domingo, 4 de janeiro de 2009

O encantador de mulheres


Este texto foi publicado na coluna Eudes Alencar do Jornal Pequeno, 04/01/2009


O currículo dele era extenso. Fez todo tipo de trabalho, mas nunca conseguiu ficar num emprego mais que seis meses. Um era pesado. Outro era puxado. Outro ainda, não atendia às suas aspirações de crescimento pessoal. Noves fora as passagens pela polícia onde possuía outro tipo de currículo. Nada sério, contos do vigário que normalmente o levavam a ser enquadrado no artigo 171 que descreve as artimanhas nesta categoria como estelionato.

Mas Patronildo decidira-se por outro tipo de vida. Havia uma coisa em que era, dizia de si mesmo, catedrático. Ele entendia de mulher. Era um mistura de machista com porco chauvinista, diria sem pestanejar uma feminista mais engajada. Mas este tipo ainda faz sucesso entre outros homens menos aquinhoados de beleza ou de coragem para chegar junto de uma moçoila. Ora, isto não passou despercebido de Patronildo que viu aí uma chance de exercer seus dotes. O mercado, pelo que percebeu, era promissor. Ele montaria uma escola para ensinar aos homens mais tímidos como reconhecer os tipos mais comuns de mulheres e como se dar bem com este tipo inzoneiro.

Primeira coisa era montar um folheto que descrevesse suas capacidades, todas avalizadas pelas mais renomadas instituições na área, depois arranjar um local sofisticado para as aulas. A embalagem era a coisa mais importante, o resto era moleza, lábia ele tinha. Um anúncio num jornal de grande circulação e esperar os alunos. Dito efeito. Em pouco tempo havia uma classe cheia para Patronildo despejar sua larguíssima experiência.

Primeiro dia de aula. Meus caros senhores, este é o lugar de sua libertação. De assumir a verdadeira posição que a nós, homens, deu a natureza, mas que relações despingueladas com sua ilustres progenitoras, transformou-os em homens menores do que devem ser. Todo homem deve saber. Mulher é tudo igual. Eu mesmo, que andei quase o mundo inteiro, posso atestar. Não importa o país, a etnia, mulher é mulher. Palmas entusiasmadas. Obrigado, senhores. Mas estamos aqui para uma aula, vamos a ela.

A título de introdução, falaremos sobre os tipos mais comuns de mulheres. Há outros, certamente, mas com estas creio incluir 99% de suas esposas e namoradas e das futuras que alguns aqui terão o prazer de conquistar. A platéia era todo silêncio.

Não se preocupem, para os que pagaram o extra, teremos depois damas especialmente contratadas para os senhores treinarem. Muito bem, existem as Caprichosas. Querem tudo do jeito delas. Só se aquietam quando conseguem o que querem e do jeito que desejam, nada de mudar uma coisinha aqui outra ali. Com estas, só matando no cansaço. Existem as Superficiais. Não querem saber de instrução, só interessa a última moda, a bolsa que viram na loja. O maior desastre na vida delas é uma unha quebrada. São fáceis de dominar, mas se tem um gênio um tanto assim mais difícil, terão muito da anterior.

Vejo que muitos aqui percebem a coincidência com suas parceiras. As cabeças balançaram confirmando. Vamos adiante. Há o tipo Interesseira. A vantagem é que só dão trabalho para os cavalheiros melhor posicionados financeiramente. A primeira coisa que vão lhe pedir é uma coleção de cartões e o número de sua conta. Este tipo é uma praga, é correr como o diabo da cruz. Tem as Controladoras. Benzeu-se, ao que foi seguido pelos alunos. Quer saber a hora que você sai e entra. Liga a cada 5 min para saber onde você está e ai de um atraso de 2 min. Mate o galo no primeiro dia. Não ligue no dia seguinte. Mas aviso, o tratamento com estas é demorado.

Existe um tipo quase inofensivo, as Sentimentalóides. O problema é se você tem o coração fraco. Fazem chantagem com choro, falam tudo no diminutivo e se fazem de vítima. São uma versão próxima das ciumentas porque também são inseguras, mas sem a fúria daquelas. As Ciumentas são de lascar porque também agregam um pouco da controladora. Não haverá bolso, celular, computador que não sejam rastreados e escarafunchados. Com estas é tudo na senha duplamente encriptada e mentira cabeluda até doer e se fazer de desentendido sempre. Existem também as Mandonas. Destas fujam. Elas dizem o que você come e sugerem até a hora de você ir ao banheiro. Não se conte as humilhações em público de fazê-lo um cãozinho que busca o galho a hora que elas jogam. Solução? Entrincheirar-se no não, para tudo.

Finalizo com dois tipos. As Mãezonas e as Frutas. As primeiras é uma curtição no começo, depois viram um pesadelo. Tiram sua masculinidade e o transformam em bebês idiotas. A saída em embuchá-las para lhes esquecerem. As Frutas são um tipo brasileiríssimo. Temos a melancia, morango, melão, jaca, samambaias, sapoti. Com exceção desta última, que tinha uma linda voz, o resto é só diversão para os olhos e acabou-se.

Um tumulto à porta chamou a atenção de todos. Um grupo de mulheres enfurecidas gritava os nomes de seus homens e lhes davam um minuto para sair daquela safadeza ou eles iriam ver quando chegassem em casa.

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