Trabalhador ou
apenas um estudante no último ano do ensino médio, universitário ou
profissional, as pessoas são massacradas pela cantilena do extra(ordinário).
Cobra-se correr uma carreira que, na verdade, não tem ponto de chegada, afinal
o mundo evolui minuto a minuto, dizem os áulicos das perfeitezas. A
concorrência está agora mesmo evoluindo e você não. O mercado exige o mais
qualificado nessa incessante corrida evolutiva em que apenas os mais aptos
sobrevivem.
Resultado:
muitos sucumbem. Alguns desenvolvem um complexo de inferioridade permanente;
outros se tornam ressentidos; há os que se esfalfam em mimetizar certo estilo
vitorioso, vendido nas gôndolas de autoajuda; e ainda existem os que consomem
todo tipo de promessa e fórmulas que o transformarão, sem dúvida, num vencedor.
Em comum, todos eles tem a característica de que são menos eles mesmos, daí a
necessidade de quem lhes dê referenciais.
Kakonomia é
uma palavra que, talvez, você nunca ouviu falar. Nem eu, até me deparar com um
artigo que descrevia um estudo sobre mediocridade escrito por um sociólogo,
Diego Gambetta, e da filósofa Gloria Origgi. Kako é uma palavra grega que
significa “mal” ou “ruim”. O termo da
dupla poderia ser traduzido como ciência da mediocridade.
Parece que os
pesquisadores tentam retirar o véu de vergonha sobre aqueles que não ousam
assumir o nome, mas que, segundo eles, conspiram conscientemente – embora
disfarçados, acrescento – para alcançar o resultado mais medíocre possível.
Estas pessoas simplesmente não suportam o que os autores chamaram de “tirania
da excelência”.
Quem seria o
medíocre, segundo o estudo de Origgi e Gambetta? O sujeito banal, simples,
comum. Aquele que escolheu respirar mais, ter mais tempo disponível, embora com
menos dinheiro no bolso. Um argumento válido é que muitos trabalham tanto para
ter muito dinheiro e não conseguem usufruir o que ele proporciona. Evidente que
cabe muito contraditório em tal afirmação, mas é fato também que nem todos
serão os melhores em suas profissões e, no entanto, terão uma vida
satisfatória. Mas vivem sufocados por aquilo que devem ser e fazer, caso
contrário, fracassarão. Fracasso definido pelo dicionário de quem?
Origgi defende
que “às vezes, toda essa retórica sobre eficiência é simplesmente
insuportável.” Talvez tenha razão. A questão a ser esclarecida é: ser medíocre
é apenas ser mediano, livre das exigências das excepcionalidades que, parece,
todos devem buscar ou ser? É fruto, portanto, de uma escolha consciente de
alguém que significa a vida com valores menos materiais, de consumo e posse?
Ou... é um disfarce para esconder o fracasso? Uma cortina de fumaça para aquele
que desistiu? Uma desculpa para o preguiçoso? Uma justificativa para todo que
não acredita em si mesmo?
A palavra
brinca com as opções. Em sua origem não tinha conotação pejorativa. Uma
explicação que acho interessante: medíocre é a junção de medius + ocris. O
significado da primeira é óbvio, o da segunda é montanha ou penhasco encarpado.
Logo, ser medíocre seria ficar a meio caminho na subida da montanha. A vista a
meia montanha ainda é bonita.
Num
lado do sentido há muita gente que está apenas cansada. Que não se encaixa.
Mas, no outro, há muito mais daqueles que comodamente desejam ser banais e,
sendo pouco mais que inúteis, se orgulham disso. Acho que prefiro ser/estar a
Manoel de Barros: “Não aguento ser apenas / um
sujeito que abre / portas, que puxa / válvulas, que olha o / relógio, que
compra pão / às 6 da tarde, que vai / lá fora, que aponta lápis, que vê a uva
etc. etc.”
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