sábado, 12 de julho de 2014

Malévola




O filme conquista pelos efeitos especiais, bastante realistas, mesmo para os monstrinhos do reino de Moors. É uma releitura de “A Bela Adormecida”, já que a bela até dorme, mas não é importante neste enredo. Malévola é o eixo do filme, todos os demais personagens são escadas, nenhum se destaca por qualquer qualidade na atuação ou relevância na trama.

É uma história de perda (da inocência), de traição e redenção. A amargura que faz brotar um reino tem lá sua lição. (Nunca confiar em ninguém?) A raiz de amargura cresce, vira árvore e produz furtos azedos e dolorosos. A inocência perdida, no entanto, é reencontrada na personagem Aurora, filha do odiado rei Stefan, outrora, quando ainda garoto e adolescente, o primeiro amor de Malévola.

A ganância, possivelmente, filha da pobreza e do abandono sofridos por Stefan, o torna um homem insensível e mesquinho, obcecado por uma vida melhor, fato que ele demonstra ainda bem jovem, quando diz a Malévola que um dia moraria no castelo. Esse sonho o consumirá e ele fará qualquer coisa por isso, incluindo trair seu amor por Malévola. Aliás, nele sempre houve a semente da transgressão. O primeiro encontro deles se dá porque Stefan entra no reino de Moors e rouba uma pedra preciosa.

Mas à medida que o filme avança vou tendo a impressão de que entre estes dois mundos, o reino dos homens e o reino mágico de Moors, as figuras masculinas não passam de seres vis, orgulhosos, irascíveis, burros e serviçais. As verdadeiras heroínas, as que realmente sustentam estes reinos, são as personagens femininas.

O antigo rei, que no leito de morte rememora amargurado sua decepção, pois sua principal plataforma política, digamos, era destruir o reino vizinho e ele não conseguiu. Culpa seus oficiais e promete a mão da filha e o reino para quem matar Malévola. Eis o empurrão que o ambicioso Stefan precisava. Nesta história, assim são os homens, insanos em seus propósitos, vis e maléficos.

Enquanto Malévola, de protetora e amiga dos habitantes de Moors se torna a rainha dominadora e transforma o reino em escuridão, Stefan casa-se, e tem uma filha. Malévola vê aí o momento de sua vigança. Apesar do nome, só se torna má porque absorve parte da natureza masculina. Ela mesma, desde sempre, foi boa.

Um plano mal sucedido do rei de proteger a filha, leva-a para mais perto de Malévola que aos poucos vai sendo conquistada pela doce menina. A criança cresce e Malévola a protege de longe, sempre desdenhando, chamando-a de praga e sem querer, sua maternidade se instala e é correspondida por Aurora.

Stefan enlouquece por medo da vingança final de Malévola. Passa a vida sob suspense. Consome-se em num plano para uma batalha para capturá-la. Cumprida a maldição, o verdadeiro amor a despertar Aurora de seu sono profundo, será o de Malévola que, arrependida tenta quebrar a própria maldição lançada sobre a garota. É seu amor pela princesa, não o de um príncipe garboso e corajoso, que a acordará. Este mesmo mais insosso que caldo de convalescente.

Na batalha final, novamente os homens são um bando de estrupícios, sádicos, soldados – talvez a melhor representação da burrice que só segue ordens e não pensa por si – um rei louco de ódio e medo, não logram destruir Malévola. O rei morre por sua própria estupidez, pois mesmo vencido e poupado ainda tenta matar Malévola uma última vez e cai do alto do castelo.

A mensagem é que as mulheres sozinhas, carregadas dos estereótipos – amor maternal, esperteza, sentidos mais apurados, doçura, bondade, múltiplas em seus afazeres, capazes de compaixão, bondosas, mas guerreiras e com vidas como gatos – são as verdadeiras heroínas de qualquer mundo. No filme, Aurora e Malévola, são as que devolvem a paz e harmonia aos dois mundos.

Os homens, por sua vez, são rudes, vingativos, suspeitosos, violentos, medrosos, péssimos políticos, incapazes de compaixão, traidores. Parece que a roteirista quer mostrar que um mundo cuidado pelas mulheres tem mais chance de dar certo. Uma mensagem feminista azeda, que estimula uma visão equivocada dos homens e não ajuda na construção de uma sociedade plural e cooperativa.

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