sábado, 10 de janeiro de 2009

Uma cisma com o Rubem Alves

“QUANDO EU ERA seminarista gostava de dormir ouvindo música. Eu tinha um radinho de válvulas e a música vinha sempre misturada com os ruídos da estática. Eu preferia a música às rezas. Se eu fosse Deus, eu também preferiria.” Rubem Alves em “O caos e a beleza” em 06/01/2009

Eu e uma legião de pessoas Brasil afora gostamos do Rubem Alves. Mas também tenho cisma. Dependendo do que leio dele. Sua última crônica na Folha, onde escreve às terças-feiras, tem seu traço característico, aquela mistura de prosa metida a poesia, que fala de coisas simples gostosas de ler. Um bolinho quente com café num fim de tarde.

Minha cisma desta vez tem a ver com sua afirmação sobre Deus não gostar de orações ou rezas como diz lá no texto. É bem verdade que sua santa e infinita paciência tem que ouvir uns filhos chatos que eu, no seu lugar, lhes tornaria mudos. Mas sua paciência é infinita, não é?

Pois bem, o Rubem diz assim em sua segunda razão para não rezar em seus tempos de seminário: “...se Deus existia, valia o dito pelo salmista e por Jesus de que, antes que eu falasse qualquer coisa, Deus já sabia o que eu iria falar; o que tornava desnecessária a minha fala.” Ora, ele também sabe que na Bíblia inteira existem incontáveis recomendações para o crente orar, rezar, conversar com Deus. A razão que expõe e alega é apenas conveniente. Se a Bíblia é a Palavra de Deus e não há outro texto sagrado para o cristão, não existe tampouco recomendação outra de que se fala com Deus por outro meio alternativo que não a expressão verbal. Admito. Existem outras formas possíveis: cantar, jejuar, ler a Palavra, meditar. Mas o falar, mesmo aquilo que o Senhor já sabe, é parte do exercício de relacionamento que deseja que mantenhamos com Ele.

Uma obra, de qualquer arte, pode perfeitamente ser a expressão de um homem/mulher que adora a Deus e o busca, portanto, fala com Ele, mas não substitui a oração ou Jesus não teria recomendado: Pai nosso, que estás no céu...

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