Clinton
Eastwood, aos 84 anos, com uma filmografia invejável, ainda mantém a mão firme
para segurar a direção de um filme. Ainda consegue fazer um filme relevante e
contar uma história e nos prenda na cadeira. Sniper Americano, à parte do
debate de ser mais um filme que glorifica a guerra ou aos americanos, isolado
desta fatal desta queda livre em parafuso, é uma história que vale a pena ver.
Sniper não
escorrega para se tornar fácil. A história mantém certa ambiguidade, embora,
curiosamente, o atirador em apenas dois momentos demonstre sofrimento moral. Na
primeira incursão tem um batismo de fogo: uma mulher e uma criança saem de um
prédio deteriorado para enfrentar sozinhos um batalhão de soldados e um
blindado. A mulher carrega uma granada, repassa ao garoto que corre em direção
aos soldados.
Seguem-se
segundos de vazio de ordem. Como agir? Quem pode determinar atirar numa
criança? Parece que a situação foge a todos os manuais de treinamento. Ao consultar
o superior pelo rádio, o interlocutor devolve que está numa posição mais cega
ainda. A decisão é inteiramente do atirador que tem uma única regra por seguir:
proteger o batalhão. O companheiro do lado sugere que agir pode lhe custar um
processo e cadeia.
Atira. A
criança é abatida. A mulher sem parar pega a granada e tenta lançar contra os
militares, também é abatida. Chris Kyle (Bladley Cooper) retorna como herói,
afinal cumprira seu dever. Mas ninguém se importa com o dilema que ele carrega,
mesmo que, no filme, ocupe poucas cenas. Parece que todos tem certeza porque
estão na guerra. É o início da guerra do Iraque, a fantasia de que lutavam para
libertar o povo de Sadan e aos americanos das armas de destruição em massa ainda
funcionava como verdade absoluta.
As missões se
seguem, quatro ao todo. Um casamento, dois filhos e um homem que vai sendo
moído pela guerra sem se dar conta. Sua mulher diz isso para ele. A cada
retorno, o homem vai perdendo sua humanidade: é um autômato com enorme
sensibilidade a tudo que lhe lembre a guerra.
Experimentado
e já uma lenda, outra criança atravessa seu caminho. Abate um homem e um garoto
que estava por perto tenta pegar e atirar o RPG. Kyle se desespera ao torcer
para que a criança solte a arma. Uma eternidade se passa, o dedo roça o gatilho.
Então o menino joga a arma no chão e corre. Kyle quase explode de ansiedade.
O retorno para
casa é dramático, até que busca auxílio terapêutico. Começa a ajudar veteranos
mutilados, seja física ou mentalmente como ele, aparentemente, quase se tornou.
Um desses lhe arrancará a vida.
Parece que a guerra é
inevitável. Por razões tolas e loucas ou nobres elas ainda nos fustigarão por
muito tempo. Estamos atavicamente presos à necessidade de derramar sangue. Daí forjamos
nossos heróis. Celebramos a liberdade, a paz e a fraternidade.
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