Mesmo preso há dois
meses por formação de quadrilha e peculato e sem possibilidade de recorrer da
decisão, o deputado federal Natan Donadon (PMDB-RO) livrou-se da perda de
mandato na noite desta quarta-feira. Em votação secreta, apenas 233 deputados
(dos 405 que votaram) foram a favor da cassação. Eram necessários 257 votos
para a cassação.
Fonte: Valor Econômico (28/08/2013)
Fonte: Valor Econômico (28/08/2013)
Os meninos ficavam
inquietos às quartas-feiras. Era o dia em que professor Ostrovilásio contava
histórias fantásticas, aventurescas, burlescas e de todo tipo de malasartes de
um país distante. Era um Esopo ao contrário, pois não havia qualquer moral a
ser retirada de suas invenções. Era entretenimento como ler história de
vampiros, zumbis e outros que tais.
Ostrovilásio
era uma mistura de professor de história, palhaço e camelô. Seus ditos sempre
se davam num país longínquo, que não poderia existir de verdade porque subvertia
tudo quanto é norma. Talvez aí estivesse a ”moral”: como não ser uma porcaria
daquelas. Não se sabe que atrativo ele exercia nos meninos e meninas, o fato é
que eles deixavam até o recreio para lhe ouvir.
Conto assim,
de forma aligeirada, disse ele, porque se fosse descascar cada detalhe era hoje
que daqui não se saía. Era uma vez um político roto, destes meganhas infelizes
que, como seus pares, nascem dotados de uma distorção interna, genética, para
os maus comportamentos. Já se tentou identificar e isolar os genes causadores
desta anomalia, mas em cada um deles o caso parece único, como se o defeito
ganhasse nova cara. Impossível achar antídoto. Então... O menino levanta o
dedinho indicador. O que é um político? Ostro coça a cabeça. De repente seu rosto
se ilumina. É um Randall Boggs. Nós somos o Sulley. Continuemos.
O talzinho
abufelou-se fazendo desvios de altas somas e põe soma nisso. Por artes até hoje
não se sabe de quê, foi julgado, condenado e preso. Acontecer isso já era coisa
esquisita naquele lugar. Nunca se vira tal acontecido. Como preso, era preciso
apear o homem da Câmara Federal onde se homiziava. O que é Câmara?, perguntou
um garotinho amarelo da primeira fila. É uma espécie de ninho destes políticos.
Quando eles ganham uma penagem nova, se chamam de deputados. Parece que uma
regra inventada não se sabe por quem, um deputado pode ser bandido, safado, ladrão,
patife, pilantra, tudo ao mesmo tempo. Mas preso, não. E olha que não citei a
lista toda. Aqui não cabe.
Por que fessô?
Indagou uma pirritinha. A natureza destas características pede liberdade para
fazer o que der na telha e ainda alcovitar-se na tal Câmara que funciona como esconderijo,
escola onde aprendem a natureza de seu trabalho e ainda tem que bater ponto e
receber os honorários de seus relevantes serviços.
O fascinante
desta história, o que foge ao natural lá deles, é que com este desinfeliz eles
criaram o primeiro espécime que era deputado e preso, logo, ele era como uma
maneta, um aleijado, deputado portador de necessidades especiais, porque não
podia ser um inteiro de capacidades já ditas. O povo daquele distante lugar
estava acostumado aos outros, não com este novo tipo. Havia debates sobre o que
fazer. Houve um erro? Seus colegas diziam que estavam com pena, já tinha perdido
as asas, engaiolado, andava triste como o diabo. Deixaram ele ser, sem
continuar sendo. Um dilema filosófico. O pobre deputado, no dia da decisão,
esperou ajoelhado em contrita posição, em genuflexa expectativa. Alegrou-se com
a decisão, pois só preso, perdia, momentaneamente, a posição de deputado, mas
ainda deputado tinha esperanças.
Seus colegas
lhe deixaram falar. Disse que tudo era um engano. Que agradecia ao sindicato –
a Câmara funciona como um sindicato pelego também –, que comia mal, pois o prato
se repetia e era mal cozido. Que era um acinte andar de camburão e algemado,
aquilo lhe doía como alfinete entrando no olho. E, acima de tudo, era inocente.
Falava abatido e humilde, como um cão na porta de um mercado.
Como
acaba a história, fessô? Ostrovilásio não sabia acabar aquela história. Era uma
história sem fim. Era como matar o mocinho depois de ele ter salvado a mocinha
no filme e o final feliz está a um passo, mas o burro mocinho dá uma topada,
bate com a boca no chão, infecciona um dente, ganha uma sepse e morre “encriquilhado”.
Ô história besta, meu pai!
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