quinta-feira, 31 de agosto de 2017

Ninguém me deve nada

Tem gente que pensa que o mundo lhe deve algo. Grande parte dos que assim pensam e agem, nem sabem discriminar o que seria esta dívida. Outros a definem de muitos modos. Pode ser por meio de atos de empáfia, arrogância ou uma vaga certeza de alguma superioridade moral, econômica ou outra coisa qualquer.
De fato, subjaz a estes comportamentos uma brutal insegurança. A percepção de que os outros lhe são devedores é uma compensação para sua própria autoestima desgastada. Faltou-lhes a aprovação necessária em algum momento da vida e então, cobram a fatura do resto do mundo.
O mundo falhou com eles, pois que paguem. Em todos os perfis psicológicos das pessoas que infligem maldades aos outros, passando por ditadores sanguinários, parceiros ou parceiras afetivos abusivos, pais ou mães que alienam filhos emocionalmente, sociopatas assassinos, há traços de sentimento de inferioridade, ódio e distanciamento afetivo dos outros.
Há quem diga que Hitler sempre foi medíocre em tudo. Mas com uma vontade de ferro e crenças adoecidas sobre o mundo e as pessoas. As muitas rejeições, por sua mediocridade, alimentaram sua loucura e deu no que deu.
Estes eternos credores de todos guiam suas relações pelo débito-crédito. Tem memória de avaros emocionais. Eles só fazem algo por você, quando fazem, se você fez algo por eles. E fazem isso com filhos, esposos/esposas e amigos. Ninguém escapa de sua contabilidade. Criticados, respondem com lero-leros inexplicáveis, que são mais eles, etc.
A razão de se sentir credor dos outros pode ser religiosa. Esta razão, por si, é muito perigosa por que vem empacotada num sentimento de preciosismo, de se sentir escolhido ou bafejado pela divindade. Na miséria pessoal humana já é um perigo, imagine com uma certeza louca de ser um escolhido.
Por minha vez digo: ninguém me deve nada. Porque dever nas relações humanas, excetuando-se as questões comerciais, somos nós que, por sensível consciência, entendemos que devemos e ninguém nos deve. É um tipo de escolha. Se preferirem, um estilo de vida. Uma compreensão ampliada de todas as relações que estabelecemos agora ou no futuro.
Preciso reavivar sempre em mim que as pessoas não estão à minha disposição para atender meus desejos e caprichos. Que devo urbanidade àqueles com quem encontro, mesmo quem não conheço. Que devo pedir em vez de mandar. Que devo, sempre, usar as palavras mágicas: por favor, com licença, obrigado, desculpe... independente de meu interlocutor.
Devo o respeito à dignidade intrínseca que todo indivíduo tem, mesmo aqueles que, por razões absurdas em mim ou nas circunstâncias, eu não goste ou simpatize. Devo a compaixão aos caídos e solidariedade aos que sofrem, só porque agora é a vez deles, um dia será a minha.

“Sou devedor tanto a gregos como a bárbaros, tanto a sábios como a ignorantes.” Romanos 1:14

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