A Polícia
Civil de São Caetano, no Agreste de
Pernambuco, deparou-se com uma história no mínimo inusitada nesta quinta-feira
(28). Dois homens foram detidos em um posto de gasolina na BR-232, após a
denúncia de que eles teriam furtado um bode. Ao chegar ao posto, os policiais
encontraram o animal e prenderam os suspeitos.
O dono do
bode informou à polícia que os bandidos teriam abandonado um veículo em uma
estrada. No local, foi encontrado o carro que teria sido roubado de um feirante
momentos antes, na BR-232, em Caruaru,
também no Agreste.
Fonte: Do G1 Caruaru (29/11/2013)
De acordo com
pedido de V. Sa. passo a relatar o inusitado acontecido. É fato que os
meliantes capturados fizeram verdadeiro rendez-vous
em nossa comarca e adjacências ao roubar carro de pequeno proprietário com o
fito de cometer suas ilegalidades movidos tão somente pelo espírito de porcagem
de que são praticantes rematados.
Nessa
desabalada carreira de marginalidade roubaram, intimidaram, bateram em gente e
distribuíram medo e susto entre os pacatos moradores de mais de quatro cidades
do sertão, semelhantemente aos bandoleiros que infestaram esta região em eras
distantes e de tão triste memória.
Devo dizer
que, quanto a sua pergunta sobre contratação de auxiliares, seja de que marca
for, não é verdadeira. Tampouco temos praticado qualquer nepotismo conforme
chegou aos ouvidos de vossa veneranda chefia. Clarimundo de fato, é meu, por
bem dizer, afilhado, protegido, como se diz. Permita-me dizer que é pessoa de
absoluta confiança e de esperteza acima da média e capaz de proezas dignas das
maiores inteligências.
Digo pessoa,
não é por desmerecer as pessoas propriamente ditas, visto que Clarimundo, por
demais conhecido por estas redondezas, é um bode, pai de chiqueiro dos mais
afamados e com a peculiar capacidade de um instinto policial de fazer inveja
aos mais preparados detetives da capital. Não me tome por desrespeitoso com V.
Sa., mas no caso aqui referido o ás da captura foi o bode Clarimundo que se fez
de sonso e disfarçado de bode comum, deixou-se capturar para que, ao abordar os
vadios, a identificação, sem sombra de dúvida, fosse feita apenas por que o
bode estava lá, assim não havia como os ladravazes inventarem mentiras e se
passarem por cidadãos de bem.
Desculpe se
tudo parece estranho. Quase não acreditei na ardilosidade de Clarimundo. Eu
mesmo não teria pensado nisso, ainda mais correndo o perigo que correu, pois a
mercê dos marginais poderia sofrer alguma lesão fatal. Mas qual, revestido de
coragem sobrehumana deixou-se ficar ali, quase se fazendo de facínora também
tão somente para na hora exata dar o bote que nem uma sucuriju esfaimada.
Em todo o
tempo, Clarimundo manteve a discrição e frieza que só se encontram em policiais
excepcionais. Não deu um berro. Os bandidos pensavam que, ao final da
destrambelhada ação, comeriam um bom churrasco de bode, mas era o bode quem os
comia disfarçadamente.
Enquanto isso,
eu e meus companheiros empreendemos caçada por todos os recantos da região sem
detença. Por onde passávamos as pistas, como migalhas que iam sendo deixadas
pelo bode, eram recolhidas no modo de informação, visto que o bode, quero
dizer, Clarimundo, era reconhecido e assim se determinava o destino dos patifes
que pretendiam, se bem entendi, colocar a região inteira numa rota de assaltos
e malfeitos de toda sorte.
Por fim, como
soubessem que estávamos em seu encalço, resolveram despistar de toda maneira,
mas não deu, isto porque Clarimundo ali, funcionava quase como um tipo de
rastreador de satélite. Então, parados para uma necessidade qualquer num posto
de gasolina, chegamos sorrateiros. Na carroceria, olhando displicentemente e
numa postura muito profissional, encontramos Clarimundo que sinalizou com um bonito
balido e o resto foi só dar ordem de prisão aos malandros que, boquiabertos, só
então foram entender que o bode era sua desgraça.
Esclareço
por último que Clarimundo agora serve regularmente na delegacia, pelo que lhe
comunico e ao mesmo tempo peço permissão para arregimentá-lo formalmente como
manda as regras de nossa briosa organização. Finalizo dizendo que não haverá
aumento de gastos, exceto para os passeios do bode num curralzinho aqui perto
onde residem umas meninas de sua mesma raça e preferência. Sem mais, às suas
ordens este seu criado.
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