A discussão sobre a venda de acarajé
pelas baianas dentro da Arena Fonte Nova voltou à tona na manhã desta
sexta-feira (5). Devido a inauguração do estádio que acontece nesta manhã com a
presença da presidente Dilma Rousseff, as baianas se concentraram na frente da
Arena para protestar contra a suposta proibição de acesso delas ao estádio.
Fonte: UOL Notícias e
iBahia (05/04/2013)
Os
jornais só falam – além do (in)Feliciano, pois ninguém tem mais pauta – na
Dilma inaugurando a arena – não se chama mais estádio – da Fonte Nova em
Salvador. Além do discurso tosco da presidente, um drama passou despercebido da
grande imprensa que, sim, relatou uma coisinha assim de pequenininha sobre uma
crise terrível na cultura baiana.
A
Fifa, que vem sendo mais que pedante – se bem que nem se pode reclamar com os
executivos petistas responsáveis pelas obras –, cismou com o acarajé das
baianas. Imagine. Ciosas de suas tradições ancestrais, as baianas saíram às
ruas de acarajé em punho, melhor dizendo, panelas e balangandãs, para protestar
contra este ataque a algo que identifica os baianos como baianos e já produziu
lembranças hecatômbicas em milhares de turistas, seja pela desastrosa experiência
com a pimenta ou pelas catastróficas diarreias. Convenhamos, a Fifa não sabe no
que está mexendo.
Era
preciso saber a razão desta discriminação horrorosa. Como é que uma instituição
alienígena afronta um patrimônio imaterial tombado da cultura baiana e
brasileira? O que seria da nação sem seu acarajé? Pior, privar o mundo de
conhecê-lo também? Medidas radicais precisavam ser tomadas imediatamente.
Antes,
porém, seria exigido desta fifoca uma explicação. Não senhores, não iria ficar
desta maneira, eles que se explicassem tintim por tintim. O Memorial das Baianas
queria um pedido de desculpas. Uma nota pública de desagravo. Mas, metida a
besta como ela só, fifoca fingiu que não era com ela. Meteu-se a um ato
diversionista. Que teria ficado boquiaberta com a ligeireza dos baianos que
trabalharam tão rapidamente para entregar a, vá lá, arena. A emenda ficou pior
que a receita. Preconceito, gritaram as baianas na porta da arena. Forçaram a
entrada com acarajés molotovs, carurus incendiários e bobós lacrimogênicos.
Cartazes desafiadores diziam: agora vocês vão ver o que que a baiana tem. E
esqueçam, tá longe dos babados e a salada na cabeça da Carmem Miranda.
A
fifoca se acovardou. Prometeu entradas gratuitas em todos os jogos para as
baianas e família até a quarta geração. Mas acarajé no estádio, não. As
revoltosas baianas exigiram um representante da fifoca, queriam o francês
patife. Elas o comeriam antropofagicamente, mas ele sumira e enviou um
tecnocrata testa de ferro terceirizado.
O
talzinho chegou diante das mulheres enfurecidas. Senhoras, por favor, podemos
esclarecer o mal entendido, disse. Quem falou em mal entendido? Retorquiu a
líder quase anarquista acarajeniana. O acarajé está dentro do estádio – arena,
consertou a companheira –, pois bem, que seja, a arena, desde que Dona Canô era
menina, desde quando Caymmi deitou na rede para tocar violão. Explique logo
esta infâmia contra nós baianas e o acarajé.
Senhoras,
a Fifa e os patrocinadores tem um nariz sensível, o cheiro do acarajé é,
digamos, um pouco forte. O dendê empesteia o ambiente com seus vapores. Tem
dendê light sem cheiro? Aliás, o azeite pode ser usado por torcidas holligans.
Companheiras, o gringo tá
doido. Disse que somos fedidas e ainda quer que a gente faça acarajé no
microondas. Acarajé sem cheiro, os apetrechos, o tabuleiro, a baiana e o dendê,
será o quê? Brioche? Isto é lá com a Antonieta, nosso negócio tem que ter tudo
isso, se não eu nem sei o que seríamos. Tudo, menos baianas, certamente. Não,
meu rei, Se vocês não liberarem o acarajé as baianas unidas e as doidas da
femem vão fazer greve que nenhum de vocês verá, nem de longe, as outras coisas
que as baianas têm. E riram todas saboreando a vingança.
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