O Fantástico mostrou ontem (7) a precariedade para o trabalho dos Bombeiros
no Brasil. O Maranhão está entre os Estados onde a situação é mais
crítica. Em Bacabal, as chamas é improvisado com balde, água mineral e
mangueiras que não alcançam o foco do incêndio, na cidade de 100 mil
habitantes, não existe Corpo de Bombeiros. O improviso chegou ao ponto de um
limpa-fossa ser usado para apagar o fogo.
Fonte: G1
(08/04/2013)
Nunca
mais na vida eu alugo, quero dizer, empresto meu caminhão para apagar incêndio.
Vou deixar queimar. Não me movo. Minha empresa só não quebrou porque tem muita
fossa pra limpar e porque faço um serviço esplêndido, senão, eu é que estava na
merda. Olhou para a repórter e consertou-se. Eu quis dizer sem trabalho, pois
limpar a merda dos outros é meu negócio.
Era
um desabafo. Segismundo ficou acuado. De repente, viu-se no centro de uma
espécie de escândalo porque socorreu um conhecido com seu caminhão limpa fossa.
Mas era isso ou cinzas. Quem sabe de gente também. Os bombeiros, atarantados,
gritaram que Segismundo tentou usurpar a profissão. Era um despreparado para a
nobre arte de apagar fogo. A imprensa local, nacional, mundial e intergalatical
ria da penúria de uma cidade que precisou de um pobre caminhão Chevrolet,
relíquia dos anos setenta, ainda trabalhando, sem direito a descanso ou
aposentadoria. De dia limpa fossa e nas horas vagas, apaga incêndio.
Ainda
no calor do incêndio, Segismundo deu entrevista e louvou o produto tantas vezes
desprezado e sua eficácia em apagar fogo. É que, dizia, a consistência, a
plasticidade e a densidade como que abafava as chamas com mais rapidez do que
os produtos existentes no mercado. Exaltou-se e até disse que a descoberta
inesperada o fazia pensar em registrar uma patente e ganhar dinheiro. Por este
ângulo, a merda era uma megasena. Produto 100% ecológico e natural. A nova serventia
reciclaria o que ele simplesmente jogava no rio Mearim. Criticado algumas vezes
por esta prática, defendia-se dizendo que alimentava os peixes que, inclusive,
estavam acabando.
Esta
empolgação explica a ira dos bombeiros. Segismundo até ameaçou comprar a briga
alegando que eles não estavam lá na hora do fogaréu, mas seu limpa bosta
estava. Sem ter como se defender, o chefe dos bombeiros apelou, ameaçou
Segismundo de cana. Mas a chateação maior de nosso brioso bombeiro fecal é que
num momento era o herói salvador e no seguinte, era a vergonha da cidade.
Afinal, inadvertidamente, expôs o traseiro de todos no Fantástico.
Passado
o espanto com a maneira, digamos, bizarra de se apagar um incêndio, as pessoas
começaram a se perguntar porque a cidade não tinha um corpo de bombeiros nem
que fosse usando carroça puxada a jumentos? Ora, o governo estadual era o
culpado e a prefeitura, por suposto. Esta última escondeu-se atrás do
descalabro deixado pela gestão anterior e que nem começado a trabalhar havia
conseguido, mas que, mesmo nas condições precárias, começariam a treinar
jumentos e carroceiros como os novos bombeiros. Água não faltará, disse o
prefeito, temos um rio na porta. Ele tinha simpatia pelo plano de Segismundo,
mas com tanta merda espalhada, preferiu desligar o ventilador.
O
Estado, o réu da confusão, fechou-se em copas e deu o calado por resposta. Na
verdade, escalaram o aloprado deputado Magno Bacelar para defendê-los. Homem de
incrível oratória, foi direto ao ponto e devolveu a provocação aos adversários
políticos e à população metida que deseja, imaginem só, que seus incêndios
sejam apagados com água e não com cocô. Lépido como ninguém, sapecou: Quê que
vocês preferem: morrer queimado ou sobreviver fedendo? E acrescentou um sábio
provérbio chinês: nem sempre quem te joga na merda é teu inimigo. Estava que
não cabia em si de tanta sabedoria e esperteza e nem se continha com os apupos que
receberia de seus donos. Quem sabe um asponato estava a caminho.
Segismundo viu aí sua
redenção. Um deputado – sabe o que é isso? – uma autoridade resgatava sua
honra, por bem dizer. Via sua nova invenção como algo genial. Percebeu, homem
ladino que é, a inovação tecnológica e de baixo custo, solução para as cidades
que como Bacabal, não tem esgoto e precisam de seus humildes serviços de
limpador público das bundas. Depois Segismundo entendeu: o homem é do Partido
Verde. Estava explicado.
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