Um zoológico
chinês foi acusado de ludibriar seus visitantes ao exibir um cachorro como se
fosse uma espécie rara de leão africano. A fraude foi descoberta pelos
frequentadores quando o animal começou a latir.
Fonte: BBC Brasil (15/08/2013)
Bons tempos
quando nós, brasileiros, achincalhávamos nossos vizinhos paraguaios com aquelas
bobagens de cavalo paraguaio, uísque, relógios rolex legítimos e tantos outros
produtos fantásticos, baratinhos que faziam a festa para parecer bem aos olhos
dos outros. Não existem mais paraguaios: foram todos pirateados pelos chineses,
estes, sim, sabem fazer uma falsificação.
Por aqui, fui
forçado a contar inúmeras histórias dos chinas porque eles são insuperáveis.
Quando penso que já vi tudo, eles me aparecem com outra inacreditável façanha e
lá vou eu de novo. Desta vez, meu quase parente Aristogênio não tem nada com
isso. Mas foi ele quem me contou de um seu homônimo chinês, o Maostogênio.
Vamos chamá-lo apenas de Mao para economizar. Nada a ver com o fundador da
China moderna, embora este também fosse um grande malandro.
Mao trabalhava
num zoológico decadente. Ele e seu amigo Li tinham que alimentar os animais,
limpar o cocô deles, vender bilhetes na entrada, algodão doce, pipoca e servir
de segurança. O zoológico mais parecia um circo sem lona do interior do
Nordeste. Num dia azarado, os dois foram fazer um reparo na jaula do velho
leão. Velho é apelido. Dizem que era o próprio primeiro modelo da MGM (aquele
que fica rosnando no início dos filmes).
Sem querer, uma
barra de ferro caiu na cabeça do leo. Ele só pedia uma desculpa para urrar no
paraíso, nem urrou. Foi-se. O dono do zoo, um obscuro membro regional inferior
do partidão, iria matá-los. Leo dava muitos bilhetes e o povo acreditava que
ele era aquele lá de que já falei. O medo faz um sujeito ter ideias do arco da
velha. Mao lembrou que já tinham substituído coruja por papagaio, lobo por
outro cachorro e um dromedário virou camelo com um saco extra nas costas,
revestido de pelo de cabras. Nem se conte a vez que Li substituiu o gorila por
uma semana.
O mastim
tibetano do Li serviria para se passar por leão. Mas Li era aquele medroso que
só servia para agourar o plano alheio. E se ele latir? - perguntou, apavorado. Você
vai treinar o bicho para que não lata. Converse com ele. Foram em casa,
pentearam os pelos do bicho pra frente, tascaram um permanente, um secador e o
pêlo do Tsé Tung ficou uma beleza.
Trabalho
finalizado, Li teve uma conversa olho no olho com o Tsé. Tung, meu chapa, você
precisa me salvar de uma enrascada. Tung olhava com um olhar de compreensão.
Li, animado, continuou. Não lata por nada deste mundo. Preciso de seu silêncio.
Prometo que é só por uns dias. Tung balançou a cabeça, concordando. Estamos
salvos, disse Li a Mao.
O povo não
notou nada. Tung até gostou daquilo. Fazia pose. Balançava a juba e fingia, só
por sacanagem, latir, mas só fazia enormes bocejos o que deixava Li com o
coração na boca. Numa tarde, uma mulher com seu filho chato se aproximaram da
jaula. Ela ensinava ao rebento os diferentes sons que os animais faziam.
A mulher
cacarejou, bufou, baliu, crocitou, miou e... rugiu. O menino repetia aquela
coisa horrorosa da mãe. Pior, ela fazia tudo isso em chinês. Tung não aguentava
mais aquilo. Será louca esta mulher? Por que ela não vai na jaula do bundão do
panda? Eu dava uma mordida nela se estivesse mais perto. A gota d’água foi
quando ela começou a provocá-lo que rugisse. De fato, ele, tomado sabe-se lá
por que espírito, do Tarzan talvez, pensou que falava com ele rugindo.
Infernizado, Tung - que a esta altura já
se sentia mais leão que cachorro - rugiu o mais alto que pôde, mas saiu um
latido uivado terrível.
A
mulher descobriu o que todo mundo via, mas não enxergava: o leão era um
cachorro. Foi um pandemônio no pequeno zoo. As pessoas quebraram móveis, se
amontoaram na bilheteria pedindo o dinheiro de volta. Mao e Li fugiram montados
num jumento que haviam pintado de zebra. Até agora não se sabe o seu paradeiro.
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