Imagine crescer com um irmão gêmeo
não idêntico. Vocês teriam a mesma educação, a mesma
escolarização, os mesmos interesses. Os dois seriam igualmente
aventureiros e interessantes. Iriam à mesma academia e comeriam o
mesmo tipo de comida. Espiritualmente e mentalmente, vocês seriam
sósias. Mas teriam apenas uma diferença: o rosto.
Fonte:
David Robson Da BBC Future (14/07/2015)
A expressão cara-de-pau não tem
origem esclarecida em português. Os entendidos dizem que tanto cá
como na terrinha, o sentido é o mesmo. Talvez porque o significado
seja tão velho quanto o homem. Descaramento, desfaçatez, cinismo,
cara lisa, caradura, são palavras que traduzem bem o cara-de-pau,
bicho que no Brasil abunda e não corre o risco de chegar nem perto
da extinção. Os mensalões, petrolões e afins, além da escumalha
política, são pródigos nestes espécimens.
Enfim, leio que a cara, melhor,
para ficar de acordo com a pesquisa, o rosto, define o futuro de quem
o tem. Vale até para gêmeos idênticos, pois apesar de assim
percebermos, eles têm sutis diferenças no rosto e isso, atestam os
pesquisadores, definiria o destino de cada um.
Uma pessoa precisa de míseros 40
milésimos de segundo para julgar um rosto. O que vem depois daí vai
depender de uma miríade de coisas, desde seus maus-bofes até a cara
do indivíduo com suas microexpressões que, sabe-se lá, captamos e
ali, sem maiores lero-leros, tomamos decisões, até mesmo de votar
no dito. Já falo disso.
Para o bem e para o mal esta,
digamos, capacidade, nos faz achar que alguém é honesto, por
exemplo. Imagine. Olhamos e dizemos com nossos botões: tem cara de
honesto. Como dizem, o diabo está nos detalhes, este dispositivo
quase sobrenatural nem sempre acerta, donde podemos incorrer no que
os pesquisadores denominaram em “preconceito facial”. Só faltava
essa! Já se vive num mundo em que há mais merecidos que merecedores
e ainda inventam esta marmota.
E ainda. Os cientistas atestam que
este nosso radar erra muito, tanto quanto uma toupeira enxerga. E,
absurdo, engana-nos, pois um indivíduo está disposto a deixar de
lado o que sabe em favor do que vê.
Um rosto confiável tende a se dar
bem até quando está num julgamento num tribunal. As pessoas caem
até na esparrela de emprestar dinheiro apenas com aquela precária
avaliação visual. Voluntários na pesquisa olharam vários rostos
e, por este julgamento que dura menos que uma piscada de olho, diziam
em quem votariam e costumavam acertar naqueles que, posteriormente se
constatou, foram eleitos. Não sei se a politicalha brasileira
descobriu a manha ou os milhões com que as empreiteiras irrigam suas
campanhas permitem além do photoshop nos cartazes de parede
contratar marqueteiros que subvertem até a gravidade para parecê-los
tragáveis.
A coisa toda não tem nada a ver
com beleza, esclareça-se, pois convenhamos, já se tentou de tudo
com a Dilma e ela continua um canhão. Nem falo no andar delicado de
tanque de guerra. Será que foram os dentes de coelho que a fazem
fofinha? O topete, talvez isso. Falha-me o juízo para explicar e a
pesquisa não trata da peculiaridade brasileira.
Uma cara com certos traços
particulares pode definir, por exemplo, o sucesso entre assaltantes.
Uma cara mais assustadora e aí não sei definir como seria, tende a
ser menos violento, pasmem, e assim faturar mais porque infunde medo.
É preciso ter cara até para ser assaltante ou não entre no
negócio. Diferente dos gatunos políticos e seus coleguinhas que não
precisam de cara nenhuma, só a cara-de-pau mesmo para mentir ainda
quando pegos atolados até o pescoço em traquinagens as mais
escalafobéticas.
Talvez tudo isso junto explique
porque, sempre eles, os políticos brasileiros voltem mandato pós
mandato: a acuidade visual do povo é tão boa quanto a de um
daltônico, seu sensor está avariado e os velhacos sabem fazer uma
cara honesta, com um sorriso enganador e nós caímos porque estamos,
talvez evolutivamente, presos a esta habilidade que espero que os
mais aptos a percam nas próximas quinhentas gerações.
Nenhum comentário:
Postar um comentário