sábado, 17 de janeiro de 2009

Igrejas sob medida


Igrejas sob medida são relativamente recentes. Digo porque a meros vinte anos atrás não se via isso. Certo, as igrejas evangélicas funcionavam meio como guetos culturais-religiosos, tinham pouca visibilidade social e política. Em meados dos anos 90 a situação mudou. A “renovação” de vários grupos dentro de igrejas ditas tradicionais propiciou o aparecimento de novas denominações. Os grupos nem podiam ficar em suas antigas denominações, tampouco queriam ir para as pentecostais na praça. Pode-se dizer que muitos anteviam seu próprio protagonismo denominacional e assim foi.

Dentre estes vários grupos, e põe variedade nisso, apareceram igrejas com características bem próprias, cujo paradigma, tomo como exemplo aqui, a Bola de Neve Church, assim mesmo em inglês. Nasceu voltada para os jovens, surfistas – em São Paulo, o púlpito é uma prancha de surf – e outras tribos jovens. Deu certo, a igreja alternativa lotou. Não faço uma crítica negativa, prefiro ficar com a prudência de Jesus que alertou: quem não é contra nós é por nós (Mc 9.40; Lc 9.50), mesmo que algumas coisas que vejo me façam torcer o nariz.

Bem, toda igreja voltada para um público específico em sua fase infantil e adolescente, termina por se tornar uma senhora que abraça todo tipo de público, é fato. Perde assim suas características, digamos, mais 

transgressoras. A questão é que como relata reportagem recente da Folha de São Paulo, alguns estão tomando isso muito ao pé da letra. Não bastassem igrejas aplicando todo tipo de técnica empresarial e marketeira para crescer, agora isso, igrejas de perfil. Mas é parte natural de um processo, penso.

A reportagem fala da igreja 242, movimento nascido na Inglaterra e que está no Brasil a pelo menos dez anos. Ah, 242 refere-se a Atos 2:42: “E perseveravam na doutrina dos apóstolos e na comunhão, no partir do pão e nas orações.” A igreja congrega jovens, especialmente. Pratica a “teologia da inclusão” que significa “Jesus ama a todos”. Fora esta há outras tantas que reúnem emos, góticos, metaleiros, etc.

Lembrei de Mica e sua igreja (ver trecho Juízes 17.1-13). Mica morava na região montanhosa de Efraim, talvez não houvesse igrejas por perto, um ponto de pregação ou simplesmente estivesse cheio da igreja presente no mercado. A partir de um nebuloso fato em que rouba uma quantidade de prata de sua mãe e que depois parte dela são transformados em ídolos do lar, nasce uma igreja, com direito a estola sacerdotal e tudo mais e um sacerdote, seu filho – ainda existe muito este tipo de coisa, ministério hereditário.

Há uma guinada na igreja Micalina quando, por acaso lhe bate à porta um levita. O que um levita (pastor) anda perambulando fora de sua função é de se perguntar. Mas com este profissional do púlpito a igreja ganha outro status. A coisa toda vai bem por certo tempo até que o levita, ante uma proposta tentadora, bate asas e deixa Mica na mão. Não se sabe se ele construiu outra igreja.

O que fica disso tudo é que tanto num passado remoto como no presente, as coisas andam mais ou menos iguais. Uns fazem igrejas à sua imagem e semelhança, outros à semelhança do público que desejam atrair ou ainda as duas coisas. No meio há sempre o perigo de que os valores mais caros do Evangelho sejam instrumentalizados para agradar a uns e outros sem mais essa de que agradar, primeiro e acima de tudo, é ao Senhor. Mas eles sempre dizem que, na linha direta que tem com os céus, a sua maneira é que é a certa.

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