Na cerimônia de entrega do “Prêmio
Jovem Cientista”, na terça, em Brasília, na presença do ministro da Ciência e
Tecnologia, Aldo Rebelo, e dos agraciados, a presidente Dilma Rousseff disse
mais uma para a posteridade: “(…) Considerando a
capacidade de distribuir o seu desenvolvimento com a sua população, transformar
o mundo significa, necessariamente, levar a cada uma das pessoas as melhores
condições de vida, né, Aldo?, desde a Arca de Noé”.
Fonte: Blog do Reinaldo Azevedo (16/09/2015)
O senhor, seu Noé, é acusado de ter começado, supostamente, a querer
transformar o mundo e levar melhores condições de vida às pessoas. A (ainda)
presidente do Brasil disse que é desde sua Arca. Em se tratando de uma, vá lá, autoridade,
há de se dar a ela alguma credibilidade, não que esta autoridade em particular
saiba exatamente o que diz. Mas, enfim, a acusação foi feita e queremos saber o
que o senhor tem a dizer.
Noé pareceu não ouvir. O martelo batia pancadas secas na madeira da
Arca. Virava-se de quando em vez e falava a um dos filhos que lambuzasse um
breu nas frestas cheias de raspas de madeira, para calafetar a barcaça. Vai
chover, dizia, vai chover. O repórter ficou meio que no vácuo. Noé tinha pressa
e, pelo visto, nenhum interesse na acusação que lhe foi feita.
Seu Noé, insistiu o repórter, o senhor não vai dizer nada à Gazeta de
Notícias do Dilúvio? Por fim, Noé virou-se e perguntou de supetão: Quem acusou?
O repórter abriu um sorriso. A presidente brasileira. E quem é essa, posso
saber? É presidente de um país que fica... Não importa, ainda vai ser
descoberto daqui a mais ou menos três, quatro mil anos, acho. Mais uns
quinhentos anos para esta pessoa aparecer e destruir o país dela com outro tipo
de Dilúvio. Noé estava entre entediado e pasmo.
Pois nego. Nega o quê? Nego o que quer que esta senhora tenha dito. Se
quiser pode colocar na bandeira da Paraíba, tudo bem. Agora era o repórter que
não entendia nada. Olhe aqui, estou muito ocupado como pode ver. Vai chover! A
Arca precisa estar pronta. Fora que ainda tem os bichos. O senhor pretende
comprar passagem para ir conosco no cruzeiro? Ainda há lugar. As acomodações
são rústicas, mas pelo menos você não morre afogado. O repórter desconversa.
Quer saber sobre a acusação.
Mas seu Noé, a acusação de que começou como senhor e sua Arca... Noé
atalhou. Peraí! Essa não é uma tal da mandioca, que descobriu a mulher sapiens?
Essa mesma! E você acredita no que ela diz? Não lhe parece estranho que ela
diga algo assim justo de mim que estou ligado ao fim do mundo? Pra você ver
como a mulher é sem noção. Ela é chegada a um finzinho de mundo também? Não sei
dizer. Parece que a intenção dela era dizer algo espirituoso, engraçado, mas
ninguém entendeu, logo não riu e ela seguiu falando nada com nada.
O senhor me dá licença, tenho que terminar o
telhado e chamar a bicharada. Vai chover cântaros! O senhor vem? O repórter
ainda queria extrair a declaração de Noé. Era como as estagiárias do Nelson. E
se eu disser algo, o senhor me deixa em paz? O repórter assentiu, daria um
furo. Desconheço a dita presidente. Não entendi como foi colocar meu nome em
seu discurso. Não sabia que meu nome dava ibope. Mas não fiz nada não, só a
Arca. O senhor vem? Não? Pois me dê licença, vou ali chamar os bichos e esperar
o pé d’água.
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