sábado, 1 de março de 2014

1Q84 - a trilogia

A contracapa do livro está cheia, como é de se esperar, de comentários carregados de adjetivos enaltecendo o romance 1Q84. Outras notícias na internete sugerem que Murakami é fortíssimo (assim mesmo, no superlativo) candidato ao nobel de literatura. Fica a sensação de que tudo não passa de um trabalho de lobby ou propaganda para vender. Que me desculpem os aficionados, Murakami não é esta “Brastemp” toda.
A editora brasileira, Alfaguara, que publicou a trilogia 1Q84, cometeu um baita deslize. Lançou os dois primeiros numa distância temporal razoável e demorou uma barbaridade para publicar o tomo final. Quem acompanhava os lançamentos como eu, perdeu o timing que cada história tem em si mesma. O hiato enorme foi concluído em meio à decepção. Ou, dito de outra maneira, marcado pela obviedade.
O terceiro volume parece cansativo e repetitivo. O autor gastou todos os seus recursos nos anteriores e quando se espera o final eletrizante, tem-se o tédio e a redução a poucos personagens que se arrastam sem qualquer emoção. É possível, inclusive, simplesmente sumir com dois ou três capítulos sem que façam a menor falta à história.
Tudo bem que se trata de uma história que explora o fantástico. O autor os faz bem no início, pois o leitor vai sendo introduzido aos poucos num mundo diferente e paralelo àquele que corria em 1984. Demora pra engrenar, mas anda. Montado o palco, o terceiro livro simplesmente o destrói, pois fica aquém da expectativa que gera.
A seita obscura, poderosa e enigmática perde força e fica reduzida a dois sujeitos sem nome, que são apenas seguranças. Fukaeri, a estranha garota assexuada e robótica, desaparece na história sem mais nem menos. O tal povo pequenino fica tão pequeno que também some, para uma ligeira aparição no final sem que se saiba exatamente por quê. Nem se fale de um personagem menor, a policial amiga de Aomame, que depois de algumas aparições é assassinada sem que isso se conecte com o enredo, nem com a personagem principal. Mas isso foi no segundo livro.
Os saltos que a história dá e os acontecimentos mágicos que ocorrem, ainda que caibam, são totalmente estranhos à própria história neste terceiro livro. Quase todo mundo ali é dotado de um “sétimo” sentido. Ushikawa, uma espécie de detetive a serviço da seita, não deduz, não usa lógica, ele quase adivinha para fazer suas descobertas. A gravidez de Aomame – a gente tem que adivinhar se ela vai parir o povo pequenino ou outro líder no mundo para onde ela vai? – o pai de Tengo ou seu espírito vagante que saía de seu corpo em coma e vai bater na porta dos outros, são coisas absurdas mesmo para um romance em que o fantástico é o arroz com feijão. Pior ainda, a heroína tem certeza de que o filho – ela o chama o tempo inteiro de coisa pequenina – é do personagem Tengo ainda que por meses não tenha se relacionado com ninguém. O fato soa tão despropositado que o autor tem que colocar na boca da personagem várias vezes a fala de que apesar de não ter lógica, o garoto é filho de Tengo.
Minha experiência de ler o terceiro livro até o final foi pura teimosia. O tesão pela história havia se perdido em algum lugar entre o primeiro e o segundo e a espera absurda para ver a montanha parir um rato no terceiro.

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