domingo, 18 de setembro de 2011

Cartas perdidas


Por conta do aumento da taxa de divórcios no país, as autoridades postais chinesas criaram um serviço no qual as cartas de amor são entregues apenas sete anos depois de enviadas. O objetivo do serviço é fazer com que o parceiro receba a correspondência em um momento em que a relação esfriou e possa reacender novamente o amor.

Fonte: Do G1, em São Paulo (14/09/2011)

        Algumas coisas, embora pareçam simples, exigem extrema organização e planejamento. Funcionarão em alguns lugares, em outros, como o Brasil, país que tem uma queda pelo improviso, será no mínimo, avacalhada. Basta ligeira investigação histórica e já nos damos conta que nossa descoberta foi farsante, o grito de independência foi entre a capital e a casa da amante do gritador. O império era meia boca, a proclamação da República foi um convescote do atraso. E o que falar da política nacional? E, aqui entre nós, alguém acredita que o país estará pronto para a Copa de 2014?
        Calma, não desanco nossa briosa nação por não ter o que fazer, constato fatos. Os Correios estavam em crise. A inspiração veio da China. País que tem gente como formigas e com a mesma determinação soldadesca. Logo, se dizem que entregam uma carta a uma pessoa sete anos depois, eles entregam.
A ideia é simples e bem intencionada. Aparentemente, todos os casais vivem a síndrome dos sete anos. O Estado chinês, preocupado com o aumento dos divórcios, decidiu que os correios vermelho daria uma forcinha. O casal escreveria uma carta endereçada ao seu respectivo cônjuge, logo que casassem, mas só seria entregue sete anos depois! Por que estava preocupado o formigueiro chinês? Eles tem a regra de filho único por casal, mas com o crescimento econômico, começa a faltar braço, quero dizer, mão-de-obra. Se as pessoas se separam, como é que vai ficar?
Depois da greve dos correios brasileira, resolveu-se fazer uma promoção. Sei lá, mostrar que os correios participam da vida das pessoas. Um olhar saudosista para um passado em que as pessoas sabiam escrever e se escreviam. Nada de “naum”, “bj”, “vc”, etc. O princípio era o mesmo, com um detalhe, os correios brasileiros não estavam interessados em salvar o casamento de ninguém.
Surpresa. Uma enxurrada de cartas chegou aos correios pelo serviço da entrega em sete anos. Onde armazená-las? E se a pessoa mudasse de endereço? Que dispositivo seria usado para alertar que uma carta específica havia chegado ao prazo e deveria ser entregue? Ninguém havia pensado nestes aborrecidos detalhes. Sem plano, o resultado foi mais ou menos este:
Você não acredita em mim? Interpelou a mulher. Eram recém-casados. O homem, atônito, não sabia responder. Ela jogou a carta em sua cara. É assim? Nem bem casamos e você já pede para enviarem a carta? Mas eu... Nada. Soluços. Está tudo acabado, não posso ficar com quem não confia em mim. Você acha que sou uma tresloucada que precisa ser lembrada de meu compromisso. Mas eu não disse isso. A cara do homem era de desolação.
Quem é este cara? Como assim? Quedou-se assustada a mulher. Este cara da pintinha no rosto? Não sei. Ela procurava desesperadamente alguém conhecido com uma pintinha no rosto. É amigo do trabalho? Não. Não sabe? Que conversa é essa de “nosso amor será eterno”? O correio entregou a carta no endereço errado,  mas aí, o estrago já estava feito.
Meu amor, disse a mulher toda dengosa, chegou uma carta para você. havia passado quase sete anos e, incrível, a carta foi pontual. E eu lá recebo carta. Recebo email. Torpedo. Só pode ser cobrança. Não é não. Duvido. Deixa eu ver. Abriu a carta, leu a primeira frase. “Daqui a sete anos, quando você receber esta carta, saiba que meu amor continuará igual como hoje...” Não disse que era cobrança?
A mulher verificava a caixa postal todos os dias. O homem desconfiou. Deve estar me traindo, pensou. O que faz esta mulher esperando o carteiro todos os dias? Espera algo que não quer que eu saiba, especulou lá com seus botões. Valha-me, me trai com o carteiro. Nunca gostei dele, este farsante. Contratou um detetive. Instalou câmera.
A mulher continuava esperando o carteiro, trocavam poucas palavras. Ele balançava a cabeça em negativa, ela entrava. Ela assedia o carteiro, concluiu. Ela esperava a carta do marido escrita sete anos antes. De manhã, ele bebeu o último gole de café e disse: vou me divorciar. Ela ficou muda. Eu sei de tudo sobre você e o carteiro, arrematou ele.  

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