domingo, 15 de setembro de 2013

As embroma... (ops) Os embargos

De quando em vez expressões estranhas ao nosso português coloquial, ao português taquigráfico 2.0 – vide os nauns, vc, kdê, pq, tb – ou ainda ao português perneta sem os circunflexos e tils dos ditongos crescentes abertos da reforma ortográfica, que se tornam quase memes espalhados como praga sem que se saiba exatamente do que se trata.
Aqui vão dois exemplos.  Alguém que explique por misericórdia dos brasileiros que se encontram embasbacados, primeiro, o espanto com o Donadon deputado-preso-bandido quaaaaase mantido em seu posto pelos coleguinhas; segundo, atordoados por assistir aos mensaleiros escapando da cadeia. E a culpa é de quem? Dos embargos declaratórios e dos embargos infringentes. Este dois facínoras são os reais culpados.
Esta coluna tinha que arrumar alguém que explicasse. Afinal, diabeisso, esta família embargatória que comete estas malandragens em pleno supremo tribunal, aos olhos de todos, e não há quem faça nada? Como é que pode que se imiscuam sorrateiros por debaixo das togas dos venerandos juízes para ardilosamente sussurrarem em seus sacrossantos ouvidos, como se fosse o feitiço “imperius” do Voldemort, a controlar a mente de pobres frágeis criaturas?
Você aí, sendo bombardeado todos os dias com listas de quem votou contra e a favor, com o humor do ministro Celso de Mello (com dois eles) que desempatará a medonha questão. Um suspense do cão, isso é que é. Filme de terror perde. Um diz uma coisa, outro diz outra e a gente no meio tentando adivinhar o que é que esses malucos estão decidindo mesmo? Pois seu aperreio “se acabou-se”!
Retirado do ostracismo empoeirado dos gênios incompreendidos, eis que lhes apresento – devo dizer orgulhosamente, meu camaradinha – Astrobocópico Peçanha da Silva, último moicano vivo das genialidades jurídicas do Brasil. Foi colega do Rui. Que Rui? O Barbosa, minha gente. Ô bruta ignorância! Pois bem, este homem esclarecerá seu apedeutismo jurídico. Ele só me pediu que arranjasse um encontro com a dona Casimira fundadora e presidenta do bloco das Feias como Quê. Enamorou-se.
A seguir, reproduzo ligeira entrevista que fiz com o ilustre sabido jurisconsulto. Meu caro Astro – perdoem a intimidade, mas nome grande a gente só fala para impressionar, na relação comum resume-se – você pode nos explicar do que se trata embargo de declaração e o infringente? São parentes?
Pigarreou, empertigou-se – digo isso para dar maior veracidade ao caso – aham... muito bem, embargo de declaração... vamos por partes como o faria o celerado Jack – sinal da cruz – Deus o tenha. Era gente boa quando não estava de lua. Mas era dado a... você sabe... picotar mulheres da vida. Astro... Astrobocópico! Às vezes preciso tirá-lo do transe. Desculpem. Quase dois séculos nos couros cobram seu pedágio. Voltou. Eu dizia... eu dizia. Não se preocupem leitores, uma hora sai, conhecimento não falta ao homem. Siiimmmm. Embargo de declaração! É empecilhar o feito. Atrapalhar o percurso do processo. Enfiar p... em cordão. Protelar. Atrasar. Pedir que se explique o que já foi muito bem explicadinho. Confessem, leitores e leitoras, é ou não é para um ficar bestificado com um esclarecimento desses?
Já completamente acordado, emendou. Você quis saber se são parentes? Eu disse sim, mas já meio envergonhado de pergunta tão idiota. Pois são aparentados mesmo. Por parte das mães, irmãs entre si, que eram moças – modo de dizer – que faziam pequenos favores por módica quantia aos barqueiros da Rampa Campos Mello (também com dois eles para ficar mais tcham).
Mas falta o mais importante. Aquele que é o verdadeiro Mefistófeles da história. O tal Embargo Infringente. Para explicá-lo, Astro sentiu até calafrio. Eu deveria ter pedido ao Zé do Caixão que está mais acostumado com estas coisas do outro mundo, mas, pensando bem, eu já não sei se Astro está meio lá, meio cá, de modo que ele vai servir assim mesmo.
O pobre homem rangeu os dentes desgastados, coçou-se umas dez vezes e até começou com uns soluços meio agudos, mas estava firme que nem uma pedra. Levaria até o fim sua missão. Embargo infringente, trocando em miúdos, na linguagem do populacho, é um dispositivo que diz que nós somos todos trouxas. Do latim mesocóico pretérito fringir.  Os advogados infringem a lei – é quase um estupro, o juízes fringem que operam o direito.
Que um julgamento, morto e enterrado, volta como zumbi redivivo, quero dizer, redimorto, para desfazer o feito já acabado e rematado tornar-se outra coisa. É como uma reencarnação do lobo na ovelha. Em suma. Levantou o indicador magro e unhudo. Como diz o Bóris. (voz embargada) É uma vergonha! Tenho dito.
E vocês, vão se ater com o Supremo, se quiserem.