Se me perguntassem pelo que eu esperava exatamente ao assistir o filme Black Swan (Cisne Negro) eu não saberia dizer. Nenhum dos inúmeros comentários que vi – a maioria li tão somente o título – teria me preparado suficientemente, exceto se contassem a história toda.
O filme é uma obra prima. A atriz principal, Natalie Portman, está soberba. Mesmo que não ganhe o Oscar – o que seria uma brutal injustiça – dificilmente alguém conseguirá realizar atuação igual, tal o nível ao qual ela a elevou. Pelo lado técnico, talvez um único senão, a câmera nervosa incomoda. Mas o efeito é este mesmo, causar desconforto. Uma pessoa mais sensível poderá sentir náusea. É como se fosse um test drive para a montanha russa de emoções a que o espectador será submetido, e aí sem câmera, apenas as dores expostas da personagem.
Dos comentários registrados nos jornais, um é um desastre inacreditável. Reduzir a história e tudo que ali está em jogo, a uma relação lésbica. Fato que foi super dimensionado e empobrece sobremaneira o filme, que não precisa deste tipo de propaganda para ser visto.
A angústia que devora a personagem em sua busca desesperada pela perfeição é visceral e não há como ficar alheio a ela. Ela saberá, ao longo de sua trajetória, onde se chega quando um humano aspira ser perfeito ou realizar a perfeição no que seja. Se muito, podemos aspirar apenas um número menor de imperfeições, trabalho para uma vida inteira. Peso excessivo, mesmo para alguém de grande talento.
Outra questão, mas esta a personagem não tem consciência, até boa parte do filme, é que a superproteção a que foi submetida pela mãe não só a infantilizou, tirou dela quase toda a malícia e sexualidade, como se estivesse estacionada em alguma fase pré-genital, diria Freud, suponho. Ela sofre com isso, mas como libertar-se, com uma mãe onipresente que a ama e odeia? É possível que a busca pela perfeição não seja dela, mas uma resposta ao ideal do outro (a mãe) que ela mesma não sabe o limite.
Encenar, dançar o cisne negro, ela que sempre foi casta, pura e boa. Onde buscar a maldade, a manha, o desbragamento que é parte de nós, mas que uma menina boa não tem? Quer dizer, assim afirma sua mãe obsessiva e opressora. Até que numa de suas alucinações rejeita esta proteção doentia e ouve: você não é mais minha doce menina.
A desconstrução da menina boa é dolorosa e enfrenta tamanha resistência consciente que é preciso alucinar para mudar.
Poucos trillers psicológicos superarão este, em anos.
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