A Polícia
Federal tem aproveitado depoimentos de executivos presos durante a Operação
Lava Jato para colher informações sobre três personagens ainda desconhecidos:
"Tigrão", "Eucalipto" e "Melancia".
Fonte: DE BRASÍLIA Folha de São Paulo (21/11/2014)
As notícias se
avolumavam com a enxurrada de dados, contas e cifras que já totalizavam a casa
dos bilhões. Mesmo para um país acostumado à corrupção, como parte de uma
segunda natureza, aquilo sobrepassava qualquer estatística: era uma escala
jamais vista. As relações entre os membros participantes eram cúbicas, não em
linha ou em teia, isso era para mensalões chinfrins, jardins de infância da ladroagem
pública.
Como tudo ali
era superlativo, a deduragem - chamada pomposamente de delação premiada - foi
elevada a outra categoria. Havia até certa dignidade no feito como se, de
repente, os bandidos tivessem sido engolfados por sentimentos de
arrependimento, embora, como era público, era puro medo da quarentena de anos
na prisão. Muitos tomaram a iniciativa de devolver parte do roubado. Não se crê
que fosse tudo, pois ainda precisavam manter certo nível de vida que davam à
família, às amantes, a si mesmos, mal acostumados que ficaram por anos comendo
nos melhores restaurantes, morando nos melhores bairros e condomínios.
Havia certo
atordoamento naqueles que acompanhavam o desenrolar dos fatos que paria
novidades todos os dias. O que estranhava sobremaneira é que havia centenas de
membros, mas o monstro era um bicho sem cabeça. Um fenômeno, sem dúvida. Era
como se fosse uma ameba voraz num nicho ecológico, vivendo no topo da cadeia
alimentar, mas desprovida de um cérebro organizador, atilado, finório, que lhe
desse toda aquela habilidade.
A omertá, tão grave em outros tempos entre
mafiosos de cepa e assemelhados, aqui perdeu completamente a aura. Nisso eles
se comparavam aos reles batedores de carteira que ao menor aperto, desandam a
falar até o que não lhe perguntam. Havia fila para os depoimentos. Desenrolar
as intricadas redes e indústria dos pagamentos não contabilizados, como gosta o
pt, era um aprendizado inacreditável da arte e engenhosidade quando se trata de
roubar o dinheiro público. Tudo era em proporções cornucópicas. Qualquer pé de
chinelo da organização tinha milhões em bancos estrangeiros e, às vezes,
ousadia, nos bancos do país. Os nomes dos membros da hidra cobriam uma lista
que ia de A a Z. Para o juiz e investigadores ficava a desconfiança, mas e os
mandantes? Era uma organização zambaia, aquela? Havia corruptos, corruptores,
mas quem mandava?
Então, três
nomes apareceram. Era estupefaciente pelo inusitado e pelo humor involuntário
que estes nomes produziram. Eis a alma de um país. Como eles não perceberam
antes? Num depoimento, o primeiro bandido a falar hesitou, tamborilou os dedos
nervosos, o juiz pressionou e ele: que se dane. O mandante era o tigrão.
Tigrão???!! Era tudo que ele sabia. Apenas acrescentou: não é o amigo do
ursinho Puff. Um executivo de grande construtora, dois dias depois,
contorceu-se na cadeira de medo. Deixou escapar a frase: “seu eucalipto
mandou”. Eucalipto??? Quem era o Eucalipto? Não sabia dizer.
Um representante de um
partido, apelidado de baiano, mas cujo partido representado agora o excomungava
como a um diabo velho pego em falta, atrapalhou-se e deixou escapar que certo
“melancia” mandava e desmandava em tudo, que dava orientação sobre quanto
arrecadar, onde depositar. Petrificados, embasbacados, juiz e policiais se
perguntavam: havia uma tríade – a maléfica trindade –, era o nome multifacetado
de um ladrão genial? Eis o maior mistério de todos ainda por desvendar.
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