De quando em
vez expressões estranhas ao nosso português coloquial, ao português
taquigráfico 2.0 – vide os nauns, vc, kdê, pq, tb – ou ainda ao português
perneta sem os circunflexos e tils dos ditongos crescentes abertos da reforma
ortográfica, que se tornam quase memes espalhados como praga sem que se saiba
exatamente do que se trata.
Aqui vão dois
exemplos. Alguém que explique por
misericórdia dos brasileiros que se encontram embasbacados, primeiro, o espanto
com o Donadon deputado-preso-bandido quaaaaase mantido em seu posto pelos
coleguinhas; segundo, atordoados por assistir aos mensaleiros escapando da
cadeia. E a culpa é de quem? Dos embargos declaratórios e dos embargos
infringentes. Este dois facínoras são os reais culpados.
Esta coluna
tinha que arrumar alguém que explicasse. Afinal, diabeisso, esta família
embargatória que comete estas malandragens em pleno supremo tribunal, aos olhos
de todos, e não há quem faça nada? Como é que pode que se imiscuam sorrateiros
por debaixo das togas dos venerandos juízes para ardilosamente sussurrarem em
seus sacrossantos ouvidos, como se fosse o feitiço “imperius” do Voldemort, a
controlar a mente de pobres frágeis criaturas?
Você aí, sendo
bombardeado todos os dias com listas de quem votou contra e a favor, com o
humor do ministro Celso de Mello (com dois eles) que desempatará a medonha
questão. Um suspense do cão, isso é que é. Filme de terror perde. Um diz uma
coisa, outro diz outra e a gente no meio tentando adivinhar o que é que esses
malucos estão decidindo mesmo? Pois seu aperreio “se acabou-se”!
Retirado do
ostracismo empoeirado dos gênios incompreendidos, eis que lhes apresento – devo
dizer orgulhosamente, meu camaradinha – Astrobocópico Peçanha da Silva, último
moicano vivo das genialidades jurídicas do Brasil. Foi colega do Rui. Que Rui?
O Barbosa, minha gente. Ô bruta ignorância! Pois bem, este homem esclarecerá
seu apedeutismo jurídico. Ele só me pediu que arranjasse um encontro com a dona
Casimira fundadora e presidenta do bloco das Feias como Quê. Enamorou-se.
A seguir,
reproduzo ligeira entrevista que fiz com o ilustre sabido jurisconsulto. Meu
caro Astro – perdoem a intimidade, mas nome grande a gente só fala para
impressionar, na relação comum resume-se – você pode nos explicar do que se
trata embargo de declaração e o infringente? São parentes?
Pigarreou,
empertigou-se – digo isso para dar maior veracidade ao caso – aham... muito
bem, embargo de declaração... vamos por partes como o faria o celerado Jack –
sinal da cruz – Deus o tenha. Era gente boa quando não estava de lua. Mas era
dado a... você sabe... picotar mulheres da vida. Astro... Astrobocópico! Às
vezes preciso tirá-lo do transe. Desculpem. Quase dois séculos nos couros cobram
seu pedágio. Voltou. Eu dizia... eu dizia. Não se preocupem leitores, uma hora
sai, conhecimento não falta ao homem. Siiimmmm. Embargo de declaração! É
empecilhar o feito. Atrapalhar o percurso do processo. Enfiar p... em cordão.
Protelar. Atrasar. Pedir que se explique o que já foi muito bem explicadinho.
Confessem, leitores e leitoras, é ou não é para um ficar bestificado com um
esclarecimento desses?
Já
completamente acordado, emendou. Você quis saber se são parentes? Eu disse sim,
mas já meio envergonhado de pergunta tão idiota. Pois são aparentados mesmo.
Por parte das mães, irmãs entre si, que eram moças – modo de dizer – que faziam
pequenos favores por módica quantia aos barqueiros da Rampa Campos Mello
(também com dois eles para ficar mais tcham).
Mas falta o
mais importante. Aquele que é o verdadeiro Mefistófeles da história. O tal
Embargo Infringente. Para explicá-lo, Astro sentiu até calafrio. Eu deveria ter
pedido ao Zé do Caixão que está mais acostumado com estas coisas do outro
mundo, mas, pensando bem, eu já não sei se Astro está meio lá, meio cá, de modo
que ele vai servir assim mesmo.
O pobre homem
rangeu os dentes desgastados, coçou-se umas dez vezes e até começou com uns
soluços meio agudos, mas estava firme que nem uma pedra. Levaria até o fim sua
missão. Embargo infringente, trocando em miúdos, na linguagem do populacho, é
um dispositivo que diz que nós somos todos trouxas. Do latim mesocóico
pretérito fringir. Os advogados
infringem a lei – é quase um estupro, o juízes fringem que operam o direito.
Que um
julgamento, morto e enterrado, volta como zumbi redivivo, quero dizer,
redimorto, para desfazer o feito já acabado e rematado tornar-se outra coisa. É
como uma reencarnação do lobo na ovelha. Em suma. Levantou o indicador magro e unhudo.
Como diz o Bóris. (voz embargada) É uma vergonha! Tenho dito.
E
vocês, vão se ater com o Supremo, se quiserem.
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