domingo, 1 de março de 2015

A polêmica do “bolsa patroa”



A decisão da cúpula da Câmara de permitir que maridos e mulheres dos deputados tenham direito a passagens aéreas provocou um burburinho nos corredores da Casa e num plenário com mais de 300 deputados em plena quinta-feira (26).

Fonte: Folha de São Paulo, seção Poder. (27/02/2015)

Havia uma nova regra. Para cada medida parlamentar, fosse qual fosse, os autores do malfeito deveriam defender a ideia também para a população. É verdade. Um disparate. Mas que fazer? Havia que dizer que aquele gasto serviria para aliviar impostos – não sei como isso é possível, mas eles são muito criativos – ou como aquela verbinha acrescida aos muitos penduricalhos proporcionaria uma atuação mais eficiente do legislador.
Aquilo caiu como uma bomba. Um deles – sempre tem um espírito de porco – disse logo que se deixasse com os duzentos e trinta e dois jornalistas servidores da Câmara. Mas não tinha como escapar. O povo, este bicho sem cabeça que ninguém sabe o que é, havia peticionado esta pequena prestação de contas. Assim, só para saber mesmo. Não era cobrança. Os deputados e senadores poderiam continuar a fazer o que quisessem, bastava dizer lá com suas palavras para que serviria cada traquinagem.
Para que nenhuma das nobilíssimas excelências se sentisse constrangida, o candidato a responder seria sorteado entre os 513 membros da excelsa Câmara. Coisas mais cabeludas pediriam mais explicadores. Não precisa dizer que o sorteio foi fraudado quatro vezes. Nada fora do comum. Alguns pobres coitados, que tinham tal fobia de serem sorteados que usaram deste expediente nunca visto antesnestepaiz. Até aumentaram os gastos com as verbas indenizatórias de saúde, o que os deixou numa saia justa para achar tanta nota fiscal para justificar. Tinha até compra de prego caibral. Um despautério, pois não? Investigações pró-forma acusaram o Arruda e até Antonio Carlos Magalhães, já defunto há tempos. Tadinhos, o dedo sujo ainda os persegue.
Claro que houve rebelião. Existem, no momento, mais de 800 propostas de mudança da norma explicadora. Já houve greve de uma obscura bancada apartidária, mas nada. Uma praga, dizem eles. Enfim. Tiririca, notável entre notáveis, foi sorteado para explicar o “bolsa patroa”. Passagens infinitas para carregar a digníssima para Brasília. Disse ele com sorriso com dentes. O sem dentes é para a performance como palhaço. “Marminino! Eu que não vou deixar de carregar minha senhora já que estão me mandando. Eu não pedi. Ela tá doidinhaaaaaa!”
Um tal Russo e Mano alegou com propriedade que o “bolsa aeropatroa” salvaria casamentos, pois eles estavam exilados naquele fim de mundo e os casamentos acabavam. Outro emendou, sem ser chamado, que diminuiria os chifres também e um terceiro, da ala evangélica, aparteou que a cafetinagem das Jeanys Mary Corner iriam acabar, uma pouca vergonha. E logo foi provocado por petista defensor das ditas meninas, que o desemprego iria aumentar ainda mais, piorando os números da presidente. 
Explica daqui, explica dali e mais 150 milhões descendo pelo ralo com o mimo. Marcos Infeliciano disse que era justíssimo, mas era melhor fazer noutro momento ou se, conviesse, com outro nome ridículo como “ajuda paletó”, poderia ser “ajuda matrimônio”, mais palatável, opinou. O danado é que o tal povo, aquele bicho mentecapto, não reagia a nenhuma das nobres explicações. Pediram socorro ao presidente da casa das patranhas.  Este, humilde e candidamente, disse duas coisas: que descontaria o valor gasto com economia sabe-se lá de onde. E que o transporte era só para as esposas. Namorada, não. E tem mais, se quiser usa, se não quiser não usa. Tenho dito.

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