domingo, 19 de abril de 2015

Paraíba masculina



O questionamento sobre a divisão clássica entre vestuário masculino e feminino ganhou as passarelas do mundo. A última temporada de moda internacional misturou de vez os guarda-roupas convencionalmente atribuídos a cada um dos sexos.


Fonte: Folha. Pedro Diniz – enviado especial. (17/04/2015)


Faz tempo que o mundo vem trocando as bolas daquilo que se sabia ser feminino e masculino. A fronteira que mantinha cada qual em seu quadrado foi borrada definitivamente no mundo da moda. Experimentos têm sido testados sob o manto de uma palavra que se tornou fonte quase inesgotável para os, como se dizia antigamente, modistas. Andrógino é a palavra e, dizem, nada tem que ver com a sexualidade da criatura. Chamo assim porque é virtualmente impossível saber o gênero dos adeptos destas vestimentas e adereços. É um tempo de mulheres macho e de homens mulherzinhas.

Gil e Caetano, em algum momento andaram de saias para, como se diz hoje, causar. Era uma fase contestatória qualquer em que suas porções-mulher que por tempos se resguardara, tornou-se, com a saia, a porção melhor que traziam em si e que os fazia viver. Artistas! Mas imagine-se, sim, você aí empedernido homem masculino heterossexual, abrindo o guarda-roupa que costumava ser o lado da companheira, esposa, namorada, caso, escolher um modelito e vesti-lo displicentemente para ir ao trabalho. Desde que não misture peças e adereços de forma caótica – pecado mortal – ou, pior, esteja fora da moda, ninguém vai se importar e em nome do infernal politicamente correto, ninguém falará nada ou, ousadia das ousadias, fará qualquer piadinha sobre sua pretensa duvidosa masculinidade. Mas rirão se misturar a calça leg com uma bota coturno. Imperdoável! É que acham nisso algum tipo de contrassenso da lógica lá deles.

Em inglês, se usa a expressão get mixed up que dá no mesmo do termo em português misturar as bolas: confundir-se, atrapalhar-se, misturar alhos com bugalhos. Só que no campo fashion é proposital. É de se lembrar a filha do McCartney – ele mesmo, o cara dos Beatles – que afirma querer desmantelar o conceito de feminilidade convencional e, suponho, da masculinidade junto. Escapa-me o que quer dizer a moça. Ignorância minha, claro. E que mais dá? Fora os jogadores brasileiros que já sabem bem toda a parafernália depilatória, designs de sobrancelhas e nem desconfio mais o quê, as ruas brutas ainda resistem bravamente a estas marmotas do mundo fashion que apelidam a mistureba de roupas de boyish.

Lembro que tentaram chamar os ditos homens, tais quais os jogadores de hoje, de metrossexuais. Diz-se que eram aqueles que adotavam cuidados reservados, outrora, exclusivamente do mundo feminino. Mas já estes estão ultrapassados e out. Alguém aí sabe no que eles se transformaram ou foram reciclados? Veja-se que nem se trata mais desta quizília da sexualidade, mas algo que a supera. Até suspeito que este escangalho acabe com aqueles grupos autodenominados por sopa de letras. Glbtxyz...

Mix de gêneros, mistura de closets são fórmulas que expressam bem esse nem lá dentro, nem lá fora das calças e saias. Claro que sempre se há de separar escoceses e alguns grupos orientais em que homens vestem coisas similares às saias e nada tem que ver com nossa realidade ocidental judaico cristã. O que ninguém explica muito bem é para que serve a gente perder o referencial de quem é quem. Prefiro as feministas queimando calcinhas e sutiãs e depois caindo na esbórnia de um Woodstock. Será que é porque o povo anda meio entediado? Seria aborrecimento pelo óbvio do que, como dizia o célebre filósofo Falcão: homem é homem. Menino é menino. Político é político e baitola é baitola?

Já veremos as lojas de roupas divididas em seções de mesa e banho e roupas mix? Simplificaria, né? A adotar-se o que chamam de tendência – oriente-se, isso é mais que modismo, dizem – será que vai chegar a hora em que se abolirá a indefectível pergunta em cadastros: M ( )  F ( )? Sim, porque, pelo andar da carruagem, esta história de gênero vai ser enterrada. Que importa o gênero que você nasceu? Do mesmo modo, os pronomes de tratamento que desde nossos pais paleolíticos serviam para um se colocar ou saber com quem falava, não farão qualquer sentido. Os pronomes do caso reto vão continuar, por suposto, mas haverá completa liberdade em trocá-los ao bel prazer de quem fala sem que se incorra num erro boçal do vernáculo, menos ainda com quem se fala. 
De repente, me vem à memória outro ser muitíssimo além deste tempo de repetições e cópias. Carregado por seus mais de 80 anos e cansado do peso da peruca enlouquecida e litros de silicone posto nos lábios, Sergei, um brasileiro, já clamava, vestido na camiseta em que afirma ter comido a Janis Joplin, antes até de seu ato libidinoso diverso da conjunção carnal com uma árvore, que ele não é nem masculino nem feminino, é pansexual. Haja lsd!

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