No limite do amanhã, filme ainda em
cartaz com Tom Cruise e Emily Blunt, sai um pouco da repetição do Missão Impossível
e do horrível Encontro Explosivo, uma
cópia do anterior, com uma atriz que não sabia que o gênero era ação e não
pastelão; ou ainda o esquisito Jack Reacher, que também copia Missão.
A ideia em No
Limite do Amanhã já foi explorada de outras formas, mas continua interessante.
Talvez porque todos nós queiramos a chance de recomeçar tantas vezes quanto
possível e não cair nas mesmas esparrelas, velhos erros – alguns dos quais cometidos
repetidamente e nos dá gastura só de lembrar – e, magicamente, anteciparmos o
momento zero da escolha fatal e desastrosa e, antes dela, nos safarmos pela
direita, como o faria o leão da montanha.
O título em
inglês é direto: Live. Die. Repeat. (Viva. Morra. Repita). Não soa tão
pretensamente poético como No Limite do Amanhã – uma das poucas vezes em que um
título para o mercado nacional supera o título original. Mesmo que tenhamos,
não poucas vezes, a clara certeza de sermos repetitivos, em atos e palavras, é
porque apenas não aprendemos ainda o que se deve porque, como disse Heráclito,
tudo flui e é impossível descer ao rio duas vezes e ele ser o mesmo.
O personagem
de Cruise (Bill Cage) é um militar que trabalha como relações públicas das
forças de coalizão contra um invasor alienígena. Por alguma razão, acaba no
front de guerra, lugar do qual tenta fugir. Até mesmo ensaia uma desobediência,
o que o coloca no pior grupo de soldados como castigo e na leva que servirá de
bucha de canhão.
Na invasão,
que muito se assemelha ao dia D que completou 70 anos (6 de junho de 1944), Cage
se vê no meio de um fogo cruzado depois que seu avião cai atingido pelo
inimigo. Por pura sorte, escapa de vários ataques e também por sorte acaba
matando um líder alfa dos invasores. O sangue do ser cai em seu corpo e o mata,
mas também lhe prende numa armadilha temporal. Toda vez que morre na batalha,
volta ao exato instante em que se reúne aos seus companheiros. Logo, a cada
morte e volta, ele sabe um pouco mais do que acontece.
Incrédulo, ele
tenta avisar seus amigos que, claro, não acreditam. Tudo se repete e, mais uma
vez, morre e volta. O filme ameaça a ficar tedioso com esta sequência de mortes
e retornos como se materializasse o eterno retorno nietzscheano. Um ouroboro
que enlaçou o personagem num único dia condenado a se repetir vezes incontáveis.
Se digo
condenado, é porque apenas Cage tem conhecimento deste fato aterrador. Nesse
meio tempo, ele encontra uma mulher, Rita Vrataski (Emily Blunt), heroína de
guerra que teve o mesmo poder, mas que o perdera. Eles unirão suas forças,
ajudados por um cientista julgado louco porque fazia experiências com esta
realidade.
Por outro
lado, o inimigo, o ômega, tem o poder de antever o futuro e pode reagir a cada
fato já conhecido, o que lhe dava uma vantagem na guerra que claramente estava
sendo ganha por ele. Este mesmo inimigo, ser tentacular, impiedoso, metamorfo,
rápido, quase que se materializa do nada, bem simboliza a sensação diante de
tantos eventos na vida. A desgostosa percepção de que por mais que se faça o
resultado sempre é ruim.
Por ser de
ação, o filme não está preocupado em nos fazer pensar que voltar tantas vezes
ao mesmo ponto pode ser uma forma de se conhecer. Nós, que estamos condenados a
avançar sempre para o desconhecido, vamos às apalpadelas. Talvez haja nisso
algo extraordinário e acertar tem sempre a ver com a incrível habilidade
adaptativa, armados apenas com a sombra do aprendizado de algum evento
anterior. Aí está a aventura da vida.
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