Experimenta dar só vinte centavos
para um mendigo. Ele te esculhamba, te chama de mão de vaca, miserável e sei lá
mais o quê. Pior ainda é dar vinte centavos para um flanelinha. Um mais
exaltado te dá uma facada pelo desaforo. Tem lei federal assegurando esta
“profissão”. Me perco se inclui o direito à facada pela baixa remuneração. Eles
são tipo muriçoca: existe, é inútil, e só serve para aporrinhar. Coisa de um
legislativo oportunista. São uns picaretas.
Praxedes está meio confuso com o
povo nas ruas no Brasil, daí o desabafo. Até animou-se a ir para uma passeata.
Estava reticente. Antes, foi arrastado por um amigo para uma reunião do comitê do
movimento-povo-nas-ruas-mete-medo-no-governo-e-apavora-os-políticos-não-necessariamente-nesta-ordem.
Ele até quis saber o porquê do nomão, mas preferiu não perguntar.
Como se sabe, há dois grupos
neste movimento. A galera que está para Woodstock e o bando que está mais para
Pol Pot e companhia. Um maior que o outro, mas causam o mesmo impacto. Com uma
ligeira desproporção. Pra se fazer ouvir, são necessários 100 paz e amor para
cada representante dos coquetel molotov.
Mas democracia direta é assim. É
um tipo de comunismo, só que sem os porcos. Todo mundo se nivela e todos podem
opinar, mesmo que seja um absurdo. Outra diferença é que quem perde está
obrigado a seguir a opinião da maioria, enquanto no comunismo os porcos, aliados
a alguns humanos, mandam porque, de antemão, já sabem o que você quer e precisa,
então fazem um monte de coisas em seu lugar, em seu favor, mesmo que você não
queira de jeito nenhum.
O PT pensa assim, só tem uma
dificuldade danada de realizar – mas tenta com os da classe Z com uma
bolsa-qualquer-coisa por dia –, porque num mundo perfeito, o Brasil seria a
Venezuela e a Dilma uma mistura do Lula, o finado Chavez e a patricinha dos
anos 20, Cristina Kirchner. A pobre só consegue ser ela mesma e mal. É duro.
Na reunião, um enlouquecido, meio
babando, vociferou: Vamo pro pau! Praxedes quase teve um troço. Vamo dar
pedrada na cabeça da Dilma! Alguém lembrou ao destrambelhado que estávamos em São
Luís e a pedrada era noutra mulher. Uma garota bonitinha se levantou: não estou
aqui para dar pedradas, mas reivindicar meus direitos. Quero um Brasil melhor!
Emoção. Que lindo, disse uma senhora de 90 anos com uma bandana na cabeça. O
pessoal mascarado uivou alguma reprovação, mas se conteve porque, na surdina,
já estava com o arsenal preparado em local certo e os boçais colegas todos a
postos.
Praxedes se incomodou com a
reunião que demorava e disse: vamo logo sair daqui e ocupar as ruas, lá a gente
decide o quê que a gente quer. Aplausos. Saíram caminhando e cantando e
seguindo a canção. No meio do caminho, uma pedra. Digo, uma tropa de choque. Um
blindado com jatos d’água que lhes deu um jorro na cara. Nada deteve o povo que
logo achou um motivo. Falta água na cidade. Então, cada qual gritava seu
motivo.
Os porcos, os ratos e os
políticos profissionais não deram as caras. O Pelé pediu mais torcida pela
seleção. O tal Fenômeno (de ganhar dinheiro) pediu mais estádios, quero dizer,
arenas. A FIFA ameaçou terminar a copa das confederações na Suíça. Dilma,
perplexa, diz que vai se mudar de país. O Papa avisou que a igreja
revolucionária quer participar também. Os deputados e senadores em nota
disseram que estariam dispostos a dar a cabeça do Renan numa bandeja, desde que
continuassem nas mamatas. Bem, eles não disseram isso, assim, explícito. Uma
banda dos ricos animou-se a se mudar para o país xodó dos jogos, o Taiti, de canoa.
Segundo os cariocas torcedores do time, são só cinco dias remando.
De
repente, o mundo se espantou com o Brasil. Perguntaram se as cenas de milhares
nas ruas todos os dias não era gente emprestada da Grécia, Turquia, Portugal e
Espanha. Que os brasileiros, com aquela alma meio baiana, meio malandra, meio
carnavalesca, macunaímica, estavam na praia curtindo pela tevê as presepadas do
quebra-quebra. No final da rua, os índios se preparavam para invadir o país
inteiro. A proposta: refundar o Brasil, agora sabendo que quando o Cabral chegar,
eles estarão preparados para pedir mais que contas e espelhinhos. O Praxedes?
Pegou um tiro na testa de uma bala de borracha. Nem falo do spray de pimenta.