A decisão da
cúpula da Câmara de permitir que maridos e mulheres dos deputados tenham
direito a passagens aéreas provocou um burburinho nos corredores da Casa e num
plenário com mais de 300 deputados em plena quinta-feira (26).
Fonte: Folha
de São Paulo, seção Poder. (27/02/2015)
Havia uma nova
regra. Para cada medida parlamentar, fosse qual fosse, os autores do malfeito
deveriam defender a ideia também para a população. É verdade. Um disparate. Mas
que fazer? Havia que dizer que aquele gasto serviria para aliviar impostos –
não sei como isso é possível, mas eles são muito criativos – ou como aquela
verbinha acrescida aos muitos penduricalhos proporcionaria uma atuação mais
eficiente do legislador.
Aquilo caiu
como uma bomba. Um deles – sempre tem um espírito de porco – disse logo que se
deixasse com os duzentos e trinta e dois jornalistas servidores da Câmara. Mas
não tinha como escapar. O povo, este bicho sem cabeça que ninguém sabe o que é,
havia peticionado esta pequena prestação de contas. Assim, só para saber mesmo.
Não era cobrança. Os deputados e senadores poderiam continuar a fazer o que
quisessem, bastava dizer lá com suas palavras para que serviria cada
traquinagem.
Para que
nenhuma das nobilíssimas excelências se sentisse constrangida, o candidato a
responder seria sorteado entre os 513 membros da excelsa Câmara. Coisas mais
cabeludas pediriam mais explicadores. Não precisa dizer que o sorteio foi
fraudado quatro vezes. Nada fora do comum. Alguns pobres coitados, que tinham
tal fobia de serem sorteados que usaram deste expediente nunca visto
antesnestepaiz. Até aumentaram os gastos com as verbas indenizatórias de saúde,
o que os deixou numa saia justa para achar tanta nota fiscal para justificar.
Tinha até compra de prego caibral. Um despautério, pois não? Investigações pró-forma
acusaram o Arruda e até Antonio Carlos Magalhães, já defunto há tempos.
Tadinhos, o dedo sujo ainda os persegue.
Claro que
houve rebelião. Existem, no momento, mais de 800 propostas de mudança da norma
explicadora. Já houve greve de uma obscura bancada apartidária, mas nada. Uma
praga, dizem eles. Enfim. Tiririca, notável entre notáveis, foi sorteado para
explicar o “bolsa patroa”. Passagens infinitas para carregar a digníssima para
Brasília. Disse ele com sorriso com dentes. O sem dentes é para a performance
como palhaço. “Marminino! Eu que não vou deixar de carregar minha senhora já
que estão me mandando. Eu não pedi. Ela tá doidinhaaaaaa!”
Um tal Russo e
Mano alegou com propriedade que o “bolsa aeropatroa” salvaria casamentos, pois
eles estavam exilados naquele fim de mundo e os casamentos acabavam. Outro
emendou, sem ser chamado, que diminuiria os chifres também e um terceiro, da
ala evangélica, aparteou que a cafetinagem das Jeanys Mary Corner iriam acabar,
uma pouca vergonha. E logo foi provocado por petista defensor das ditas
meninas, que o desemprego iria aumentar ainda mais, piorando os números da
presidente.
Explica daqui, explica dali
e mais 150 milhões descendo pelo ralo com o mimo. Marcos Infeliciano disse que
era justíssimo, mas era melhor fazer noutro momento ou se, conviesse, com outro
nome ridículo como “ajuda paletó”, poderia ser “ajuda matrimônio”, mais
palatável, opinou. O danado é que o tal povo, aquele bicho mentecapto, não
reagia a nenhuma das nobres explicações. Pediram socorro ao presidente da casa
das patranhas. Este, humilde e
candidamente, disse duas coisas: que descontaria o valor gasto com economia
sabe-se lá de onde. E que o transporte era só para as esposas. Namorada, não. E
tem mais, se quiser usa, se não quiser não usa. Tenho dito.
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