domingo, 19 de julho de 2015

Quem vê cara…

Imagine crescer com um irmão gêmeo não idêntico. Vocês teriam a mesma educação, a mesma escolarização, os mesmos interesses. Os dois seriam igualmente aventureiros e interessantes. Iriam à mesma academia e comeriam o mesmo tipo de comida. Espiritualmente e mentalmente, vocês seriam sósias. Mas teriam apenas uma diferença: o rosto.
Fonte: David Robson Da BBC Future (14/07/2015)
A expressão cara-de-pau não tem origem esclarecida em português. Os entendidos dizem que tanto cá como na terrinha, o sentido é o mesmo. Talvez porque o significado seja tão velho quanto o homem. Descaramento, desfaçatez, cinismo, cara lisa, caradura, são palavras que traduzem bem o cara-de-pau, bicho que no Brasil abunda e não corre o risco de chegar nem perto da extinção. Os mensalões, petrolões e afins, além da escumalha política, são pródigos nestes espécimens.
Enfim, leio que a cara, melhor, para ficar de acordo com a pesquisa, o rosto, define o futuro de quem o tem. Vale até para gêmeos idênticos, pois apesar de assim percebermos, eles têm sutis diferenças no rosto e isso, atestam os pesquisadores, definiria o destino de cada um.
Uma pessoa precisa de míseros 40 milésimos de segundo para julgar um rosto. O que vem depois daí vai depender de uma miríade de coisas, desde seus maus-bofes até a cara do indivíduo com suas microexpressões que, sabe-se lá, captamos e ali, sem maiores lero-leros, tomamos decisões, até mesmo de votar no dito. Já falo disso.
Para o bem e para o mal esta, digamos, capacidade, nos faz achar que alguém é honesto, por exemplo. Imagine. Olhamos e dizemos com nossos botões: tem cara de honesto. Como dizem, o diabo está nos detalhes, este dispositivo quase sobrenatural nem sempre acerta, donde podemos incorrer no que os pesquisadores denominaram em “preconceito facial”. Só faltava essa! Já se vive num mundo em que há mais merecidos que merecedores e ainda inventam esta marmota.
E ainda. Os cientistas atestam que este nosso radar erra muito, tanto quanto uma toupeira enxerga. E, absurdo, engana-nos, pois um indivíduo está disposto a deixar de lado o que sabe em favor do que vê.
Um rosto confiável tende a se dar bem até quando está num julgamento num tribunal. As pessoas caem até na esparrela de emprestar dinheiro apenas com aquela precária avaliação visual. Voluntários na pesquisa olharam vários rostos e, por este julgamento que dura menos que uma piscada de olho, diziam em quem votariam e costumavam acertar naqueles que, posteriormente se constatou, foram eleitos. Não sei se a politicalha brasileira descobriu a manha ou os milhões com que as empreiteiras irrigam suas campanhas permitem além do photoshop nos cartazes de parede contratar marqueteiros que subvertem até a gravidade para parecê-los tragáveis.
A coisa toda não tem nada a ver com beleza, esclareça-se, pois convenhamos, já se tentou de tudo com a Dilma e ela continua um canhão. Nem falo no andar delicado de tanque de guerra. Será que foram os dentes de coelho que a fazem fofinha? O topete, talvez isso. Falha-me o juízo para explicar e a pesquisa não trata da peculiaridade brasileira.
Uma cara com certos traços particulares pode definir, por exemplo, o sucesso entre assaltantes. Uma cara mais assustadora e aí não sei definir como seria, tende a ser menos violento, pasmem, e assim faturar mais porque infunde medo. É preciso ter cara até para ser assaltante ou não entre no negócio. Diferente dos gatunos políticos e seus coleguinhas que não precisam de cara nenhuma, só a cara-de-pau mesmo para mentir ainda quando pegos atolados até o pescoço em traquinagens as mais escalafobéticas.
Talvez tudo isso junto explique porque, sempre eles, os políticos brasileiros voltem mandato pós mandato: a acuidade visual do povo é tão boa quanto a de um daltônico, seu sensor está avariado e os velhacos sabem fazer uma cara honesta, com um sorriso enganador e nós caímos porque estamos, talvez evolutivamente, presos a esta habilidade que espero que os mais aptos a percam nas próximas quinhentas gerações.

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