O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) vai lançar
um estudo inédito realizado especialmente para ser divulgado
durante a III Conferência Nacional de Igualdade Racial (III Conapir). Baseado nos dados estatísticos do Censo Demográfico
de 2010, o mapeamento aponta a distribuição da população por cor ou raça em todo o território nacional.
Fonte: Secretaria de Políticas de Promoção Da Igualdade Racial
(05/11/2013)
Não sei dizer.
Fico estremecido, como que atado das ideias. Não sei que diga. É assim toda vez
que me dão um formulário em que tenho que dizer a cor ou raça. No Brasil, é uma
bagunça que começou quando Caminha de forma um tanto tola descrevia, entre admirado
e lúbrico, a nudez das índias, que seja, dos índios também. Dizia que eles não
tinham pudor de mostrar as vergonhas. Vergonhas vocês sabem. É lá, as partes
pudendas. Acho que daí já começou o destrambelho. Imagine se não.
Volto. Pois me
desconsola esta história de cor e raça. Porque não sei o que sou. Podia me
dizer mestiço, mas a palavra não é usada para registrar pesquisa desde o início
do século XX. Por absoluta incapacidade de saber, arrumaram o termo pardo. Isso
significa o quê? Nada, digo. Pois não é cor nenhuma. Raça muito menos. Queria
dizer uma cor, assim, determinada. Fosse o que fosse. Mas entre preto, índio e
amarelo e branco – correndo por fora, o caboclo – só me resta este descolorimento
sem sal: pardo.
E olhe que, se
alguém presta atenção no tal IBGE é de ficar boquiaberto, porque estes pobres
coitados que nem eu só aumentam. Já tentaram misturar nos dados estatísticos,
pretos e pardos. Era igual a uma categoria: negros. Mas, acho, os pretos se
espezinharam, ou algum estudo disse que eram coisas muito diferentes, mas meio
parecidas também, quer dizer nem lá, nem cá. Ora, fosse eu preto retinto,
também não queria me misturar, pois nesta condição é como se um descorasse para
ficar igual e ninguém quem quer isso. Essa coisa indefinida que nós pardos
somos.
Imagine você
que há quem louve esta massa pardacenta como símbolo da democracia racial no
país. Sei não. Nós pardos aumentamos, aumentamos e já há quem diga que os
brancos vão se acabar só da misturança em nós e continuam com um status um
tanto desvalorizado. Provo. Alguém já ouviu ou viu falar em política afirmativa
para pardos? Duvido. Não tem. Os amarelos também não. Mas estes são um caso à
parte. Mas tão se misturando muito também e daqui a pouco vamos ter os pardos
amarelados, aí é que vou querer ver. Será que terão o mesmo destino de nós
pardos?
Mas dizia. Não
tem política afirmativa para os pardos. Não sei se porque é gente demais. A
Bahia, veja só, que tem muito preto, é só um tico assim de gente dessa cor. Já
pardos é mais da metade da população. De onde é que vem tanto pardo assim? Me dá
gastura de pensar que podemos acabar sendo acusados de ter exterminado com as
outras cores e raças. Se eles, os de cor de verdade, se misturam, dá cafuzo,
mulato, mameluco. Outra cor com os amarelos me escapa no que dá: nissei,
sansei... nunsei. Pois bem. Se se misturam, dão nomes assim de estranhos, mas é
tudo pardo no final das contas. E se um pardo se mistura com qualquer cor no
fim nasce um pardinho.
No Pará,
coração, tripa e fato da Amazônia, quase não tem mais índio. É tudo pardo. Foi
o IBGE que disse. Onde é que vamos parar, meu Deus?! Então, se digo que sou
branco, os brancos se abespinham. Se me assemelho aos pretos, estes me
esconjuram. Índio até daria, mas o cabelo meio encarapinhado não ajuda. Amarelo,
nem pensar. Teria que ficar segurando o canto dos olhos e aí não fazia mais
nada.
O país inteiro
ficando pardo e para eles (nós) nada. Isso é que é. Por isso, fico tão
desconsolado. Para os pretos e índios há mais cuidado, seja lá a razão que dão.
Os brancos, dizem, não carecem de ajuda, embora tenha branco lascado de todo
jeito, independente de se no passado eles se deram bem. Pagam agora pelo
passado. Os amarelos não ganham nada, mas também não precisam. E se bestar, os
gays, com a propaganda que fazem, vão começar a ter cota e bolsa já, já. Do
jeito que a coisa vai.
Desacredito
de que seja pardo. Mas também não sei o que seja. Acho que é por isso que não
figuramos em nada porque o governo também não sabe o que faça. Vai dar bolsa
cota-qualquer-coisa pra nós como? Só se a gente começar a negar esta raça
indefinida e essa cor de nada que temos. Isso. Mentir descaradamente. Define-se
cor no Brasil é nos olhos. Você diz de que cor quer ser. Ora, eis aí nossa
saída! Vamos nos dizer da cor que quisermos. Só não vamos exagerar, né pessoal.
Tem que parecer. Até começarem a fazer teste genético como em GATACA, acho que
quebra o galho.
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