12 anos, eu ainda não tinha feito minha decisão por Jesus. Ia à igreja, que era um peso para mim. Não que não cresse, estava descobrindo mil coisas novas e a igreja, ao que parecia, condenava todas elas sob o rótulo de “coisas do mundo”. Ser cristão ou evangélico, protestante, era igual a NÃO fazer isso nem aquilo. A não ir a praticamente nenhum lugar. Praia estava definitivamente vetada. Era lugar de concupiscência dos olhos, diziam. Esporte também era pecado porque mexia com as emoções e as pessoas tendiam a radicalizar, dizer palavrões e ademais, melhor, segundo Paulo, era dedicar-se às coisas do espírito, pois o esporte para nada aproveita. A coroa ou prêmio ou taça do esporte é corruptível, o crente busca a incorruptível (1 Co 9.25). Quer dizer, para um zumbi, os convertidos estavam muito bem.
Na escola, o que aprendia em biologia, se não ia de encontro da Bíblia, tampouco ajudava, menos ainda quando um professor de escola bíblica dizia que todos os fósseis eram uma mentira inventada pelos inimigos do cristianismo. Protestei, disse que havia provas em todos os lugares do mundo. Os dinossauros existiram mesmo asseverei para espanto dos colegas e do professor que ficou numa sinuca. Como conciliar com o Gênesis que apenas mencionava animais “modernos”? Ele se recusou a aceitar e encerrou a conversa com uma censura velada a mim.

Admitir os dinossauros, para aquele professor, seria negar a Bíblia, ou quem sabe, algo ainda pior, negar Deus. O que tem Deus a ver com os dinossauros? A rigor, nada, e tem tudo a ver. A ciência não sabe responder e está muito longe de fazê-lo, se é que algum dia o fará: de onde veio a matéria? Antes do ponto minúsculo inicial, um nada, o que era? A Bíblia afirma que antes do princípio era Deus e que Ele é Deus que vivifica os mortos e chama à existência as coisas que não existem. (Rm 417) O problema é que os literalistas têm dificuldade no processo porque a linguagem bíblica não é suficientemente clara e nem tinha a pretensão de sê-lo, afinal seu objetivo é contar uma história em que Deus é o protagonista, o homem, coadjuvante, e a terra o cenário.

Tomar a Bíblia ao pé da letra sem dela nada ou pouco conhecer é um perigo e uma insensatez. Do mesmo modo, afirmar a suprema verdade da ciência contra tudo o mais, diante de tantas perguntas sem resposta, é uma temeridade.

Cada macaco no seu galho, mas nem a ciência honesta nega ou agride a Bíblia e nem esta nega aquela. Elas falam de suas áreas de interesse em linguagem que lhes são peculiares, harmonizá-las pode ser uma idéia, mas com muito respeito.

Exploro o tema criacionismo versus evolução não por cisma, mas inspirado na entrevista do pastor Tim Keller, de Nova York, dada à revista Cristianismo Hoje.

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