Tenho certa
cisma com o Will Smith quando atua em papeis dramáticos. Ele esteve razoavelmente
bem em “Em busca da felicidade” e em “Um homem entre gigantes”. Então nos
primeiros quinze minutos de Beleza Oculta pensei que ele estacionaria numa
expressão monocórdica que emenda as sobrancelhas e acha que passa desolação,
tristeza e desamparo que era a tônica do personagem. O próprio filme parecia
buscar um caminho ente as cenas que pediam uma concatenação mais suave.
Mas foi só o
fatídico quarto de hora. Depois o filme embala e o próprio Howard (Smith) sai
do marasmo e quase atua de verdade. A história é intrigante. O personagem de
Smith tem uma perda pessoal devastadora. Esse luto não só se transforma em
depressão profunda, como o mecanismo de defesa usado pelo personagem é uma
negação em tal nível que ele aparentemente perde o contato com a realidade. Ele
se transforma numa dor ambulante enorme. Um zumbi, se preferirem.
A agência de
propaganda da qual é fundador e sócio majoritário está, por esta razão, à beira
do desastre. A saída é vendê-la, mas seus sócios-amigos – difícil arrumar sócio
que seja amigo – estão em busca de uma solução para que ele participe da única forma
possível de salvá-la: vender a empresa. Mas como fazê-lo entrar na realidade
para ser lógico e prático para tomar a decisão?
Aqui está a
coisa mais interessante desse filme. Em um discurso célebre na empresa, Howard
definiu quais eram os princípios fundamentais que moviam todas as ideias e
criatividade de suas campanhas: o amor, o tempo e a morte. Estas três dimensões
da vida se entrelaçam e definem a nossa existência e isso é tudo, não importa o
que somos ou o que tenhamos, defendia. Todos estamos submetidos, para o bem ou
para o mal, a estas três dimensões, assegurava.
Por pura
casualidade, seu grande amigo se depara com uma trupe de três atores que
ensaiam uma peça, mas não tem recursos para bancá-la. Ele promete dinheiro se estes
três corporificassem aquelas dimensões que foram, em dado momento, a filosofia
de vida de Howard. Talvez uma tentativa alucinada de trazê-lo para a lucidez.
A filha era o
amor de sua vida, ao lado da esposa. A morte não a poupou, mesmo que ele tenha
pedido a ela que não a levasse, portanto, não lhe dando tempo para crescer e se
tornar uma mulher. Angustiado, escreve cartas para estas entidades. Desdenha da
morte. Sente-se traído pelo amor. O tempo é um ladrão.
As cartas
serão o suporte para a atuação dos personagens que, no filme, conseguem enganar
Howard na tentativa de tirá-lo do abismo de autocomiseração e revolta em que
afundou. A ideia é muito interessante, mas não funcionou. Faltou química na
constelação de astros. Salva a ideia dos diálogos com a morte, o amor e o
tempo, mesmo que, em dado momento, a farsa dos amigos seja tratada para nós
espectadores como se os três atores fossem mesmo o disfarce perfeito daquelas entidades.
Apesar
de atores de peso, com atuações muito boas em outros filmes, este filme não
decola. Fica a questão de tratar do tema do luto, embora com tons excessivamente
carregados que escorrega para o emocionalismo. Não foi dessa vez, Will Smith.
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