segunda-feira, 20 de maio de 2013

Há vagas


A Halls criou uma agência de empregos onde são disponibilizadas vagas de trabalho que oferecem “experiências incríveis” e outras não tão incríveis.
Fonte: UOL Notícias (17/05/2013)

O Brasil não vive exatamente a era do pleno emprego, mas um monte de gente não está trabalhando por razões bem conhecidas, segundo o IBGE – bem, há razões que o órgão se esqueceu de listar: falta de capacitação, pouca educação formal – as redações do Enem que o digam –, preguiça, falta de vontade, vagabundagem e porque tem gente que tem vocação para não fazer nada.
        Clarimundo, primo do meu amigo Aristogênio, outro homem de visão empreendedora, criou uma agência de empregos escalafobéticos. Diz ele que quer fazer a ponte entre as empresas que oferecem ocupações estranhas e uma cambada que não consegue se encaixar. Não por isso, senhoras e senhores da vadiagem nacional e internacional. Incluo os alienígenas porque nosso país acaba de publicar decreto que facilitará a entrada de estrangeiros para trabalhar.
        A safra de ofertas está curiosa e desafiadora. Caso você tenha interesse, listarei algumas oportunidades incríveis. Não precisa experiência, currículo, nem comprovação de nada. Clarimundo afirma que paga melhor que ao Gardelón. Por suposto, explicarei as vantagens e a função propriamente dita. Que ninguém espere ficar rico, não chega nem perto. Sei que este é o problema dos ociosos profissionais, eles querem ganhar muito sem fazer nada. Não vai rolar, pessoal...
        “Testador de tobogã”. Este me conquistou pelo inusitado. Fácil. Sobe no topo do Insano e só escorrega. É um poquito mais emocionante que aquele que o Luciano Hulk escorrega para vender o Itaú. Coisinha de nada assim. Se tem seguro? Não estou dizendo que este povo da ociosidade é folgado. Vamos chegar lá. Depois de descer umas quinhentas e oitenta e duas vezes terá direito.
        “Degustador de cerveja”. Esse tem até fila. Não tinha no testador de molho de pimenta. Já foi cortado por falta de candidatos. Mas, permitam-me esclarecer. Neste emprego não pode beber no trabalho. Se você ficar bêbado, perde o paladar e vai dizer que a cerveja tá com gosto de morango com caramelo. É um gole. Bochecha de um lado, do outro, gargareja, remexe, remexe, cospe. Anota. Sei, sei, é uma tentação. Este emprego não é recomendável para pinguços e afins.
        “Dog Walker”. Já imaginou? Você, todo pimpão, entrega o cartão e diz bem empostado: eu sou um dog walker. Não entendeu? Andador de cachorro, cadela, cão. Você pode se especializar em walkear com raças específicas. Fica bonito o nome: Yorkshire Terrier Dog Walker. Você vai matar sua mãe de orgulho. Difícil vai ser ela repetir a profissão do filho.
        Tem emprego para todo gosto. Você que é sofisticado e queria ser agente secreto da ABIN poderá ser “Cliente Oculto”. Ora, Cliente Oculto é um Cliente Oculto. Tenho que desenhar? Fica escondidinho num canto que vão te dizer. Oito horas por dia. Sim, tem hora do almoço, mas disfarçado de poste, lata de lixo, coisas assim. Outra profissão na mesma linha secreta. “Insighter”. Você deve espalhar marketing de guerrilha. Armado? Bom, esta parte me escapa, mas Clarimundo terá toda paciência de explicar. Exige-se duas horas de formação em coquetel molotov.
        Mas se você é uma destas pessoas que gosta de se envolver em causas em favor dos fracos e oprimidos – não, não é na cruz vermelha nem no médicos sem fronteiras – tem a função/profissão de “Vaga Humanitária”. Na Amazônia. Este emprego é múltiplo. Você pode guardar uma vaga na fila de haitianos que querem entrar no Brasil. Ocupar vaga de índio para tirar fotos com gringos ou para os gringos. Tem vaga humanitária de seringueiro, garimpeiro, bicho preguiça que, dizem, está quase em extinção. Ufa. Acabei. Escolhe aí, vai.

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