sábado, 13 de junho de 2015

Salvem as galinhas. Chamem as raposas.

Desde o início da análise da reforma política, foram aprovadas cinco mudanças na legislação: mudança do tempo de mandato, fim da reeleição, restrições de acesso de pequenos partidos ao fundo partidário, permissão de doações de empresas a legendas e alteração da idade mínima para concorrer ao Legislativo.

Fonte: G1 (11/06/2015)

Às vezes o mundo parece um mar em calmaria para minha sensibilidade e o objetivo desta coluna. É uma roça achar algo que force minha mente a desconstruir as histórias que encontro, de tão insossas. Mas esta semana a coisa estava impossível. Meu dilema era o que fazer entre os sexshops kosher e o ungido, este dos evangélicos; a nudez dos turistas que, segundo o governo malaio, causou um terremoto que abalou uma montanha. Todos os assuntos deveras interessantes, mas voltarei a eles noutro momento.
Correndo por fora, veio com força a reforma política que os deputados e senadores, depois de anos de enrolação, resolveram botar a mão na massa e realizá-la... do jeito deles. Que maneira de se falar dessa reforma que os ilustres legisladores insistem em dizer que será a melhor para a sociedade?
A assembleia entre os bichos da fazenda havia começado. Sim, copio descaradamente a ideia do George Orwell em a Revolução dos Bichos. Façamo-lo à brasileira.
O problema é que o galinheiro sofrera vários ataques. Era um tal de Mensalão pra cá, Lava Jato pra lá, sem contar um monte de coisinhas igualmente nocivas, mas não tão famosas que, mesmo assim, consumiam tudo das penosas. As grades do galinheiro estavam furadas, a porta arrombada e sem conserto há anos. A casinha para as galinhas dormirem, construída na época do BNH, era só goteira. Mas havia quem cantasse “chão de estrelas” para disfarçar a penúria.
Um impasse: não havia verba para tanto reparo. As galinhas punham seus ovinhos ao relento. Alguém passava para recolher os ovos em dia e hora certa em ponto e não tinha moleza de diminuir a quantidade, parcelar os ovos, só aumentavam a cota. Não havia cloaca que aguentasse por tanto ovo e nem um unguentozinho para aliviar o esforço.
Eis que surgem umas raposas muito simpáticas e se ofereceram para arrumar o caos instalado. Tinham resposta para tudo e soluções idem. Tudo em favor da galinhada que, apesar de certa desconfiança a princípio, logo começaram a acreditar nas lorotas. Uma raposa prometeu diminuir a quantidade de ovos arrecadados. Outra sinalizou que a questão da segurança era com ela. E ainda outra disse que novas normas no galinheiro premiariam uma vida de esforço, se é que me entendem, na produção dos ovos. Ao final de tudo, nada de panela, essa coisa monstruosa e selvagem. Só milhinho mole e espaço para ciscar.

Que as galinhas deveriam votar nas raposas. Porque eram experientes, como entende o Pelé. Que continuaria o voto proporcional para dar chance aos Tiriricas. Que se manteria obrigatório este ato cívico. Que se mudaria a idade de novas raposinhas trabalharem feito escravas para as galinhas, mas é porque seus filhinhos ou apadrinhadinhos deveriam ralar em favor do galinheiro mais cedo. Só isso. Que se acabaria com esta marmota de reeleição para a gerência do galinheiro – que deveria ser sempre uma raposa, desde que ela fosse de cor diferente da anterior –, mas o mandato aumentaria.
As galinhas, com aquelas caras parvas, bico aberto, viravam a cabeça de um lado e outro como a assuntar para entender tudo com seu cérebro galináceo. As raposas contentes riram-se umas para as outras. Repetiram todas juntas que faziam tudo aquilo em favor das galinhas por puro amor a elas, em prejuízo pessoal. Já estava tudo acertado. Quem bancaria as eleições, que empresas fariam os trabalhos de reparo do galinheiro, tudo licitado nos conformes e que os recursos que financiariam a realização deste desenvolvimento ímpar, já estavam contabilizados e aprovados devidamente pelo TSE, TCU e o que mais ainda fosse criado para vigiá-las. Esse lugar é um paraíso(polis).

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