domingo, 23 de junho de 2013

Vão pra rua!

Experimenta dar só vinte centavos para um mendigo. Ele te esculhamba, te chama de mão de vaca, miserável e sei lá mais o quê. Pior ainda é dar vinte centavos para um flanelinha. Um mais exaltado te dá uma facada pelo desaforo. Tem lei federal assegurando esta “profissão”. Me perco se inclui o direito à facada pela baixa remuneração. Eles são tipo muriçoca: existe, é inútil, e só serve para aporrinhar. Coisa de um legislativo oportunista. São uns picaretas.
Praxedes está meio confuso com o povo nas ruas no Brasil, daí o desabafo. Até animou-se a ir para uma passeata. Estava reticente. Antes, foi arrastado por um amigo para uma reunião do comitê do movimento-povo-nas-ruas-mete-medo-no-governo-e-apavora-os-políticos-não-necessariamente-nesta-ordem. Ele até quis saber o porquê do nomão, mas preferiu não perguntar.
Como se sabe, há dois grupos neste movimento. A galera que está para Woodstock e o bando que está mais para Pol Pot e companhia. Um maior que o outro, mas causam o mesmo impacto. Com uma ligeira desproporção. Pra se fazer ouvir, são necessários 100 paz e amor para cada representante dos coquetel molotov.
Mas democracia direta é assim. É um tipo de comunismo, só que sem os porcos. Todo mundo se nivela e todos podem opinar, mesmo que seja um absurdo. Outra diferença é que quem perde está obrigado a seguir a opinião da maioria, enquanto no comunismo os porcos, aliados a alguns humanos, mandam porque, de antemão, já sabem o que você quer e precisa, então fazem um monte de coisas em seu lugar, em seu favor, mesmo que você não queira de jeito nenhum.
O PT pensa assim, só tem uma dificuldade danada de realizar – mas tenta com os da classe Z com uma bolsa-qualquer-coisa por dia –, porque num mundo perfeito, o Brasil seria a Venezuela e a Dilma uma mistura do Lula, o finado Chavez e a patricinha dos anos 20, Cristina Kirchner. A pobre só consegue ser ela mesma e mal. É duro.
Na reunião, um enlouquecido, meio babando, vociferou: Vamo pro pau! Praxedes quase teve um troço. Vamo dar pedrada na cabeça da Dilma! Alguém lembrou ao destrambelhado que estávamos em São Luís e a pedrada era noutra mulher. Uma garota bonitinha se levantou: não estou aqui para dar pedradas, mas reivindicar meus direitos. Quero um Brasil melhor! Emoção. Que lindo, disse uma senhora de 90 anos com uma bandana na cabeça. O pessoal mascarado uivou alguma reprovação, mas se conteve porque, na surdina, já estava com o arsenal preparado em local certo e os boçais colegas todos a postos.
Praxedes se incomodou com a reunião que demorava e disse: vamo logo sair daqui e ocupar as ruas, lá a gente decide o quê que a gente quer. Aplausos. Saíram caminhando e cantando e seguindo a canção. No meio do caminho, uma pedra. Digo, uma tropa de choque. Um blindado com jatos d’água que lhes deu um jorro na cara. Nada deteve o povo que logo achou um motivo. Falta água na cidade. Então, cada qual gritava seu motivo.
Os porcos, os ratos e os políticos profissionais não deram as caras. O Pelé pediu mais torcida pela seleção. O tal Fenômeno (de ganhar dinheiro) pediu mais estádios, quero dizer, arenas. A FIFA ameaçou terminar a copa das confederações na Suíça. Dilma, perplexa, diz que vai se mudar de país. O Papa avisou que a igreja revolucionária quer participar também. Os deputados e senadores em nota disseram que estariam dispostos a dar a cabeça do Renan numa bandeja, desde que continuassem nas mamatas. Bem, eles não disseram isso, assim, explícito. Uma banda dos ricos animou-se a se mudar para o país xodó dos jogos, o Taiti, de canoa. Segundo os cariocas torcedores do time, são só cinco dias remando.
De repente, o mundo se espantou com o Brasil. Perguntaram se as cenas de milhares nas ruas todos os dias não era gente emprestada da Grécia, Turquia, Portugal e Espanha. Que os brasileiros, com aquela alma meio baiana, meio malandra, meio carnavalesca, macunaímica, estavam na praia curtindo pela tevê as presepadas do quebra-quebra. No final da rua, os índios se preparavam para invadir o país inteiro. A proposta: refundar o Brasil, agora sabendo que quando o Cabral chegar, eles estarão preparados para pedir mais que contas e espelhinhos. O Praxedes? Pegou um tiro na testa de uma bala de borracha. Nem falo do spray de pimenta.