segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

A Rifa

Por R$ 5, um homem poderá selecionar, na noite do dia 31, uma entre dez prostitutas que fazem ponto nas ruas de João Pessoa (PB) para pernoitar em um motel --com tudo pago.

O pacote sexual -- que, na média, sairia por R$ 600, incluindo o motel-- foi a solução encontrada pela Apros-PB (Associação das Profissionais do Sexo da Paraíba) para se livrar de uma dívida de R$ 3.000 em aluguel, luz, telefone e água.

Fonte: Agência Folha

A reunião atrasou. A presidenta se demorou porque tentava ganhar tempo. A notícia que daria às associadas não era nada boa. Estavam prestes a serem despejadas do imóvel da associação. As contas de água e luz também estavam atrasadas, não estavam cortadas porque algumas sócias abnegadas se prontificavam para ficar de plantão e dar um jeitinho nos cortadores lá no sótão do velho casarão.

Enfim, era preciso começar e enfrentar a realidade. Cruzvaldina, a guerreira presidenta, declarou aberta aquela sessão. Muito bem, meninas, declaro aberta esta reunião. Temos coisas importantes a tratar. E falou sem meias palavras. A Aprostma está falida. Só para situar o leitor: Aprostma – Associação das Prostitutas do Maranhão.

Um silêncio invadiu o ambiente, até então em burburinho entrecortado de risadas escandalosas e palavrões. As meninas estavam estupefatas. Meninas, é modo de dizer. Se fosse só pela idade, algumas eram ainda jovens, mas as caras sambadas e a quilometragem no corpo davam a elas aspecto das mulheres do Botero com o Abaporu da Tarsila. De certo modo, isto explicava a falência da Aprostma, os fregueses foram arrodear outros produtos.

Era mais quem perguntava. O que vamos fazer? Como é que isso aconteceu? Ao que uma respondeu: te enxerga Graciosa, olha pra ti, tu tá faltando até os dentes. Primeiro, que não vendo os dentes. Segundo, - apertando as partes – tá tudo funcionando. E tu, cara de jacaré, que usa peruca porque ficou careca? Ao que esta última partiu para a primeira e logo havia um bolo de mulheres atracadas no chão. Cruzvaldina, coitada, desolada que estava, mandou Bastião, seu filho, um sujeito com estrutura de estivador, apartar as duas para que a reunião pudesse ser retomada.

O que é isso meninas? Por favor. Pelo menos uma vez, vamos nos comportar como damas. Já disse o que aconteceu. Quero idéias para sairmos do buraco. Uma disse.  Que tal fazermos strip pela internet? Vi dizer que por São Paulo o mulherio tá esbugalhando de ganhar dinheiro. Cruzvaldina, com olhar de enfado. Tá doida? Tu já olhou pra nós? Estamos todas meio barangadas, minha filha. Então a gente faz no rádio, o que importa é a fantasia, né não? Nem riram, porque a maioria nem sabia o que aquela uma estava falando. Pode ser, mas nosso negócio não pode esperar. Tem que ser coisa pra já.

Cruz, a gente podia rifar umas mulheres, disse uma carrapeta piriguete. Rifar mulher? Como assim? Vamos escolher as melhorzinhas, que devem ser voluntárias, e vender uma noitada num lugar bacana. Eita, bichinha, nem parece que tu veio daquele sembal, vote. Tá aprovada. Quem se oferece. A briga foi escolher cinco voluntárias, porque todo mundo queria participar.

O que vamos oferecer, além dos quinhentos anos de experiência? Simples, disse a assanhada da idéia, quem ganhar, leva uma de nós para um programa com tudo pago, ida e vinda no táxi do Mordomo que faz ponto aqui perto. Foi uma ovação. E ainda houve quem provocasse Cruzvaldina. Vixe, Cruz, esta aí acaba tomando o teu lugar na presidência.

Então está decidido. Acho que temos que botar um valor popular, tipo assim, arquibancada de time de terceira divisão, para vender muito. Vai ser a salvação de nossa associação. O “prêmio” tem que ser variado. O critério é esse. Bota loura, negra, alta, baixa, umas mais novas e uma coroa, tipo eu, para premiar os sortudos. E se mulher comprar? Perguntou uma sujeita. Menina, larga de perguntar besteira, nossa especialidade é homem, deixa estas marmotagens para este povo moderninho. Se mulher comprar e for sorteada mando o Bastião resolver a parada.

Este texto foi publicado na Coluna Eudes Alencar do Jornal Pequeno que sai aos domingos.

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