Um homem em
busca das oportunidades perdidas. Uma história de pequenas e incontáveis
tragédias. Um garoto perdido se torna um homem perdido em busca de um rumo,
pois nas desandanças ele encontra uma regra dura e inflexível: um homem faz o
que precisa ser feito. Construir uma família e cuidar dela é sua forma de se
tornar um homem digno, mas a pobreza, a falta de oportunidade, o sofrimento
pelo fracasso de grande esportista que poderia ter sido encontrou uma
explicação na raiva daqueles – os brancos – que, imaginado ou verdadeiro, o
impediram de conquistar seu lugar de fama e sucesso por direito.
As mentiras se
tornam uma forma de amenizar as dificuldades, elas o colocam na posição de
guerreiro que enfrenta a morte e a enxota. A esposa é quem lhe dá o equilíbrio,
nele precário.
Como todos
nós, ele reproduz na relação com o filho a relação que antes teve com o pai. E
a sua foi dura e violenta. Ele ama ao filho, mas o dever está acima do amor, pois
o cumprimento do dever é a única forma que ele sabe de ser esse homem que pede
respeito e um lugar numa sociedade excludente: um negro num EUA antes da
vitória dos Direitos Civis.
A esposa
compreensiva e dedicada (Viola Davis, ganhou o Oscar de atriz coadjuvante), o
filho nascido de uma aventura e que simula sua própria trajetória, o filho com
quem tem uma disputa inconsciente ainda que deseje que ele não viva o que
viveu, o amigo de muitos anos, isso é seu mundo. Ele será abalado.
A cerca que
esposa pede para ser consertada e que ele nunca termina, torna-se uma metáfora
que o amigo Bono explica como algo que as pessoas fazem para prender os que
estão próximos ou para deixar do lado de fora os forasteiros.
Ele deveria
terminar a cerca com o filho, mas nunca consegue fazê-lo. A cerca é a vida
interminável. É fadiga. É a promessa à espera para ser cumprida. É o sonho de
ter algo. Delimita um espaço seu.
Ela divide e
separa. Ela protege até certo ponto. Ela estabelece um dentro e um fora. Ela
precisa de reparos, às vezes. A cerca dá uma falsa sensação de segurança.
Enquanto
espera cada sexta-feira, para o fim de semana de descanso, ele sofre com a
segunda-feira e todos os dias para aguentar o pequeno ganho, a vida limitada. O
quintal e sua cerca por fazer é o lugar das longas conversas, das mentiras
grandiosas, das conversas sérias e do abandono bêbado enquanto entoa uma velha
canção que fala do blue (tristeza), mas que é um cachorro leal e valente. Seu
velho pai cantava, ele canta, um dia seu filho cantará, mas não mais na
derrota, mas por outra tristeza.
Talvez
tenhamos que ser resistentes e fazer o que precisa ser feito, mas diferente do
personagem de Denzel Washington, com espaço para o amor, para o riso, para a
leveza da alma. No final pode ser a única coisa que conta de verdade.
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