Pesquisa do IBGE revela
que, no Brasil, o número de famílias que criam cachorros já é maior do que o de
famílias que têm crianças. Causas demográficas e econômicas mostram que o
fenômeno, similar ao de países ricos, vai se acentuar daqui para a frente.
Fonte: Veja (Cecilia Ritto e Bianca
Alvarenga - 04/06/2015)
Eles são
fofos. Comem comida gourmet. Vão ao salão pelo menos uma vez por semana. Vestem
roupinhas transadas. Ganham brinquedos de aniversário. São levados para
passear. Ficam em hotéis especialmente pensados para eles e que tem uma bela
programação de entretenimento, com direito a muita brincadeira, piscina e até
massagem. Tem planos de saúde. São acarinhados e recebem todo tipo de mimo.
Os cachorros e
gatos estão com tudo. O IBGE disse que há mais bichos de estimação – que os
metidos adoram chamar de pets – que crianças no Brasil. Que estamos parecidos a
países ricos como o Japão. Ninguém fala quão longe estamos da qualidade de vida
que os japoneses – gente, não bicho – levam. Já um monte de estudiosos sociais
se debruçou a procurar explicações para o fenômeno, pois que é a onda do
momento.
Dizem que o
povo agora arruma as trouxas muito tarde. Que demoram a sair de casa. Que houve
aumento da população idosa e que, sozinhos, adotam bichos, que chamam de bebês.
Um desavisado cai facilmente na esparrela de pensar que os petófilos quando
falam de certa pessoa – às vezes eles têm nome de gente também – não é de gente
mesmo que falam. Até descobrir, meio consternados, que o tal Bob é um desses
cachorrinhos da moda. Sim, tem moda de cachorro. Tem época que ter uma raça é o
must da vida. Sou do tempo do pequinês. Ainda existem?
Ai de você se,
depois que o fulano bicho foi incluído na rede de amizades – isso inclui as
redes sociais, por suposto – esquecer o aniversário do – me desculpem – animal.
Bem esta falta ainda encontra perdão, mas se não for ao mensário ou festa do
aniversário do dito, ganhará um inimigo figadal pela desfeita. Seus pais/donos
adoram chamá-los de filhos. Acostume-se.
Mico mesmo é
quando se encontra o tal mimado em carne e osso. Aguente firme as lambidas
babadas, o sem modos da saudação. É de bom tom passar a mão na cabeça do bicho
e caso ele abocanhe sua mão, apenas ria e tente, pedindo desculpa aos pais,
retirar a mão da bocarra com jeitinho para que o coitado não tenha um ataque de
birra. Tudo isso acontecerá sob o riso condescendente deles. Ele quis fazer sua
perna de parque de diversão sexual? Faça piada e não perca a pose. Piada
politicamente correta, claro.
Ligou para o
amigo ou amiga e, por puro descuido, esqueceu de perguntar como anda o Bob. Vai
ouvir em tom de lamúria ou de cobrança: pô, fulano e você nem pergunta pelo
Bob? Ah, sim, e o Bob, como está? O pai/mãe todo pimpão: está ótimo. Você não
sabe da última. E lá vai deitar falação da inteligência, das traquinagens do
Bob. Só falta falar, dizem quase sem se conter. Bizarro! E você lá com cara de
nhô zé ouvindo com aquele sorriso amarelo na boca em tom de aprovação, pois não
é louco de não dar este sinal corporal.
Quer ser
aceito e festejado, minta descaradamente sobre gostar de bichinhos de
estimação. Rem3endo. Filhinhos, babies, lindinhos. Defenda status de gente para
eles, pois como dizia o filósofo canastrão abestado Magri – procurem no Google
– cachorro também é gente. Se não fizer, vai perder emprego, não vai conseguir
se reposicionar no mercado. Quer ser da hora? Ponha umas fotos de cachorro no
perfil do facebook. De preferência, aquelas típicas de sacos de ração: uma
praia ou campo verdejante, você correndo e o bicho morto de feliz ao seu lado.
Morto é só figura de linguagem, não me entendam mal, não há qualquer sugestão
terrorista implícita.
Pega bem pra
caramba ser membro, mesmo que seja fictícia, de uma sociedade protetora, nem
que seja das baratas cascudas ou dos coelhos cotós. Quando foi a última vez que
você encheu o saco dos passantes para pedir dinheiro para os vira-latas que não
sabem balançar o rabo? Erro crasso se quiser ter assunto nas rodas. Uma
tardezinha no semáforo já para compensar o desleixo com a causa!
Criança? Pra que criança?
Essa coisa esquisita que só dá trabalho. Você se mata de trabalhar para dar
tudo, ainda carrega nove meses na barriga, crescem, abandonam a gente, não dão
a mínima. Nunca reconhecem seu sacrifício. Quando aparecem é para pedir e são
um posso de mal agradecimento. Eu hein?!!
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