terça-feira, 2 de junho de 2015

Pense como um Freak (bleagh!)



Quando a dupla Steven D. Levitt e Stephen J. Dubner – o primeiro, professor de economia e o
segundo, um jornalista – lançaram Freakcnonomics (2005) causaram grande impacto pela originalidade da ideia. Eles se dedicaram a coletar dados e fazer análises estatísticas, digamos, bizarras, para chegar a conclusões fora do pensamento comum. Mas não sem muitas ressalvas que eles faziam questão de dizer. O exemplo mais vistoso, no meu ponto de vista, é sobre a relação entre criminalidade e aborto.
A lei que autorizou a prática do aborto nos EUA nasceu de uma briga judicial que foi parar na Suprema Corte, o caso Roe vs Wade em 1973. Desde então, quase todos os estados americanos autorizam a interrupção da gravidez. Pois bem, desde aquela data cerca de 50 milhões abortos foram praticados. A maioria deles, segundo mostram os dados de Freakconomics, em famílias de baixa renda, negros que, possivelmente, engrossariam o exército de marginais. Como não nasceram, um efeito benéfico, segundo concluem, foi a redução da criminalidade.
Claro que concluir algo assim a partir de dados sem considerar as implicações morais e éticas deste raciocínio é o grande problema, ainda mais que Jane Roe, a litigante em favor do aborto, mentiu para ganhar a causa. Mas é por isso que a ideia é freak ou aberrante. Freakconomics vendeu milhões de exemplares.
A dupla resolveu fazer disso um meio de vida. Analisar aberrações estatísticas. A editora da dupla e eles mesmos, claro, viram um filão onde poderiam ganhar milhões. Palestras, cursos e mais livros explorando o tema. Daí nasceu um filhote que chamaram de “Pense como um freak”. O terceiro da série. Entre ele e o primeiro foi lançado “Superfreakconomics”. Eis o problema. A fonte secou.
O “Pense como um freak” ensaia ensinar uma forma de pensar que seria inteligente. Fora da caixa, como se diz. Mas produz uma estrovenga, um frank (de Frankestein), pois o livro não consegue fazer ninguém pensar por um ângulo inusual e, na ideia deles, mais inteligente, pois levaria a pessoa a perceber os problemas de forma diferente e, imaginam, achar soluções inovadoras. A verve do livro original acabou, definitivamente. Não, você não pensa de forma mais inteligente depois do livro.
Eles requentam um monte de coisa do livro de sucesso e o leitor – eu – fica com sensação de ter sido enganado. Repetem ideias a título de exemplo, mas é porque não sabem o que fazer para melhorar o livro ruim que colocaram nas prateleiras das livrarias. O primeiro livro chega a ser divertido. É curioso. Este último é um lixo. O leitor deveria ser ressarcido pela perda de tempo.

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