A perícia atestou que o ovo do Eike não é uma das joias produzidas por
Peter Fabergé entre 1885 a 1917 para os czares da Rússia. É uma réplica que sai
por 65 dólares em sites de comércio eletrônico.
Fonte:
Revista Veja (radar on line, Lauro Jardim. 13/02/2015)
A sanha da
polícia federal ainda não acabou. A cada dia uma batida em uma mansão diferente
do Eike e lá se vão quadros, pencas de relógios, carrões, um iate e outros
badulaques de ostentação que ele tanto adorava. Um juiz percebeu uma traquinagem
do mega ex-rico para conservar dinheiro e bens e mandou arrestar o que
conseguissem pegar. Um alvoroço só, menos a Luma que apareceu ainda
deslumbrante atrás de uma janela com um sorriso daqueles do tempo em que fazia
meio mundo de marmanjos babarem em plena Sapucaí e ainda carregava uma coleira
com o nome do Eike. E vejam que o ralado romance dos 50 tons de cinza nem
estava perto de ser publicado.
Peçanha,
policial federal das antigas, ainda em operação por, segundo diz, um erro na
contabilização dos anos dedicados a prender patifes de todo tipo, desenvolveu
nas horas vagas um hobby no mínimo curioso para um profissional desse quilate.
Peçanha gosta de arte. Não esta “bosta” pós-moderna, dita abstrata e altamente
questionável que se um não explica por horas, não se sabe o que o tal
autoproclamado artista quis fazer/dizer. E ele carrega na pronúncia da palavra
merdófila tentando expressar seu desprezo.
Numa das
últimas incursões a mais uma das casas do magnata falido, ele se ofereceu para
fazer parte. O delegado chefe da operação resistiu. Peçanha puxa de uma perna,
levemente, é verdade. E tem tiques estranhos. Ele não passa facilmente
despercebido. Uma operação pede certa discrição, quiçá, um disfarce. Digamos
que Peçanha não desse grande credibilidade à artimanha farsesca. Que cacoetes o
entregassem como um lunático. Ele lembrou acertadamente que estamos no
carnaval. Ninguém liga para estranhezas nesta época. Ponto para Peçanha, mas o
que convenceu o delegado foi ele dizer que era conhecedor diletante de arte. Um
especialista amador, como gosta de se definir. Claro está que arte vale muito e
malandros da estirpe do Eike matam dois coelhos: parecem sofisticados e escondem
dinheiro não contabilizado como gosta o PT.
Peçanha seria
o consultor informal de arte numa operação de grande repercussão na mídia. Quem
sabe a aposentadoria não seria dedicada a este seu lado mais soft e menos
brucutu? Pois foi entrar na casa e na sala pesadamente decorada, numa lateral, sobre
uma mesinha de jacarandá havia um ovo de Farbegé. Os olhos de Peçanha
brilharam. Lembrou-se que numa revista de amenidades seu Eike posava ao lado do
ovo. Não teve dúvida, agarrou o delegado pelo braço e disse: olhe. Este objeto
vale mais que tudo que vocês já cataram do seu Eike.
Isso?! Indagou
o delegado, entre estupefato e alegre. Um ovo Farbegé, disse Peçanha. Isso vale
milhões. De reais? Quis saber o delegado. De Euros, meu amigo. Havia certa
incredulidade no delegado ao pegar o ovo ricamente adornado. Pedras preciosas,
ouro, platina. Devia ser verdade. Mas havia que ser certificado, catalogado e
registrado por especialista juramentado. Peçanha despejou mais conhecimento
sobre os ovos, enquanto entretinha o policial sobre a tradição da Rússia
czarista.
Em poucos dias veio a
notícia e divulgada com estardalhaço. Era mais uma forma de escancarar o mundo
de fantasia no qual vivia seu Eike. Mais uma vergonha para aquele que arrotava
o alvo de ser o homem mais rico do mundo. O ovo era falso. Deram baixa do ovo
na lista de bens apreendidos. Azar dos credores. Era uma réplica que custava
míseros 65 dólares. Peçanha sentiu como se ele próprio tivesse sido
desmascarado. E agora, assim como a fortuna do ricaço descia pelo ralo, seu
futuro de consultor de arte havia se evaporado com o ovo do Eike.
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