Como se
explica o sucesso do Facebook, a mais icônica das redes sociais, e as demais
congêneres? As pessoas adoram se comunicar. Gostam de falar, de ouvir
histórias. Não importa o meio que medeia a comunicação humana, falar com outra
pessoa é algo que fascina e atrai.
A comunicação
pode ser feita em rede, em que alguém pode se gabar de ter “um milhão de
amigos” ou tête-à-tête; conversar é a forma mais
eloquente de demonstrar nossa humanidade. Quanto mais falamos uns com os outros,
mais humanizados nos tornamos. Assim que, quase toda estratégia, quer se torne
um negócio ou não e explore formas de contato, está, quase sempre, fadada ao
sucesso.
O que torna comunicar-se algo tão incrível e,
às vezes, desafiador, é nossa habilidade com a fala. Pesquisa recente
demonstrou que ambos hemisférios do cérebro participam do processo. A linguagem
é fruto das representações perceptuais, de uma interface sensório-motora e da
produção de representações. É mágico! Pois não se trata só de produzir sons,
mas a eles conferir significados. Daí porque a carta da filha ou da irmã da
Mariana nos toca a todos e nos leva a visitar emoções e a produzir um senso de
identificação.
Cuidado, porém. Nossa percepção é cheia de
meandros e armadilhas. Nossa limitação na apreensão de informações pelos
sentidos pode criar interpretações (representações do real) equivocadas e gerar
distorções cognitivas que parecerão verdades e, por isso, fundamentarão
conclusões (falas) erradas. Os ruídos na comunicação nascem porque damos pouca
importância à percepção do outro. O que ele/ela quis mesmo dizer? Que
bloqueios, defesas, resistências estão em mim que tornam minha audição
seletiva, meu olhar viciado?
A despeito disso, ter com quem conversar é
ainda a maior aventura que alguém pode viver. Pois, imagine, você vivencia algo
fascinante, mas não tem com quem dividir e compartilhar. Digo, alguém que lhe
ouça de verdade, não aquele que quer apenas a chance de se contrapor com algo
ainda mais maravilhoso porque, no fundo, ele compete com você.
O narcisismo epidêmico torna a conversa com o
outro uma mera desculpa para ser protagonista de tolas realizações que o
narciso de plantão considera excepcional e, quase sempre, é, se muito, pouco
mais que medíocre. O mundo de competição desvairada torna o outro simples
desculpa, não alguém por quem se tem verdadeiro interesse.
Isso talvez explique o sucesso de um ator
americano desempregado. Ele se tornou people
walker. Por uma milha, pouco mais de um quilômetro e meio, ele cobra sete
dólares. Sim, você percebeu bem, é o espelho reflexo do dog walker. Com uma diferença fundamental: não precisa coleira, nem
esperar seu amigo se aliviar em um poste. O autor da ideia diz que não é sobre
caminhar, é sobre conversar. Bingo! Ele tem fila de espera e a ideia já começa
a se espalhar por outros países. Celulares e computadores com suas cornucópicas
possibilidades de comunicação são meios fantásticos, mas nada supera a voz sem
intermediários, o olhar no outro, a captura de todas as sutilezas no tom da
voz, dos micro movimentos faciais.
As pessoas anseiam por conversar de verdade.
Isso significa ser ouvido e falar e nisso se produzir uma espécie de
autenticação de nós. Eu ousaria dizer que os fracassos nas relações estão nos
vazios de voz, no silêncio punitivo, na gritaria generalizada em que ninguém
ouve mais ninguém, na falta de pausa para ouvir, na educada espera surda para
dizer apenas o que se quer dizer sem o mínimo de trabalho de compreensão do
outro.
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