Um aluno de 11 anos foi mandado de volta para casa pela escola depois de ir fantasiado de Sr. Grey, o personagem do livro '50 tons de cinza', de E.L. James. O colégio Sale High School, da cidade de Sale da Inglaterra, considerou o traje inadequado para celebrar o Dia Mundial do Livro, comemorado nesta quinta-feira (5).
Fonte: Do
G1, em São Paulo (06/03/2015)
A professora
de português queria celebrar o dia do livro. Pensou numa competição de leitura,
mas a não ser que fosse ao vivo, quem acreditaria no aluno que dissesse ter
lido tantos livros com a internete cheia de resumos para tornar os preguiçosos
e ignorantes ilustrados?
Há dúzias de
formas de celebrar o dia do livro. Não me ocorre agora, assim, quais. Tenho
pensamento fixo de que a leitura de livros é a única forma realmente honesta de
celebrá-los. A professora tinha a mesma crença, mas desconfiada, resolveu fazer
um concurso de fantasias. Olha que bacana! Agora sim, me vem uma miríade de
personagens que um poderia se vestir para festejar livros e autores.
A turma ficou
em polvorosa. Nada contra os meninos e meninas se fantasiarem. É lúdico. Pode
ser, no limite, terapêutico. Diz-se que no carnaval, vestir e travestir-se tem
sua utilidade. É uma forma de um jogar seus demônios para fora, porque com a
fantasia vem a ilusão de ser aquilo de que se está fantasiado. Olhando por este
ângulo, tem lá sua lógica. O danado é que os tais demônios, na quarta-feira de
cinzas, tomam o busão de volta na forma de ressaca física, moral e contas.
Desmancha-prazeres, eu?
Prossigamos. Bibliotecas
vivem às moscas. Lê-se pouco no país. Apenas quatro livros por ano, dos quais
só metade até o fim. Sim, só um deles é leitura espontânea. Ah, essa conta
inclui livros didáticos. Um francês lê pelo menos dez livros a mais. Os chatos
argentinos também estão na dianteira, com quase dez livros/ano. Tem lugar que
feira de livro é lei. Há muitas agora e certos gêneros vendem que nem água no
deserto. Não sei se são lidos. Que seja.
Nossa
professora queria incentivar a leitura, mas com garotos e garotas lá pelos 9-11
anos, era mais uma tentativa desesperada de implantar o hábito. Internete, tv,
smartphone, máquinas de jogos, o livro, coitado, não compete. Nem os tais
e-books. Menino chega em casa e conta eufórico a novidade para a mãe. Os dois
irmãos menores também fariam parte da festa. A mãezona, leitora voraz dos
muitos tons de cinza, não pensou duas vezes: viu no menino mais velho a cara do
ricaço sadomazô Mr. Grey.
Como é que se
fantasia um menino do tal Grey a ponto de todo mundo saber que ele era o
próprio e, claro, fazer a devida e natural relação? Deixa eu adivinhar sua
fantasia. Ah, é fácil! Mr. Grey dos 50 tons de cinza. Incrível, você está
igualzinho. É isso que se quer quando nos fantasiamos. Não tem graça se as
pessoas não sabem quem é.
Chapeuzinho
vermelho, gato de botas, Alice no país das maravilhas, a dama de copas da mesma
história. Esses são difíceis de saber, né? Mas aquela mãe, cheia de fantasias,
só fantasias, o maridão meio desbotado já não estava lá essas coisas, não
considerou este pequeno detalhe. Garoto, já sei do que você vai: o Grey lindo e
maravilhoso. Ah!, suspirou com mão no peito revirando os olhinhos. O menino não
entendeu, mas devia ser algo legal.
Dia seguinte,
vestiu logo os menores de qualquer coisa como algum dos três porquinhos e a
Emília do Sítio do Pica Pau Amarelo. O Grey tinha que gastar tempo, mas depois
de pensar um pouco viu que o menino estava longe de atender às suas loucas
fantasias. Passou creme no cabelo que foi penteado para trás para lhe dar
alguma adultice e lhe vestiu num paletó supostamente bem cortado. Pegou o
menino enfiando o dedo no nariz, aquilo era um balde de água fria em qualquer
tesão. Pior, o menino comeu a meleca. Para que ele não acabasse com o
personagem, meteu-lhe um chicote numa das mãos e uma máscara negra na outra.
Agora, sim.
Ao chegar à escola a mãe
estava que não se cabia. O menino segurava os objetos como se fosse um estorvo,
mas tudo bem. Até que a professora, depois de esforçar-se para saber – até
tentou dizer que era o Gekko do Wall Street –, mas capitulou. O menino
entregou: eu sou o Mr. Grey e deu uma chicotada no traseiro da professora. A
direção da escola achou aquilo inapropriado e deu três dias de suspensão no
pequeno pervertido. A mãe disse que era pura ignorância e repressão. A maldade
está na cabeça das pessoas. Pobre Grey! E suspirou de novo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário