terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

Somos baleias e golfinhos


A cada vez que me deparo com a notícia, fico cá pensando com meus botões sobre os motivos envolvidos nestas insistentes e, muitas vezes, catastróficas, perda de sentido de direção em baleias, golfinhos e afins. Desmantelado este sentido primordial para sua sobrevivência, vêm dar em praias e ali, quais bêbados, afogam-se pelo peso do próprio corpo quando baixa a maré. Logo eles que tem este sentido tão apurado pela capacidade fantástica de utilização de um sonar que lhes permitem se comunicarem uns com os outros de sua espécie, caçarem e navegar pelo vasto oceano.

Já ouvi de tudo de especialistas perguntados, sempre que acontecem estes desastres. Fala-se em doença, contaminação por elementos químicos despejados no mar que é, afinal, a grande lixeira do planeta, e terremotos submarinos. A mais curiosa explicação, entretanto, é da poluição sonora no mar. Como se sabe, a propagação do som na água é quatro vezes maior que no ar. Assim, explicam os experts, a imensa frota de navios de todo tipo rasgando os mares de um lado para outro, nem se conte os submarinos em seus exercícios militares, que usam justamente, o sonar. Este barulho ensurdecedor estaria causando este descontrole nos animais.

Outro dia uma baleia jubarte filhote subiu rio acima no Pará (Viseu). Estava ferida, desnorteada. Foram feitas algumas tentativas de empurrá-la de volta ao mar, mas escapou. Foi vista noutro lugar e depois, o corpo encalhado num barranco de lama. Virou esqueleto num museu de história natural.

Praias de diversos lugares no mundo tem sido palco de cenas desconcertantes desse tipo. Os bichos se atiram contra a areia ou lama, aos montes, e ali ficam, a espera da morte. Esforços em empurrá-los para o mar, normalmente, são frustrados. É quase um suicídio coletivo.

O mais recente espetáculo deste tipo deu-se nos mares das Filipinas. Centenas de golfinhos, amontoados, um ao lado do outro, em pequenos grupos, nadavam em direção da praia ou ficavam parados a flutuar como que abestalhados. As pessoas, com barcos, enxotavam para cá e para lá e eles, inertes, mal saíam dos seus lugares.

Pergunto-me se não se dá o mesmo com as pessoas. A audição, tanto quanto é a visão, são nossas principais portas de entrada de contaminação de todo tipo que promovem esta falta de chão e motivam os comportamentos mais bizarros. Às vezes, é algo que se ouviu quando criança que reverbera vida afora na forma de medo, vergonha, praias rasas sufocantes. Ou é a visão de algo chocante ou assim interpretado, que na vida futura desencadeia timidez, gostos esquisitos, falas fora do tempo, pensamentos repetitivos, atos incoercíveis, lamaçal paralisante.

Em algum momento ou lugar dentro de nós o som e imagem se distorcem, produzindo raciocínios tortuosos, miragens enlouquecidas que nos despedaçam, empurram para abismos abissais de onde só se sai à custa de tornar-se outro tipo de peixe ou cetáceo, um que transite em meio ao lixo e poluição sabendo que um pedaço de plástico não é uma lula apetitosa, mas um engasgo prestes a roubar a vida que adernará irremediavelmente para um desfazer-se sem volta.

Assim vamos, aos bandos, cada qual com seu ouvido agravado para se ouvir, ouvir o outro, tudo é estática e um barulho infernal que apenas se vê o mover de bocas que falam, falam e nada se entende. Nadamos/andamos em círculos com um besouro dentro do ouvido ou água chacoalhando como se as ondas arrebentassem dentro da cabeça. Cada praia parece um oásis de chegada, mas é morte em grãos minúsculos.

 

 

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