quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

Deu a louca no Papai Noel


Um shopping de South Portland, no estado americano de Manie, precisou demitir um Papai Noel depois que crianças e pais reclamaram que o homem era rude, mal-humorado e que nem mesmo deixava as crianças sentarem em seu colo.

Fonte: G1 (Planeta Bizarro – 07/12/2012)

Parvuíno já havia feito de tudo. Ao longo de um ano, era capaz de trabalhar em mais tipos diferentes de empregos que uma pessoa com duas vidas consecutivas de um Matusalém. Aproveitava a onda de cada momento. Em seu último trabalho na agricultura, como gostava de falar, fora um espantalho. Sim, vestia-se como tal, mas movia-se com a mesma desenvoltura daquele seu colega do mundo de Oz. Também, acho, Parvuíno tinha palha dentro daquela cabeça. O serviço pedia apenas que espantasse as rolinhas e codornizes que vinham comer as sementes da plantação. Antes disso, fora um fazedor de sexo na flor do maracujá. Informem-se a respeito.
Mas a questão agora era simples. Candidatou-se a ser um Papai Noel. Incrivelmente, nunca tentara antes ser o tal bom velhinho. Havia que participar de um curso, disseram. Nada complicado. Apenas alguns modos que o Noel deve fazer para manter o personagem. Parvuíno achou aquilo tudo muito chato. Mas a grana prometia e por período curto. Ensaiar aquele arremedo de sorriso foi de lascar. Sua voz meio anasalada e sem graves robustos, aliás, sem grave nenhum, mal conseguiu o primeiro oh. Acho que pouco melhor que ele só o Spider (Anderson Silva).
Primeiro, ele e os outros tiveram que ouvir uma gravação da risada noelina: Oh, oh, oh, oh. Meia hora depois, não havia mais quem aguentasse. Agora era o pior. Cada qual devia repetir a gravação à risca. Ouviu-se de tudo. Na vez de Parvuíno veio aquela coisa caquética, esganiçada, sem força e vibração. Os papais noeis se entreolharam entre espanto e irritação, porque aquele riso estava mais para um freio de trem sobre trilhos com areia. Sem contar que dava uma vontade louca de rir. E eles riram e debocharam de Parvuíno que rebateu na lata que não era palhaço e, sim, papai noel. Eles riram ainda mais.
Com o humor azedado, Parvuíno foi escalado para a encenação propriamente dita. Vocês sabem. O velhinho entra com um cajado, afaga aqueles meninos e meninas chatinhos que ainda acreditam em papai noel. Senta no trono e aguenta umas boas três horas com  menino no colo, gritando, rindo, puxando a barba postiça ou não, arrancando o gorro, vomitando na árvore, grudando meleca na cadeira, chorando porque a mãe não lhe deu sorvete e quando decidiu fazê-lo foi sobre o papai noel. Malcriações, manhas, birras, fotos e flashes a não mais poder. Ah, tem as mães dementes que querem também tirar foto com o papai noel, sem contar alguns beliscões no traseiro de umas mais assanhadas.
Ao final de um turno de trabalho, Parvuíno estava completamente arrasado. No segundo dia, ele chegou sabendo o que o esperava. Achou, por momento, que até ia se dar bem com uma noelete de sainha curtinha que mais parecia um abajur com babados. Mas era arisca que nem uma rena voadora. Deu-lhe uma rebanada e disse que se gostasse de velho procuraria algo melhor num asilo. Aquilo doeu.
Então veio o primeiro menino. No colo, não, afastou Parvuíno. A fila esperava aflita. Meninos corriam por debaixo da árvore, esfolavam os presentes de mentira sem que os pais se importassem. A mãe deste primeiro saiu pisando duro. O segundo mal fez seu pedido de presente e ele mandou o menino pedir para o pai dele e ainda chamou o pobrezinho de feio. No terceiro, ele amedrontou a menina de tal forma que a garota correu e perdeu-se shopping adentro. Beliscou uns, empurrou outros, disse asneiras para pais e mães e recusou-se também a fazer o oh, oh, oh, oh. Em duas fotos mostrou o traseiro. Ainda vestido, leitores. A bunda, propriamente dita, apresentou depois de tomar umas doses numa garrafinha que trazia dentro do saco de presentes. Mas a esta altura já dera em cima de algumas mães, devolvendo os beliscões do dia anterior e mandou outras tantas darem educação aos seus filhos abusados e mimados.
Em pouco tempo havia uma horda de mães, principalmente, formalizando uma denúncia da falta de compostura do que chamavam de papai noel louco. A segurança do shopping veio de coturno e tudo para cima do Parvuíno que já havia tirado toda a roupa ridícula, debaixo da qual suava bicas e andava, despreocupadamente, apenas de cueca, botas e gorro (sem a barba falsa) apreciando os enfeites de natal.

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