O Corinthians abriu seu CT, nesta sexta-feira, para receber alguns
líderes da torcida organizada Gaviões da Fiel, que se reuniram com o atacante
Emerson. Segundo um comunicado da torcida, o jogador teria pedido desculpas
pelo post em que aparece beijando um amigo e até atacado rival São Paulo.
Fonte: UOL Esporte - Gustavo
Franceschini (23/08/2013)
A reunião
começou tensa. Havia um zumbido de vozes com palavras que saltavam destacadas,
como pipocas dentro da panela, mas sem qualquer sentido para quem as ouvisse. O
líder tentava colocar uma pequena lista de temas em pauta, mas estava difícil.
Os circunstantes estavam irreconciliáveis com qualquer argumentação que
tentasse, mesmo de longe, uma visão mais tolerante do tema discutido.
Talvez por
cansaço ou por certa frustração de não se chegar a lugar nenhum, o barulho foi
diminuindo, o que deu a chance do líder falar. Manos, ouçam! Temos que decidir
o que faremos com o acusado. Eu não
queria acreditar, mas as provas são incontestáveis. O indivíduo beijou o outro,
sim. Uma vergonha... a algazarra aumentou, com todos concordando ao mesmo
tempo. Palavrões impublicáveis neste decente jornal foram “improperados” contra
o beijoqueiro.
Proponho um
sequestro. Ele tem que pagar pelo que fez. Vamos costurar a boca deste sem-vergonha.
Calma! A Fiel vai dar o troco, mas temos que ouvir o acusado. Acusado nada, ele
é culpado de beijar outro homem, um disse. Mas ele postou um pedido de
desculpas, até disse que não era são paulino, aquela laia que já se sabe da
fama. Dizem que até fazem desfile de tamanco no vestiário. O roupeiro, nosso
infiltrado, contou. Mas deixemos esse time pink pra lá, vamos ao nosso que além
de descambar na tabela, tá virando um clube da Luluzinha.
O líder
sugeriu: vamos tirar satisfações com este beiçudo beijoqueiro lá no treino.
Todos concordaram. Se ele titubear, nóis senta a bifa nele. Aprovado, gritaram.
Futebó é coisa de homi, coisa de maxo! O que é isso com esta conversa de boiola
de homi dar beijo em homi, rapá?! Vamu tirar o apelido de Sheik dele, pois se
fosse mermo, tinha aréim, não dava beijo em macho em público. Só vamu chamar
ele de Shakira agora.
O técnico é
culpado, um doido berrou. Ele acoita esse tipo de safardanagem. Num mete o Tite
nisso, rapá. O que ele tem com a boca do outro? Vamo dar um pau nele! Isso não
mano, vai que o sujeito se anima? O que sei é que no coringão num pode ter
viado. O cara fica fazendo gol contra, mano! Ele que vá pro São Paulo, aqui
não. Não havia mais como controlar a balbúrdia. Todos falavam ao mesmo tempo e
cada qual sugeria uma coisa pior. Até apedrejamento alguém sugeriu. Explicou
que havia assistido num canal do Irã.
Esse cara vai
ver porque nóis semo louco, um outro atalhou. Mas ele disse que foi só um
selinho. Me admira Pezão. Tu tá defendendo esse fuleiro? Que selinho o quê,
rapá? Tu dá selinho em macho? Dô não. Então, cumé quié que tu tá acreditando
nessa desculpa? Foi beijo de língua e tudo. Olha a foto. Dá pra vê que foi um
chupão. Aquilo ali nunca foi selo, bicota ou coisa parecida. São Jorge que me
defenda, mas eu num quiria tá vivo pra ver o curingão passando esta vergonha.
O Tite é
culpado, repetiu o acusador do técnico. Como assim? Alguém quis saber. Ele
disse que qualquer um faz o que quiser da boca e do resto e que ninguém tem
nada com isso e o que importa é o que o Sheik faz dentro do campo. É... vendo
assim... será que o Tite também? Pois rapá eu num quero saber de nada. Bicha no
Timão, nem pensar. E se depender dos gols dele, eu prefiro ir pra terceira
divisão. É mermo, repetiram outros.
A reunião, por
fim, chegou a um impasse. Haviam muitas sugestões, mas nenhum consenso. As
propostas iam da lapidação já mencionada a coisas impraticáveis em qualquer
país minimamente civilizado, mesmo sendo o Brasil. Houve quem sugerisse meter
um foguete sinalizador no olho dele, o expert chegara recente da Bolívia. Havia
quem defendesse montar o infrator e fazê-lo desfilar no meio da fiel. Mas como
toda gostosa que passa perto de construção, só se poderia assobiar, dar
beliscões e palmadas. Claro, fazer troça dos atributos da bela.
Umas
faixas foram confeccionadas, a turba saiu em procissão em direção ao clube para
tirar aquele episódio dantesco a limpo. No caminho, foram confundidos com outra
passeata à qual se juntaram parte do povo da Marcha para Jesus, os caras
tapadas baderneiros, um punhado de desorientados da parada gay, remanescentes
da Jornada da Juventude que se perderam do Papa. Juntos, numa babel
indecifrável, apanharam surra da polícia, spray de pimenta nos zói e bombas de
efeito moral. Aliás, parece que era esta última palavra que a torcida tentava
salvar.
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