“Para Roma com
Amor” é o mais novo filme da grife Woody Allen. Suas últimas obras tem se
realizado em cidades européias como se fossem elas mesmas as protagonistas.
Vicky Cristina Barcelona. Meia Noite em Paris. Três outros filmes foram rodados
em Londres, mas sem o nome desta cidade em seus títulos.
Sim, Allen
continua colecionando prêmios, beliscando Oscars e ganhando muito dinheiro –
“Meia Noite em Paris” faturou mais de 150 milhões de dólares –, mas tenho
saudade do Allen de Nova York, cidade onde rodou, para mim, seus melhores
filmes. Quando digo melhor, quero dizer aquilo em que este grande autor,
diretor, roteirista, escritor mais se destaca: os diálogos entre os
personagens. Os tipos tão humanamente parecidos com o homem comum, porém com
inteligência e humor embarcados e incrível capacidade de rir de suas próprias
misérias.
Para Roma com
Amor é, em minha opinião, triste. Porque embora todo ator hollywoodiano queira
ter uma participação nos filmes de Allen em seu currículo filmográfico, parece
que está cada vez menos atraente sob o ponto de vista da qualidade. Os diálogos
são óbvios. As gagues são clichês e alguns atores foram protocolares e
artificiais. A fotografia do filme, contudo, é linda porque Roma em si é melhor
que qualquer cenário. E só.
As quatro
histórias seguem em paralelo e em vários momentos tive a sensação como se
estivesse numa sala de cinema e de repente alguém chegasse e dissesse: agora
atravesse a rua e entre no cinema em frente para ver o filme que está sendo
projetado lá. Talvez o autor quisesse produzir esta sensação, sei lá. Mas com
que propósito?
O próprio
Allen participa do filme. Mas é uma caricatura daquilo que foi. E não tem nada
a ver com velhice – Allen tem 77 anos -, simplesmente a veia criativa parece
estar esgotada. Um dos personagens, talvez o mais interessante, mas repete algo
do “Meia Noite em Paris”, é o de Alec Baldwin (John), que encontra a si mesmo no início da
carreira – o personagem teria vivido lá – e tenta dizer a si mesmo que evite
certos erros antes que estrague tudo. É a futurologia reversa, que é sempre
interessante como ponto de partida, mas...
Roberto Benini
(Leopoldo), outro personagem – acho que foi uma concessão a um ator de destaque
na Itália – continua o mesmo. Ele é aquele tipo de ator que você não sabe
quando ele atua ou quando é ele mesmo. Repete-se no filme que lhe rendeu um
Oscar de melhor ator em 1999, “A Vida é Bela”.
Allen, com este personagem, critica a produção de subcelebridades
instantâneas. É entediante.
Os demais
personagens dispensam comentários. Estão lá para compor os outros quadros,
afinal são quatro estórias que perambulam em paralelo. Sim, Penélope Cruz
(Anna) faz uma prostituta que atua com dois outros atores italianos num
triângulo amoroso involuntário e neste imbróglio o filme tem alguns momentos
engraçados.
Mas não quero
ser tão rabugento assim, ainda gosto de ver o Woody Allen, só espero que da
próxima vez – o próximo projeto dele já está em andamento - volte aos velhos
temas que sabe fazer tão bem ou explore uma veia na qual ele foi ótimo: o
suspense em “Match Point”, ou ainda o drama comovente em “O Sonho de
Cassandra”. O cenário desse próximo filme será em San Francisco, California. Ele
mesmo indica que será um drama.
O mais terrível na minha
sessão de cinema, a despeito de minha opinião aqui expressa não tão favorável
ao filme, foi estar perto por um tempo – claro, eu mudei de assento – de um
abestado que dava gargalhadas tão altas que acho que se não for uma pessoa com
QI abaixo de 60, devia ser só mais um mal educado.
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