A contracapa
do livro está cheia, como é de se esperar, de comentários carregados de
adjetivos enaltecendo o romance 1Q84. Outras notícias na internete sugerem que
Murakami é fortíssimo (assim mesmo, no superlativo) candidato ao nobel de
literatura. Fica a sensação de que tudo não passa de um trabalho de lobby ou
propaganda para vender. Que me desculpem os aficionados, Murakami não é esta
“Brastemp” toda.
A editora
brasileira, Alfaguara, que publicou a trilogia 1Q84, cometeu um baita deslize.
Lançou os dois primeiros numa distância temporal razoável e demorou uma
barbaridade para publicar o tomo final. Quem acompanhava os lançamentos como
eu, perdeu o timing que cada história
tem em si mesma. O hiato enorme foi concluído em meio à decepção. Ou, dito de
outra maneira, marcado pela obviedade.
O terceiro
volume parece cansativo e repetitivo. O autor gastou todos os seus recursos nos
anteriores e quando se espera o final eletrizante, tem-se o tédio e a redução a
poucos personagens que se arrastam sem qualquer emoção. É possível, inclusive,
simplesmente sumir com dois ou três capítulos sem que façam a menor falta à história.
Tudo bem que
se trata de uma história que explora o fantástico. O autor os faz bem no
início, pois o leitor vai sendo introduzido aos poucos num mundo diferente e
paralelo àquele que corria em 1984. Demora pra engrenar, mas anda. Montado o palco,
o terceiro livro simplesmente o destrói, pois fica aquém da expectativa que
gera.
A seita
obscura, poderosa e enigmática perde força e fica reduzida a dois sujeitos sem
nome, que são apenas seguranças. Fukaeri, a estranha garota assexuada e
robótica, desaparece na história sem mais nem menos. O tal povo pequenino fica
tão pequeno que também some, para uma ligeira aparição no final sem que se
saiba exatamente por quê. Nem se fale de um personagem menor, a policial amiga
de Aomame, que depois de algumas aparições é assassinada sem que isso se
conecte com o enredo, nem com a personagem principal. Mas isso foi no segundo
livro.
Os saltos que
a história dá e os acontecimentos mágicos que ocorrem, ainda que caibam, são
totalmente estranhos à própria história neste terceiro livro. Quase todo mundo
ali é dotado de um “sétimo” sentido. Ushikawa, uma espécie de detetive a
serviço da seita, não deduz, não usa lógica, ele quase adivinha para fazer suas
descobertas. A gravidez de Aomame – a gente tem que adivinhar se ela vai parir
o povo pequenino ou outro líder no mundo para onde ela vai? – o pai de Tengo ou
seu espírito vagante que saía de seu corpo em coma e vai bater na porta dos
outros, são coisas absurdas mesmo para um romance em que o fantástico é o arroz
com feijão. Pior ainda, a heroína tem certeza de que o filho – ela o chama o
tempo inteiro de coisa pequenina – é do personagem Tengo ainda que por meses
não tenha se relacionado com ninguém. O fato soa tão despropositado que o autor
tem que colocar na boca da personagem várias vezes a fala de que apesar de não
ter lógica, o garoto é filho de Tengo.
Minha experiência de ler o
terceiro livro até o final foi pura teimosia. O tesão pela história havia se
perdido em algum lugar entre o primeiro e o segundo e a espera absurda para ver
a montanha parir um rato no terceiro.
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