terça-feira, 20 de janeiro de 2009

Sobre a catástrofe na igreja Renascer em Cristo


I

Qualquer pessoa se sente consternada diante da desgraça que se abateu sobre as pessoas que participavam, no domingo último, do culto na sede da Igreja Renascer em Cristo em S. Paulo. Contudo, três versões diferentes dos líderes da igreja, sobre uma suposta reforma do telhado que desabou matando 9 pessoas e ferindo mais de 100, deixa um sabor amargo na boca. Há algo de podre no ar que não deve passar sem investigação e punição dos responsáveis.

II

A Folha (ed. 20/01/09) relata que a bancada evangélica na Câmara Municipal de São Paulo fez lobby para que templos não fossem vistoriados há cerca de dois anos. A fiscalização, fruto de uma CPI, pretendia verificar as condições de segurança de lugares que concentrassem muita gente. Naquele momento, num show com o grupo RBD, quatro pessoas morreram esmagadas pela multidão num espaço que não oferecia estrutura adequada.

III

Não é de hoje que políticos evangélicos se organizam em bloco com objetivo de dar às igrejas ou pastores, algum tipo de imunidade contra investigações ou, no caso, uma mera fiscalização da segurança do espaço físico para acomodar pessoas que, da forma que foi montada a CPI da Câmara de São Paulo, as igrejas não eram o alvo preferencial. Mas, como é sabido, reúnem muitas pessoas em ambientes adaptados, prédios antigos.

IV

Não se sabe que interesses escusos, nem se pode medir o tamanho da ganância que motivou os 15 vereadores paulistas a “trabalhar” para convencer seus colegas a alterar o texto da CPI, excluindo templos evangélicos da fiscalização. O certo é que atitudes como essas revelam comportamentos reprováveis de gente que se pensa acima dos mortais comuns, a empáfia de se aperceberem especiais, o descaramento de que com o jeitinho se arregla quase tudo, mesmo quando vidas estão em jogo.

V

Há um tipo de sanha louca entre igrejas que vêem em tudo uma perseguição aos evangélicos, coisa que no Brasil sequer se pode nomear. Num grupo fechado, porém, escaldado como é a Renascer e outras similares, serve para fundamentar um discurso que une seus fiéis, dá-lhes uma fantasia de mártires e os mantém na rédea do engano que seus pastores, bispos e apóstolos habilmente manipulam.

VI

Esta estratégia foi usada e abusada pelo bispo Macedo em todas as vezes em que sua igreja, representada por seus bispos e pastores, foi pilhada em situações escandalosas. Agora, já suficientemente forte (põe forte nisso), se dá ao luxo de afrontar a justiça e atacar um jornal nos quatro cantos do país quando se sentem lesados em seus interesses.

VII

Os líderes da Renascer em Cristo, atualmente em férias forçadas nos EUA – estão em liberdade vigiada pelo rumoroso caso em que fugiram do Brasil para não responder à justiça e foram presos com dólares não declarados, inclusive dentro da Bíblia – fazem seu papel de não é comigo. Rapidamente o apóstolo e sua cônjuge partner “bispa”, em declaração, atribuem o acontecido a uma fatalidade e a um desígnio dos céus, que é outro nome para irresponsabilidade e leniência.

VIII

É característico deste tipo de gente. Ora eles acusam às forças demoníacas de lhes perseguirem e tentarem impedir seu sacrossanto ministério, quando de fato, a tal perseguição resulta de suas estrepolias financeiras, trabalhistas e criminais. Ora atribuem a Deus, que lhes purificará pelo sofrimento, quando acontece algo que é resultado de sua omissão criminosa. Nunca são eles os culpados de nada. 

IX

Sobram agora ditos e desditos, informações desencontradas e entre estes escombros produzidos pela irresponsabilidade, a verdade vai aparecendo, igualmente machucada como aqueles que sofreram no desastre. Os cupins que corroeram parte do telhado, como afirmou o chefe dos bombeiros, são metáforas de outras corrosões, estas morais, para isso não há inseticida que dê jeito.

X

A prefeitura paulista e nenhum outro órgão tem conhecimento das ações de melhoria no telhado. Um humilde empreiteiro, consertador de telhado substituiu algumas telhas, sem engenheiro nem qualquer técnico especializado. Os testemunhos das vítimas vai montando uma outra história como não querem os líderes da igreja, é pena. O desabamento soa premonitório ou realístico e retrata, quem sabe, a débâcle de uma denominação que se notabilizou pelo espalhafato, pelo escândalo, pelos nada santos comportamentos de seus líderes. É uma lástima. 

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