segunda-feira, 20 de março de 2017

Fences


Um homem em busca das oportunidades perdidas. Uma história de pequenas e incontáveis tragédias. Um garoto perdido se torna um homem perdido em busca de um rumo, pois nas desandanças ele encontra uma regra dura e inflexível: um homem faz o que precisa ser feito. Construir uma família e cuidar dela é sua forma de se tornar um homem digno, mas a pobreza, a falta de oportunidade, o sofrimento pelo fracasso de grande esportista que poderia ter sido encontrou uma explicação na raiva daqueles – os brancos – que, imaginado ou verdadeiro, o impediram de conquistar seu lugar de fama e sucesso por direito.
As mentiras se tornam uma forma de amenizar as dificuldades, elas o colocam na posição de guerreiro que enfrenta a morte e a enxota. A esposa é quem lhe dá o equilíbrio, nele precário.
Como todos nós, ele reproduz na relação com o filho a relação que antes teve com o pai. E a sua foi dura e violenta. Ele ama ao filho, mas o dever está acima do amor, pois o cumprimento do dever é a única forma que ele sabe de ser esse homem que pede respeito e um lugar numa sociedade excludente: um negro num EUA antes da vitória dos Direitos Civis.
A esposa compreensiva e dedicada (Viola Davis, ganhou o Oscar de atriz coadjuvante), o filho nascido de uma aventura e que simula sua própria trajetória, o filho com quem tem uma disputa inconsciente ainda que deseje que ele não viva o que viveu, o amigo de muitos anos, isso é seu mundo. Ele será abalado.
A cerca que esposa pede para ser consertada e que ele nunca termina, torna-se uma metáfora que o amigo Bono explica como algo que as pessoas fazem para prender os que estão próximos ou para deixar do lado de fora os forasteiros.
Ele deveria terminar a cerca com o filho, mas nunca consegue fazê-lo. A cerca é a vida interminável. É fadiga. É a promessa à espera para ser cumprida. É o sonho de ter algo. Delimita um espaço seu.   
Ela divide e separa. Ela protege até certo ponto. Ela estabelece um dentro e um fora. Ela precisa de reparos, às vezes. A cerca dá uma falsa sensação de segurança.
Enquanto espera cada sexta-feira, para o fim de semana de descanso, ele sofre com a segunda-feira e todos os dias para aguentar o pequeno ganho, a vida limitada. O quintal e sua cerca por fazer é o lugar das longas conversas, das mentiras grandiosas, das conversas sérias e do abandono bêbado enquanto entoa uma velha canção que fala do blue (tristeza), mas que é um cachorro leal e valente. Seu velho pai cantava, ele canta, um dia seu filho cantará, mas não mais na derrota, mas por outra tristeza.
Talvez tenhamos que ser resistentes e fazer o que precisa ser feito, mas diferente do personagem de Denzel Washington, com espaço para o amor, para o riso, para a leveza da alma. No final pode ser a única coisa que conta de verdade. 

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