Eu soube do fenômeno Baleia Azul pelos jornais, mas logo em seguida os grupos dos quais
participo no whats foram engolfados – não é uma figura de retórica – numa
verdadeira histeria de imagens – algumas terríveis e nem se sabe se são de pessoas
ligadas ao problema – e textos que iam do pavor e fala apocalíptica à piada
ridícula e sem graça, algumas religiosas. Como se as vítimas dessa horrenda
“brincadeira” fossem meros idiotas que não tem o que fazer ou que lhes faltam
disciplina e religiosidade.
Acho que
chego atrasado. Um jovem youtuber, que tem coisa de 10 milhões de seguidores,
postou um vídeo que teve quase 5 milhões de visualizações até o momento em que
escrevo este texto – não sei se foi orientado por um profissional – que fala
algo quase óbvio: meninos e meninas emocionalmente saudáveis estão vacinados
contra essa demência coletiva. Em resumo foi isso que disse.
Mas claro!
Pessoas se tornam pessoas quando aprendem a lidar com suas emoções. Este
aprendizado quase sempre vem de uma família que, a despeito de suas
idiossincrasias – toda família tem –, se importam uns com os outros, se afagam,
são afetivamente atuantes, conversam entre si e criam com isso um ambiente
propício à liberdade, à tolerância, à empatia.
A nefasta
Baleia Azul é um ser parasítico. Quem a conduz e organiza, são seres miseráveis
e nefastos, mas não aquele comum cujo maior mal que faz é a si mesmo. É um tipo
maligno de mal, aquele que goza com o domínio, o controle, a manipulação
emocional e cognitiva dos mais fracos. Os que estão por trás desta Baleia Azul
assassina, se alimentam da miséria alheia, são comedores de tristeza e
desamparo. Eles são atraídos pela dor e como tubarões famintos são capazes de
cheirar sangue a quilômetros de distancia. Eles usam iscas que simulam algo
grande, transcendente para almas fracas e abandonadas, estas viciadas em suas
próprias dores porque apenas conhecem do mundo – alguns muito cedo – o que há
de pior na raça humana. Ou adoeceram, tem anemia emocional, um sistema afetivo
imune debilitado.
A Baleia Azul parecerá às pessoas saudáveis um exotismo que não lhes
atrairão, pois gostam de luz, não de trevas como os milhões de jovens
depressivos, melancólicos, afetivamente abandonados, violados em sua inocência
e que não receberam uma gota de aprovação de pessoas que os apreciassem pelo
que são. O buraco da grande falta precisa de algo do tamanho de uma Baleia para
tapar. Que importa se é uma Baleia-demônio, que importa sua cor, que importa se
ao final de uma lista de tarefas está a morte – eles já se percebem mortos em
algum grau –, basta que prometa que seu vazio, de alguma maneira insólita, será
preenchido. A dor física como caminho que acaba com a angústia nada é, a morte
também não.
Dizem que a discussão e os alertas devem ser sobre suicídio, infelizmente
um problema que tem aumentado. O aumento de pessoas deprimidas está diretamente
relacionado. O Brasil é o terceiro país mais deprimido do mundo, atrás dos EUA
e França. Cerca de 5,8% da população brasileira tem depressão. Aqueles que são
diagnosticados que, seguramente é uma parcela menor, pois não é raro que a
doença castigue alguém por anos até que seja tratada. Entre os deprimidos, ao
redor de 15% tentam o suicídio, alguns conseguem. Todo deprimido tem ideação suicida.
A morte parece ao deprimido a libertação suprema, pois qualquer coisa é melhor
do que o vazio abismal que abriga no peito. Uma pessoa desesperada não tem
medo.
Nenhum ser humano é pra baixo por natureza. Nenhuma pessoa é triste sem
causa. Ela o será por contingência ou por doença. Mudanças de comportamentos
que permanecem por mais de duas semanas, isolamento, desmotivação, semblante
permanentemente fechado como um céu que se prepara para uma tempestade, apetite
e sono descontrolado – para mais ou para menos –, pessimismo, falta de energia,
desprazer em coisas que antes eram prazerosas, são sinais fáceis de perceber.
Ajuda especializada deve ser procurada.
A depressão é insidiosa às vezes. Não importa o seu grau, ela causa
estragos emocionais, sociais e, se não tratada, produz consequências nefastas.
O jogo baleia azul é apenas um carniceiro que se aproveita de uma fragilidade
que já existe. O remédio contra ele é o cuidado de nossos jovens.
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