Cientistas
do MIT descobriram que as pequenas vibrações em objetos comuns – como um saco
de batata frita, um copo d’água ou até mesmo uma planta – podem ser
reconstituídas como som. Tudo o que precisamos é de uma câmera e de um
algoritmo.
Fonte: Gizmodo UOL (Sarah Zhang – 05/08/2014)
Político,
bicho matreiro e cheio de sesto, fala com o outro com a mão na boca. Ou enfia a
cara no ouvido do correligionário deixando a boca assim, de viés, para que os
lábios não sejam lidos e denunciem mais uma conversa impublicável. A Globo
inventou a bobagem de decifrar falas, especialmente de jogadores e dos técnicos
da seleção. Um surdo-mudo assiste às gravações, lê o inaudível e a tv coloca a
voz. Às vezes, nem precisa da tradução, você leu o palavrão alto e claro ou a
frase óbvia. Entra pela esquerda! Os caras não entenderam, se fizeram de
surdos... resultado: tomaram de sete a um. Mas isso é coisa bronca, já verão.
Cientistas
descobriram que o som, ao se propagar no ar, produz micrométricas vibrações em
objetos. Uma câmera que capta imagens a altíssimas velocidades grava as
vibrações, um algoritmo as decodifica em som. De fato, a fala, música, qualquer
som, reverberam nas coisas e deixam ali seu dna que, se gravados pela câmera,
podem ser reproduzidos com fidelidade.
Um saco de
batata jogado no chão por algum sem-modos pode denunciar a conversa. Imagine.
Um vulgar saco de batatas agora é um espião infernal. Desde que a câmera
consiga filmá-lo, já era. Cada suspiro, cada letra trocada estará no demonioso
código que o reproduzirá sem erro. E você aí que ainda se precavê de todas as
formas apagando histórico de visitas de sites, deleta conversas no celular, usa
a forma privativa de navegação e não coloca nada além de bobagem naquela página
do face.
Os caras
arrancaram uma música de uma mísera planta anônima num canto qualquer. De certo
modo invisível, mal cuidada, mas está lá reproduzindo como uma papagaia louca
cada palavrinha sua. E tem gente que dizia de pés juntos que planta não falava
e que quem fala com elas é doido de pedra. Aquela samambaia, aquela
comigo-ninguém-pode ali da sala são agentes entreguistas e delatoras contumazes.
Mas antes que você resolva fazer uma poda radical pela raiz das pobres, tem os
outros objetos que também lhe denunciarão. Seu computador. Um copo esquecido na
mesa, cheio ou vazio. Claro que o olho não vê estes tremores mefistofélicos nas
coisas, mas estão lá dedos-duros.
Saramago que
me perdoe: mudemos de Ensaio sobre a cegueira para ensaio sobre a mudez. Mas
falar por Libras está fora de questão. Telepatia. Eis a saída. Não por muito
tempo, um mísero eletroencefalograma já já denunciará sua fala com seus
garranchos mudados em ondas sonoras. Adivinhação, visão remota... que mais?
Acabei minhas opções.
Diz-se que
assuntos importantes não se falam ao celular. Só pessoalmente, Nestor. Diz o
político para aquele doleiro. Onde falamos? Em lugar fechado, não. No
descampado, em frente ao Congresso. Às duas da tarde. Desliga o celular, viu?
Então falam tudo. Ao redor, um monte de capim reverberando o acerto da mesada.
O pé de pata de vaca matraqueando cada número de conta em paraísos fiscais. O
saco de bolacha no chão gritando o favorzinho do avião para as férias da
família.
Não sei se me espanto ou se
me embasbaco. Que mais vão inventar? Conversa agora é no escuro de meter dedo
no olho. Até os caras usarem uma câmera infravermelha. Não se tem mais sossego
nem privacidade. Obama futricando os e-mails da gringada, de meio mundo e da
Dilma parecerá agora coisa de criança. Falar, só num bunker, talvez. Mas é de
se certificar que lá não tem nada além de paredes de três metros de espessura,
você e seu interlocutor. Se bestar eles põem a câmera-olho-de-mordor num
satélite. Aí eu quero ver.
Nenhum comentário:
Postar um comentário