A repercussão
que o filme Praia do Futuro promove é muito menos por seus méritos – não no
aspecto técnico: fotografia, luz, etc –, mas no tocante a ser uma história
fascinante que desperte conversas entusiasmadas pelas ideias, lições ou
qualquer outro rico ensinamento. Neste sentido, não diz nada de novo ou
inteligente. É comum, quase banal. De fato, o filme passaria em brancas nuvens
não fosse uma pessoa espezinhar-se com um pequeno incidente num cinema em João
Pessoa (PB) que nem de longe questiona o filme propriamente dito e sua mensagem
ou o que quer que queira discutir.
Como uma
destas sortes que salvam uma lavoura perdida, seu diretor, produtora e
personagem principal vivido pelo excelente ator Wagner Moura, se valeram da
indignação – exagerada, diga-se – de uma pessoa para transformar o filme
naquilo que ele, sozinho, nunca conseguiu: ser relevante.
Wagner chegou
a postar uma foto com um cartazinho com os dizeres: “homofobia não é a nossa
praia”. Homofobia onde, cara pálida? O fato é que absolutamente nenhuma
manifestação que trate do tema gay – exceto o apoio irrestrito à sua causa – é
vista com bons olhos. Imediatamente, é rotulado de homofóbico. Não importa se
você apenas opinou sobre a cor do paetê do cara.
A produtora,
Geórgia Costa Araújo, argumentou: “É claro que
escancara (referia-se ao incidente do bilhete de cinema com a palavra
“avisado”) a homofobia e o machismo destas pessoas, porque sexo heterossexual e
nu feminino tem a rodo no cinema e na TV brasileira e ninguém fica indignado,
assim como as cenas brutais de violência que invadem nossas mentes através das
imagens de muitos filmes”.
O argumento da tal senhora é primário. Está na
linha do despeitado “todo mundo faz, na hora que fazemos, somos criticados”. As
relações heterossexuais, que equipara e coloca no mesmo saco, são coisas diferentes.
Uma faz parte do natural e a outra se não é antinatural, posto que pessoas a praticam,
está longe de ser a norma das relações sexuais, embora se defenda como tal. A
relação homossexual sempre existiu e existirá, mas, à exceção de algumas
culturas em que é admitida, sempre foi vivenciada num plano paralelo, nunca foi
a norma, mesmo nas culturas em que esta vivência é aceita sem problemas.
Comparar às cenas de violência estética ou brutais
(será que ela conhece Tarantino?), tampouco se presta para defender seu ponto
de vista. Novamente a produtora se vale de uma coisa diferente para justificar
seu filme. Mais honesto seria falar dele tal como ela o entende e percebe. Seu
valor, digamos, intrínseco, seja lá a mensagem que esperava passar.
Logo em seguida a esta peroração chinfrim da Produtora,
ainda em entrevista ao Blogay da Folha de S. Paulo, arrematou com outro
argumento que padece de anemia lógica e de convencimento, mas que revela algo
inesperado: “A relação do público com um filme é sempre imprevisível, e eu
imaginava que poderia ter algum tipo de ação contra as cenas de sexo (que
afinal são cenas de amor), mas a reação anti-homofobia foi o mais surpreendente”.
Uma traição à intenção que deveria se manter
escondida. As cenas de sexo não são parte de um contexto ou até poderiam ser,
mas a cor das tintas foi carregada com um propósito que não poderia ser
mostrada em público. Estão lá para provocar algo nos assistentes e, assim,
promover o filme de um jeito ou de outro.
O arremate é de uma pobreza argumentativa cavalar:
o tal “afinal são cenas de amor”. O reducionismo é brutal. Toda cena de amor só
pode ser traduzida desta forma? Cena de amor causa reações de repugna e
urticária nas pessoas?
A tais cenas de amor de seu filme é uma licença –
nem diria poética – da produtora. Há controvérsias, diria aquele personagem do
Milani. Menos ainda taxar o incidente de reação anti-homofobia (queria dizer do
tal que abespinhou-se e publicou o bilhete com o “avisado”), simplesmente
porque não há nem de longe homofobia no ocorrido. Parece que pessoas como esta
senhora padecem do mesmo mal dos esquerdistas: adoram dizer coisas que não
ocorrem. Alucinam a suposta ameaça em sua mente tresvariada, intolerante,
arrogante e que não admite o contraditório. Pior ainda, vendem o Brasil como se
fosse mais grotesco que Uganda – país que recentemente criou uma lei nacional
contra o homossexualismo – ou ainda a Rússia que tem uma política velada de
perseguição aos gays e ainda mais o Irã que promove fátuas contra gays.
É
importantíssimo dizer que o filme no festival de Berlim foi recebido de forma
fria, havendo quem tenha saído durante sua exibição por causa das cenas de
sexo. Será que os alemães, povo que está entre os mais liberais da Europa – há
parques em que as pessoas ficam nuas para tomar sol em várias cidades – se sentiram
provocados pelo portento brasileiro?
Questionado naquele momento, Wagner Moura disse que não se importava e
descambou para falar asneiras sobre reações homofóbicas.
Quer dizer, lá
na Alemanha o filme já foi visto de forma enviesada. Ninguém ousou dizer que os
alemães são preconceituosos ou homofóbicos. Silenciaram ou deram de ombros,
reação típica de contrariado. Eu entendo a decepção. Esperavam ser vistos como
avançados, sofisticados e foram quase ignorados. Não consta que o filme francês
“O azul é a cor mais quente” (2013), história lésbica e o “Hoje Eu Quero Voltar
Sozinho” (2014) também brasileiro, apresentado no mesmo festival e de temática
gay, tenham sofrido reação parecida do público.
Honestidade. É
isso que está faltando aos envolvidos no filme. Admitir que o filme é ruim – a
bilheteria que o diga – e que tentaram fazer algo bacana do seu ponto de vista,
mas não funcionou.
Nenhum comentário:
Postar um comentário