Um homem na cidade de York, noroeste
da Inglaterra, recebeu uma ordem judicial que determina que ele precisa avisar
à polícia com 24 horas de antecedência quando quiser ter relações sexuais.
Fonte: BBC (25/01/2016)
Todo mundo tem seus dias de
inferno astral, eu estou morando num, uma cobertura com vista para o lago de
fogo e enxofre. Não fosse aquela louca feminista, rata chauvinista, eu não
estaria nesta encrenca. Levar o sexo consentido ao limite de ter que se
perguntar por cada ação realizada – não vou tecer detalhes, vocês que imaginem em
suas mentes pervertidas – é o máximo do ridículo que o politicamente correto
pode impor à vida das pessoas. Mas foi isso, apenas isso. A certa altura, fiz
algo que no calor da refrega ninguém lembra de perguntar. Coisinha de somenos,
nada nem parecido com ato diverso da conjunção carnal ou uma felação no olho. Pois
deu um escândalo. Subiu nas tamancas. Como é que eu ia saber que aquela era
dessas xiitas dos direitos femininos? Não estava escrito na testa.
Embora tenha sido absolvido de
coisa pior, recebi uma OPRS. Traduzo aos leigos: ordem provisória de risco
sexual. O que significa? Ao pé da letra, nada. Mas quer dizer que devo informar
ao juiz toda vez que eu planejar ter sexo. E devo informar com 24 horas de
antecedência. Que preciso informar o nome da mulher, endereço, telefone, cpf,
identidade e, eles frisaram, data de nascimento, mas já estará num destes
documentos, pois não?
Vejam vocês a que ponto do
ridículo chegamos! Se pintar uma possibilidade de afogar o ganso devo indagar
tudo isso da dita fulana. Imagine a cara de espanto dela porque é óbvio que vai
perguntar por que diabos eu quero saber estas informações. Vai pensar que quero
dar um golpe financeiro, ou ainda pior, roubar sua identidade como se tivesse
um fetiche e quisesse me trans qualquer coisa.
Perceberam o prazo? E se aparecer
uma transa fortuita, ocasional? Uma destas antigas namoradas pode dar o ar da
graça e bater aquela saudade. E se nós quisermos conferir antigas
brincadeirinhas? Olha lá o que vocês estão pensando... é a segunda vez que me
preocupo com isso. Acho que estou ficando paranoico. A coisa pegando fogo e eu:
você topa adiar este momento para daqui a 24 horas? Diante da cara perplexa: é
que tenho que avisar ao juiz. E se não avisar, pego cinco anos de cana. Preso,
pelo menos não terei mais que me preocupar com essa loucura.
Ah, vocês pensam que isso é
bastante para a justiça? A OPRS avança até numa possível escapadela virtual. A
internet tem milhares de mulheres vendendo sexo, pois imaginem que eu queira aliviar
a situação por este meio. Também estou sujeito às regras draconianas. Tenho que
avisar o site, a bunda que vi, seu endereço virtual, etc e tal. Celular a mesma
coisa. Se eu tiver uma conferência mais picante com alguém, também devo avisar.
Eles querem checar com a pobre mulher se eu fiz algo bizarro ou disse, né? pois
fazer, convenhamos, por pior que seja, no máximo causaria engulhos nela.
Todo esse calvário apenas porque
não perguntei se era hora de colocar aquilo naquilo. Pareceu à louca um estupro
ou algo pior. Estou no limbo. Não tenho uma condenação, aguardo julgamento, vivo
sob essa ordem que escarafuncha até meus pensamentos mais secretos. Um olhar
errado e vou direto para a cadeia. Um assobio para uma mulher na rua e me
enquadram.
Se for absolvido levarei a marca
do medo. O que devo fazer e como numa relação que não afete os melindres da
pessoa com quem estiver? Quer dizer, devo adivinhar? Tenho que fazer uma
anamnese, uma entrevista? E se a pessoa esconder algo por pudor, mas que no
meio do rala e rola, baixadas as censuras, ela se lembre que isso, para ela, é
um tabu, um interdito? E se eu comprar uma boneca inflável?
Posso
escolher que, livre, terei sexo só comigo mesmo. Mas se eu tiver algo escondido,
um limite qualquer e eu fizer algo comigo mesmo que não goste? E se meu eu
interior se revelar sensível e excessivamente pudico com certas práticas e me denunciar
de mim mesmo? Acho que tentarei o suicídio...
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