domingo, 15 de fevereiro de 2015

Sniper



Clinton Eastwood, aos 84 anos, com uma filmografia invejável, ainda mantém a mão firme para segurar a direção de um filme. Ainda consegue fazer um filme relevante e contar uma história e nos prenda na cadeira. Sniper Americano, à parte do debate de ser mais um filme que glorifica a guerra ou aos americanos, isolado desta fatal desta queda livre em parafuso, é uma história que vale a pena ver.
Sniper não escorrega para se tornar fácil. A história mantém certa ambiguidade, embora, curiosamente, o atirador em apenas dois momentos demonstre sofrimento moral. Na primeira incursão tem um batismo de fogo: uma mulher e uma criança saem de um prédio deteriorado para enfrentar sozinhos um batalhão de soldados e um blindado. A mulher carrega uma granada, repassa ao garoto que corre em direção aos soldados.
Seguem-se segundos de vazio de ordem. Como agir? Quem pode determinar atirar numa criança? Parece que a situação foge a todos os manuais de treinamento. Ao consultar o superior pelo rádio, o interlocutor devolve que está numa posição mais cega ainda. A decisão é inteiramente do atirador que tem uma única regra por seguir: proteger o batalhão. O companheiro do lado sugere que agir pode lhe custar um processo e cadeia.
Atira. A criança é abatida. A mulher sem parar pega a granada e tenta lançar contra os militares, também é abatida. Chris Kyle (Bladley Cooper) retorna como herói, afinal cumprira seu dever. Mas ninguém se importa com o dilema que ele carrega, mesmo que, no filme, ocupe poucas cenas. Parece que todos tem certeza porque estão na guerra. É o início da guerra do Iraque, a fantasia de que lutavam para libertar o povo de Sadan e aos americanos das armas de destruição em massa ainda funcionava como verdade absoluta.
As missões se seguem, quatro ao todo. Um casamento, dois filhos e um homem que vai sendo moído pela guerra sem se dar conta. Sua mulher diz isso para ele. A cada retorno, o homem vai perdendo sua humanidade: é um autômato com enorme sensibilidade a tudo que lhe lembre a guerra.
Experimentado e já uma lenda, outra criança atravessa seu caminho. Abate um homem e um garoto que estava por perto tenta pegar e atirar o RPG. Kyle se desespera ao torcer para que a criança solte a arma. Uma eternidade se passa, o dedo roça o gatilho. Então o menino joga a arma no chão e corre. Kyle quase explode de ansiedade.
O retorno para casa é dramático, até que busca auxílio terapêutico. Começa a ajudar veteranos mutilados, seja física ou mentalmente como ele, aparentemente, quase se tornou. Um desses lhe arrancará a vida. 
Parece que a guerra é inevitável. Por razões tolas e loucas ou nobres elas ainda nos fustigarão por muito tempo. Estamos atavicamente presos à necessidade de derramar sangue. Daí forjamos nossos heróis. Celebramos a liberdade, a paz e a fraternidade.

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