segunda-feira, 16 de março de 2009

Peixe é que morre pela boca (cachorro também)


Uma lavradora de 31 anos foi presa na terça-feira (3) por suspeita tentar matar o marido, também lavrador, de 37 anos, com uma coxinha envenenada em Conchal, a 184 km de São Paulo. A informação é da Secretaria da Segurança Pública do estado.
Fonte: G1

 

Clarimunda não era mais a mesma. E olha que homem para se dar conta das coisas, demooora. Didu percebia que sua mulher mudara, mas em quê exatamente? Isso não sabia e como a desconfiança com ela ia e vinha como mosca, que teima em sentar no mesmo lugar, ele deixava passar. De todo modo, era preciso manter as antenas ligadas.

Desde o namoro, ela era dada a rompantes de raiva, tornava-se agressiva, mas aquilo, pode se dizer, temperava a relação. Bastava uma pequena contrariedade e ela atacava. Ele ganhava uns beliscões, umas unhadas, era quase divertido ter que inventar desculpas para as perguntas das pessoas próximas sobre as agatanhadelas. E a brincadeira consistia em ele desdobrar-se para amansá-la. Sentia-se o próprio domador de uma égua chucra. Paixão cega. Mas os sinais estavam lá, aquela mulher tinha um instinto assassino.

Inventar historinhas aumentava o segredo e criava uma sensação de transgressão que eles apreciavam. Riam juntos, quando ele contava as improváveis causas das injúrias na pele aos curiosos. Algumas vezes, ele pressentiu que brincava com fogo, mas logo arranjava várias desculpas para uma relação que era, afinal, moderna, explorava sensações diferentes.

Mas esse tempo havia passado há muito. A rotina se estabeleceu e perderam-se os dois na luta pela sobrevivência e até conseguiram amealhar umas coisinhas, incluindo casa, um carrinho usado (é horrível dizer semi-novo), uma poupança para emergências. Os jogos amorosos entre eles perderam a graça, mas Clarimunda manteve uma queda pelo trágico e o mórbido. Alguns bichos de estimação morreram ou desapareceram sem deixar vestígios. O último fora um galo de briga que Didu tratava a pão de ló.

Dia desses, Didu chegou em casa no final da tarde e Clara – preferia esta forma do nome ao verdadeiro –, cheia de mesuras, ofereceu umas coxinhas. Os quitutes ainda estavam fumaçando. Nisso ela era muito boa, talvez explicasse a longevidade do casamento. Quisesse matar Didu, era oferecer umas coxinhas que ele adorava tomar com cerveja.

A mulher ficou em pé, olhando ele pegar a coxinha, esfregava as mãos e mostrava um riso estranho, nervoso. Ele encheu a boca com um grande pedaço e... cuspiu. Ô Clara, a coxinha não está boa não. Vixe, será que castiguei no tempero? Vem cá Flunxo, toma. Dá pro bicho não, demorei tanto pra fazer. Vou comer outra, quem sabe tá melhor? Flunxo, o cachorro da família, que olhava pidão para seu dono, abocanhou a coxinha de uma vez e... caiu duro ganindo.

Didu, pasmado, com a outra coxinha na mão, olhou para a mulher que se escafedeu para a cozinha. Tinha certeza, um pedacinho de nada ele engoliu. Saiu em desabalada carreira para o pronto-socorro. Uma lavagem estomacal depois, foi para a delegacia. Diante da polícia, Clarimunda confessou. Desviou o dinheiro da poupança do casal para algo que nem se arrancassem suas unhas a torquês ela confessaria, com medo de Didu descobrir. Resolveu matá-lo com a coxinha envenenada.

A senhora não podia simplesmente contar para o seu marido que havia desviado o dinheiro? É. Então, minha senhora, que atitude tresloucada foi essa? Não sei. Não consegui pensar noutra coisa, achei mais fácil matar. Mas a coxinha tava boa, não tava não, Didu? Tirante o tempero...

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