Tentei fugir
do tema – a Copa –, mas foi difícil. Ela está onipresente em todos os meios de
comunicação. Tenho cá meus senões em relação à sua realização no país. Para
muitos, os que pensam como eu, são, no mínimo, não patriotas. Mas em nome da
pátria se costuma cometer as maiores sandices. Não à toa o gênio de Samuel
Johnson – jornalista, tradutor e escritor inglês do séc. XVIII – argutamente
cunhou uma frase lapidar contra os que se refugiam neste sentimento em desfavor
da verdade, da justiça e de qualquer outra coisa que se julgue boa, mas renega
sua visão de mundo: “o patriotismo é o último refúgio de um canalha”.
Parece que não
estou só em meu desconforto. O brasileiro médio – esta entidade que desconheço
–, que ajudou a dar nome ao mascote da Copa, escolheu o mais representativo de
nossa verve humorística, mas também de nosso desconcerto. O pobre tatu-bola
recebeu a alcunha de fuleco. No Nordeste, esta palavra está tão perto de
fuleiro que é quase impossível não lembrá-la. Seria isto uma premonição? Aliás,
você viu o fuleco na abertura da Copa? Acho que cavou um buraco e meteu-se
dentro.
Vaias
e xingamentos cabeludos contra a Dilma – a presidente – e o público levou
apenas um ou dois fotogramas para percebê-la escondida, encarapitada na bancada
de honra do estádio. No dia seguinte, desacorçoada, carregada de imenso
despeito e ressentimento, desandou a discursar platitudes numa inauguração
eleitoreira em Brasília. Mais animada no discurso frouxo porque uma banda de
colunistas resolveu chamar de mal educados os que lhe sapecaram a estrondosa
vaia. Tivesse lido Nelson Rodrigues, saberia que “a grande vaia é mil vezes
mais forte, mais poderosa, mais nobre do que a grande apoteose. Os admiradores
corrompem”. Mas vai tentar convencer um esquerdista disso, eles que padecem de
um mal ontogenético: são incapazes de suportar o contraditório.
É, mas o
Blatter, presidente da Fifa, também não quis falar por medo de vaias
experimentadas na Copa das Confederações e foram, ele e ela, no último minuto
do segundo tempo, substituídos por pombos soltos por três crianças
representando as três raças que formaram o Brasil. As pombas brancas voaram
tontas sobre aquele mar de gente e o barulho infernal que conseguem fazer. Se
arrulharam alguma coisa, o microfone estava desligado para elas. Teriam xingado
quem lhes meteu naquela enrascada?
Mas
o jogo prosseguiu do jeito que pôde. As luzes do estádio apagando como se fosse
uma discoteca. O vestiário da Croácia alagou sem chuva, assim esculhambou o
técnico croata com mais uma explicação, esta exótica como seus nomes, para a
derrota por 3 a 1. O juiz errou em favor
do Brasil. Fred, o pegador da Globo, não pegou absolutamente nada e numa única
vez que tocou na bola, no final do 2º tempo, enroscou os pés na brazuca e caiu
como uma jaca madura. Cavou o pênalti. Mas cavar, no futebolês ou fora dele, é
sinônimo para malandragem explícita. É tudo, menos fair play. Os jogos do dia
seguinte, porém, provaram que a Fifa conseguiu escalar o pior time de técnicos
do mundo. México ganhou de Camarões, apesar de dois gols legítimos anulados. Em
outra frase, Nelson nos lembra: “Em futebol, o pior cego é o que só vê a bola.”
Ele, que além de frasista foi um incrível observador da vida nacional, sabia
que o jogo é metáfora de nós mesmos. Não me refiro ao Fred enganar, mas de nós
ignorarmos que ele o fez por que o pênalti nos beneficiou.
A
cereja do bolo, anunciada com pompa e circunstância por meses e depois de
consumir 33 milhões de reais de dinheiro público, seria o chute do paraplégico
ajudado por um equipamento ultrassofisticado que, não sei por que razão, estava
espalhafatoso com luzinhas multicoloridas. Imaginei que o tal robô andaria até
o centro do gramado e ali, apoteoticamente, chutaria a pelota. Nada disso. Num
canto qualquer, sobre uma rampa, escorado por dois ajudantes, fez a
demonstração que durou míseros três segundos. E por que pensei que o robô
andaria? Porque ele o faz no vídeo animado de propaganda do feito. Inclusive
chuta a bola de trivela. Precisava exagerar?
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