domingo, 30 de agosto de 2015

O caso do assassinato dos rabos



Um laudo preliminar feito por veterinários da Prefeitura de São Lourenço (MG) apontou que os rabos de animais encontrados na cidade são, na maioria, de cães e que a quantidade, diferente do que foi informado inicialmente, é de 150 e não de 500. Além disso, o documento descarta o uso da carne em uma festa realizada na cidade.

Fonte: Do G1 Sul de Minas (28/08/2015)

Aquela maçaroca de pelos jogadas num monturo era de rabos de cachorros e gatos também, gritou a presidente da Patrulha Animal, ong que assumiu a investigação sobre o misterioso caso dos rabos. Alegava que a polícia não estava tão engajada quanto deveria. Que, inclusive, o delegado havia contado rabos de menos e que dava conta de “apenas” – ela fez as aspas com os dedinhos – 150 rabos, quando ela e sua equipe registraram com filmagem e contagem minuciosa, pelo menos 500 rabos.
O delegado esquivou-se alegando que não tinha os equipamentos necessários à investigação como cães farejadores, maquinário sofisticado, computadores, leitores de dna e sequer um veterinário legista para atestar se era rabo de bicho ou de gente. De qualquer modo, estavam todos diante de um flagrante acinte à lei federal que proibia terminantemente o corte dos rabos dos bichos com fins estéticos, para alimento de gourmets excêntricos ou reles tira-gosto.
O prefeito estava muito preocupado, porque a tal ong desembestada sugeria com escândalo e estardalhaço que haveria um criatório e um matadouro na cidade, ambos clandestinos, para a venda da carne e que, horror dos horrores, a carne teria sido servida na maior festa da cidade, a Festa de Agosto que, neste ano, contou até com a presença de atores globais do segundo escalão. Pois bem, os convivas teriam consumido cachorro e gato nos quitutes servidos nas barracas e buffets. Um Secretário, a mando do alcaide, protestou como faz o PT com as contas de campanha da Dilma, que a comida servida na festa foi analisada e aprovada pela Vigilância Sanitária local.
Houve quem dissesse, simpatizantes da Patrulha, e juravam de pés juntos, ter notado que o cheiro da cidade mudara desde o aparecimento dos rabos como se nascessem no mato por pura geração espontânea. A catinga adocicada da putrefação havia impregnado todo o ambiente. O problema é que nem todo mundo sentia o tal cheiro. Talvez houvesse uma alucinação olfativa. A dificuldade com a teoria de magarefes terroristas infiltrados, disfarçados entre os cidadãos, é que ninguém deu por falta de seus mascotes. Não apareceu também quem alegasse haver algum tipo de celerado, um serial killer de rabos pela região.
A história ganhou proporções inusitadas. Um deputado, em Brasília, espoletou-se com a história dos rabos. Sua exa. Deputado Laudívio, imediatamente propôs uma CPI, pois em terra de quem tem rabo de palha, a história dos assassinatos dos rabos calou fundo. Que interpelaria o delegado que demonstrava certo descaso com assunto de tamanha importância. A Câmara também investigaria o aparecimento dos rabos e o sumiço dos donos dos rabos na cidade e no país inteiro. O que desnorteava ao delegado e à Patrulha era onde teria ido parar o restante dos gatos e cachorros, pois se os rabos andam por aí, em algum lugar estaria o restante dos bichos, mas onde?
Uma recompensa de dois mil reais foi oferecida pela Patrulha para quem indicasse os “assassinos dos rabos”, sim, porque não havia corpos para atestar a morte dos bichos. Ao delator premiado se daria o mais absoluto sigilo. Especialista em cortes de rabos, aposentado porque a lei o proibia de exercer a profissão, atestou que os rabos foram cortados à faca, fato que causou comoção e aumento imediato da recompensa. 
Não se sabe o que fazer com os rabos achados. Foi sugerido doá-los ao movimento dos sem-rabo, mas houve resistência. Todo tipo de ideia se cogita. Ninguém, contudo, foi capturado, nem apareceu qualquer grupo anônimo de apreciadores da exótica culinária com pets. Como a cidade é mineira, já se cogita a ação de ets fugidos de Varginha.

Nenhum comentário: