quarta-feira, 12 de julho de 2017

"No" ofenda a ninguém

“No ofenda a ninguém” Ignoro se a frase era uma tradução ruim do espanhol ou se foi um erro que os danados destes corretores costumam fazer nos pregando peças.
Era um videozinho destes que se distribui pelo whatsapp e – você pode ver aqui nesta postagem –, convenhamos, enchem a paciência com suas mensagens açucaradas de autoajuda.
Acontece que este tinha um quê de recomendações pseudofilosóficas e subpsicológicas com as quais a maioria das pessoas concorda sem pensar. O vídeo contém aquele tipo de afirmação que se pretende um tipo de verdade autoexplicativa. Discordar do que diz é caminhar sob os cenhos franzidos de reprovação das pessoas.
Mas vamos lá! O “no ofenda a ninguém” está ok, mas isto é o título. O problema está na frase que explica porque “no” se deve ofender o próximo. Neste primeiro, a razão dada é porque há pessoas que não podem falar e não podem se defender. Como? Não “falo” Libras, mas sei que se pode falar e muito, inclusive xingar, por suposto, se defender. Não se deve ofender, porque devemos respeitar quem quer que seja. Ponto.
O segundo quadro não melhora. “não reclame do gosto da comida”. A razão? Algumas pessoas não tem nada para comer. Como assim? A comida tá um grude, coma? A comida queimou, coma? No máximo não reclamo por constrangimento, a famosa vergonha alheia, só!
Adiante. “não reclame de seu companheiro” e conclui de forma fantástica: alguém enterrou seu companheiro ontem. É o cúmulo! Milhões enterraram alguém seu ontem, hoje e vão enterrar amanhã. O que isso tem a ver com reclamar de um preguiçoso, irresponsável e desleal...? 
A bobagem segue. “não reclame de sua casa: algumas pessoas não têm onde dormir.” Outra vez milhões estão nesta condição. É uma tragédia, sem dúvida, mas não tem relação com reclamar da goteira ou meramente desejar uma casa maior porque a sua está pequena para suas necessidades.
Agora uma punhalada na lógica. “não reclame de seus filhos: algumas pessoas nunca poderão ser pais.” Pois que adotem! Não discipline seu filho, não dê a ele regras e normas de educação com peninha porque ao fazê-lo, se lembrará que existe um monte por aí que não tem filhos. Eles continuarão sem filhos e você, com sorte, com um mandrião dependente; com azar, com um bandido para visitar no presídio.
Esta é para você, aposto. “Não reclame de seu trabalho: algumas pessoas lutam para encontrar um.” Este é o cúmulo da idiotice. Acorda! No Brasil são doze milhões de desempregados. Ter um pouco de ambição e desejar crescer profissionalmente não fere a condição catastrófica do desempregado. Trabalhe com responsabilidade, mas reclame se lhe exploram, se lhe assediam moral ou sexualmente, se lhe dão condições desastrosas para cumprir suas tarefas. Que coisa!
E com essa eu concordo: “não amaldiçoe a sua vida...” a conclusão ou a razão para não fazê-lo, no entanto, é ridícula. “algumas pessoas são jovens e tem doenças incuráveis.” É triste, sim, mas não se deve se autoamaldiçoar porque é melhor amarmo-nos a nós mesmos, não de forma narcisista, autocentrada, mas porque devemos cuidar de nós mesmos, pois quem não se ama, possivelmente, está em depressão severa ou tem outro transtorno mental. Quem não se ama precisa de terapia e um psiquiatra e não pode amar aos outros.
Uma coisa desta fede a socialismo bolivariano. Não é tolerância, é coitadismo. Não é respeito pelo outro, é um tipo de glorificação da miséria. É um igualitarismo doentio. Desrespeita as diferenças que a vida impõe e a de cada um. Podemos ser solidários, empáticos, compassivos, o videozinho estimula a pena pelos outros que é o mesmo que anulá-las. Pior, nos anula junto.
Enfim, detesto estas coisinhas que são distribuídas como se fossem o suprassumo da sabedoria pratica para a vida e não passam de tolice rematada que vai devorar a memória do celular. Eu deleto tudo.

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